Capítulo - 02

67 16 9
                                    

     Sob novo comando os costumes e leis foram alteradas no reino da Vera Cruz, evidentemente as normas atuais beneficiavam os nobres e obrigava os plebeus a trabalharem ainda mais que o de costume

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

     Sob novo comando os costumes e leis foram alteradas no reino da Vera Cruz, evidentemente as normas atuais beneficiavam os nobres e obrigava os plebeus a trabalharem ainda mais que o de costume. Com a coroa real sob a cabeça, João de Alcântara tomou posse do castelo e de toda a fortuna que pertencia ao irmão, tornando-se o novo soberano de Vera Cruz.

     A grande carga tributária cobrada pelo novo rei deixou a população ainda mais pobre, e para não passarem fome, os plebeus tinham que se sacrificar em busca de alimentos.

     Corajosa, o perigo da floresta não intimidava Isabel, uma jovem de cabelos negros que sorrateiramente caminhava entre arbustos, com seus olhos escuros mirava sua presa, armando o arco, ela disparou a flecha. Após o tiro certeiro veio a certeza, o jantar daquela noite seria ensopado de nambu, um pequeno pássaro de penas cinza e pés coloridos, retirando os carrapichos que grudaram em seu vestido surrado, ela pegou a ave e partiu para casa.

     O sol estava se pondo, momento no qual todos escondiam-se das bestas, vendo a escuridão tomar o céu, Isabel apressou os passos e logo chegou a sua choupana numa área afastada do centro de Vera Cruz. Assim que bateu a porta, uma velha senhora de cabelos brancos e baixa estatura surgiu, era Maria das Graças, sua querida madrinha que a criou como uma filha, expressando preocupação a velha iniciou o sermão:

     — Não tem medo do perigo, não é Isabel? — Olhando fixamente para a afilhada, Maria continuou. — Eu falei que bem antes do pôr do sol era para você estar em casa e olha que horas são? Já é de noite!

     — Sinto muito madrinha, hoje foi um dia terrível para caçar. — Isabel desculpou-se ao expressar remorso.

     — Eu disse se não conseguisse nada até o horário marcado para que viesse para casa mesmo que de mãos vazias. — Maria mantinha-se rígida ao expressar aflição. — Ouvi novos rumores de bestas na floresta, imagina como eu me senti com a sua demora?

     — Não irá se repetir.

     Com o final da bronca, Isabel foi limpar e preparar a ave. Sobre o fogareiro a panela com o ensopado exalava um cheiro delicioso. Após o jantar as lamparinas foram apagadas e a preparação para o dia seguinte veio com uma longa noite de sono.

     Bestas rondavam o reino na calada da madrugada em busca de alvos, um barulho despertou Maria, apavorada a velha acordou a afilhada e ambas estavam atentas a qualquer movimentação nos arredores da choupana. A porta foi subitamente destruída com um forte impacto, e a pele de Isabel arrepiou-se, sua madrinha apavorada soltou um grito que em seguida foi abafado pela mão de sua afilhada.

     Numa ação rápida, Isabel puxou a sua madrinha para debaixo da cama e a duas ficaram em silencio tentando se ocultar da besta. Pela brecha entre os lençóis viram as patas peludas e armadas de garras enormes, o medo fez as residentes lacrimejarem crendo no fim de suas vidas.

     Subitamente uma segunda besta de pelos marrons adentrou na choupana o que aumentou ainda mais o desespero de Isabel e de sua madrinha, quando o inacreditável ocorreu, a besta marrom agarrou a primeira e as duas entraram num combate feroz. Destruíam o interior da choupana e em meio a luta uma das paredes cederam, os monstros saíram pela brecha e continuaram a brigar no exterior, momentos de pânico, porem minutos depois ambas as criaturas haviam desaparecido.

     Com o raiar do sol, Isabel e sua madrinha saíram do esconderijo e passaram a arrumar tudo o que as bestas haviam destruído. Pelo meio dia, Isabel martelava taboas para tampar o estrago na parede, quando num cavalo marrom um guarda se aproximava, sua armadura marcava seus músculos, seus cabelos eram loiros e olhos castanhos claros, o homem desceu do cavalo, cumprimentou Isabel e em seguida questionou:

     — O que houve por aqui?

     — Fomos atacadas pelas bestas ontem à noite. — Isabel respondeu.

     — Você mora com quem aqui nesse fim de mundo?

     — Apenas minha madrinha e eu.

     O guarda olhava fixamente para Isabel, a cada martelada em que o cabelo dela esvoaçava o homem parecia ficar mais encantado. Admirado com a força da jovem, a curiosidade em conhece-la aflorava-se e a cada questionamento, o guarda estava mais próximo.

     — Eu me chamo Luiz Gastão, mas pode me chamar apenas de Gastão. — Vendo que não progrediu bem na conversa, prosseguiu questionando. — E você como se chama?

     — Isabel. — A resposta veio em um tom tímido.

     Pegando as taboas, Gastão tomou o martelo da mão de Isabel e começou a prestar o serviço de consertar a parede. Mesmo em meio a marteladas, o guarda ainda admirava Isabel pelo canto dos olhos, ao pregar a tabua que completou o serviço, Gastão ousadamente indagou:

     — Seria bom ter um homem por perto, não acha Isabel?

     A pergunta ficou no vácuo e vendo o incomodo que causou, Gastão afastou-se e montou no seu cavalo, após um breve aceno, as rédeas foram puxadas e o guarda partiu. Ainda vendo o cavalo no horizonte, Maria das Graças apareceu de surpresa.

     — O que aquele guarda queria?

     — Ele me ajudou com a parede. — Isabel respondeu ocultando as segundas intenções do guarda.

     — Difícil acreditar. — Maria justificou. — Pois, o período do rei João I tem sido terrível, os guardas tem esquecido totalmente dos plebeus e protegido apenas os nobres, essa atitude foi louvável em meio a tempos tão difíceis.

     O dia passou rápido e a choupana foi restaurada,porém com todo tempo gasto nessa atividade, Isabel não pôde sair para caçar,pois a noite estava chegando. Sem reservas de comida aquele foi um dia de fome,a barriga doía e o sentimento de incapacidade a consumia.

Feroz - A maldição da bestaOnde histórias criam vida. Descubra agora