Capítulo - 05

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     Dias de fome, o vazio no estomago não era tão doloroso quanto o da alma, Isabel sentia medo de sair e com isso faltava o alimento na mesa

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     Dias de fome, o vazio no estomago não era tão doloroso quanto o da alma, Isabel sentia medo de sair e com isso faltava o alimento na mesa. Maria das Graças estava responsável por manter o pão, porem uma senhora de idade não tinha forças o suficiente para caçar ou rondar em busca de alimentos e o pouco que conseguia fazer não supria as necessidades.

     Mesmo recebendo todo o carinho e amor da madrinha era difícil superar a dor, Isabel lutava em seu interior para vencer o trauma e deixar as marcas para trás. Enquanto a jovem vivia dias difíceis cabia a Maria das Graças lutar pela sobrevivência das duas.

     O ataque da besta a um comandante da guarda real deixou todos do reino amedrontados e a floresta passou a ser local proibido, sentido ódio das feras, Gastão estava na casa de cura se recuperando do dano sofrido. Com fraturas pelo corpo o guarda estava enraivecido, para vingar-se da fera que o machucou ele usou seu poder diplomático para iniciar uma caça as bestas.

     Uma grande frota vasculhava a floresta caçando bestas, mesmo diante da desvantagem, os guardas usavam estratégias para combater o poderoso inimigo. Espalhando armadinhas por toda a floresta, estavam dispostos a confrontar as feras a todo custo.

     O tempo passava e Maria das Graças tinha que lutar todos os dias para conseguir alimento, com a idade avançada seu corpo não aguentava mais e a exaustão a consumia. Fragilizada depois de tanto caminhar, a idosa chegou em sua choupana ofegante, suas mãos tremiam e seu corpo cambaleava, ao pegar a cabaça para tomar um gole de água, suas mãos não suportaram o peso e o objeto caiu, tombando em sequência, Maria desmaiou.

     O barulho despertou Isabel, ao que sabia não havia ninguém na choupana, averiguando do que se tratava, seus ouvidos se atentaram a qualquer outro som suspeito, não houve mais nada que chamasse sua atenção, mas diante da insegurança ela preferiu se certificar que estava tudo certo. Assim que olhou a cozinha o desespero a abateu, ver sua madrinha inconsciente despontou lagrimas de seus olhos.

     Em meio aos soluços, Isabel tentava acordar Maria, após minutos de desespero veio uma resposta, sua madrinha começou a tossir e lentamente abriu os olhos. Agradecida porque o pior não havia acontecido, Isabel orou aos céus.

     Com muito esforço e apoio da afilhada, Maria das Graças conseguiu deitar em sua cama, fragilizada pelo cansaço e fome sua situação se agravava aos poucos. Ainda nos devaneios do trauma, Isabel sentia-se forçada a enfrentar o medo e buscar qualquer coisa que pudesse ajudar sua madrinha.

     — Você não pode sair Isabel, logo vai anoitecer!

     — Eu sei madrinha, mas a senhora precisa... — Antes que Isabel argumentasse sua madrinha a interrompeu.

     — Não vai, as bestas estão a solta na floresta e a guarda proibiu todos de irem até lá.

     — Há dias não temos uma refeição decente, se a senhora dormir assim sua situação vai se agravar.

     — Eu vou ficar bem, amanhã será um novo dia.

     Acendendo o velho fogareiro e colocando água para ferver, Isabel preparava um chá de capim santo, erva que tem grande poder medicinal, não era a ação mais eficaz, mas perante a difícil situação era o que ela conseguia fazer no momento. Depois de servir a bebida, a lua despontou no céu e o temor que afligia o coração da jovem causava insônia.

     Antes do sol raiar, Isabel pegou seu arco e preparava suas flechas enquanto esperava sua madrinha acordar. Ao ver a velha senhora abrir os olhos, Isabel sentiu certa alegria, pois tinha certeza que ela iria se recuperar, no entanto ao mirar toda aquela preparação, Maria resmungou:

     — Não pode sai para caçar Isabel!

     — Não posso, mas é necessário, garanto que com um ensopado a senhora ficará mais forte e vai se recuperar mais rápido.

     — Mas filha, você tem estado estranha esses dias. — Olhando para o chão, Maria falou. — Parecia ter passado por algo horrível, mal falava comigo e não contou nada sobre o que te deixou assim.

     — Eu vou ficar bem. — Fingindo estar melhor, Isabel reforçou. — Eu sou forte!

     Com aquelas palavras ressoando nos ouvidos, Maria não interviu nos planos da afilhada, pois sabia que ela tinha o poder de superar tudo. Ao terminar de afiar suas flechas, Isabel arrumou-se, deu um beijo em sua madrinha e caminhou até a saída da choupana.

     Bastou o primeiro passo fora da sua proteção para que Isabel sentisse um calafrio, as imagens do abuso na floresta começaram a rondar pela sua mente, e a forma abrupta como findou, o olhar da besta estava gravado no seu olho. Paralisada pelo medo, ela teve que respirar fundo para conseguir dar o segundo passo.

     Nas primeiras horas do dia, a floresta não parecia movimentada como diziam, não havia sinais da guarda real o que trazia tranquilidade, pois qualquer infrator que fosse pego nas redondezas poderia sofrer severas punições.

     Caminhando pelas rotas que conhecia, Isabel escondia-se entre arbustos e esperava por um alvo, ao longe ouviu um ganido de dor, ela paralisou instantaneamente e com o corpo em calafrios virou-se vagarosamente. Seus olhos encheram-se com a imagem da besta presa numa armadilha, a arapuca capturou a pata da fera em seu enorme dentado, notando a presença da jovem, os olhares se cruzaram e Isabel reconheceu.  

Feroz - A maldição da bestaWhere stories live. Discover now