[TH] 'Those Who Are Gone pt. II

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ㅡ "Ele era um corcel de guerra, grande e orgulhoso, mais alto que qualquer outro cavalo. Seu senhor era um guerreiro impiedoso, famoso por sua força e habilidade; ele era cheio de raiva e ódio, um assassino cruel, mas o corcel confiava nele mais do que em qualquer outro humano. Juntos eles eram como uma força da natureza nos campos de batalha, os soldados que não eram sortudos o suficiente para conhecer a morte pelo fio da espada do guerreiro, a conheciam sendo esmagados pelas grandes patas musculosas do corcel. Ele era tão assassino quanto seu senhor, e não se importava, nasceu para fazer exatamente aquilo e o título de besta lhe caía bem. Um dia, uma flecha atravessou a coxa do seu senhor, que caiu de cima da sua sela e perdeu-se no estopim da luta. Mesmo sem um cavaleiro, o corcel continuou fazendo o que sabia fazer de melhor, e nenhum outro homem teve coragem de montá-lo, mas quando a batalha acabou, ele não sabia mais o que fazer." ㅡ A voz de Taehyung falhou, ele tentava recordar algumas outras exatas palavras do seu próprio conto, enquanto os dedos enluvados de Jimin trabalhavam em aplicar o descolorante nos seus cabelos. ㅡ "Seu senhor não veio procurá-lo. Ele estava ali, com o pelo escuro brilhando, encharcado pelo sangue de cem ou de mil homens, com seus cascos pegajosos em vermelho vivo. Alguns cavaleiros tentaram amarrar o corcel ou puxá-lo pela rédea curta, mas eles eram fracos demais para contê-lo. Quando se sentiu cercado e notou que seu senhor não estava ali, o corcel correu para longe, correu mais rápido do que se lembrava já ter corrido. Era uma sensação boa, quase tão boa quanto a de ser guiado para a guerra havia sido antes."

Taehyung se calou por alguns segundos, tentando imaginar como seria viver aquilo que havia colocado em palavras.

Estar livre de tudo.

Jimin tomou sua pausa como o fim do conto, arrancando-o do breve devaneio.

ㅡ Achei que você tinha me dito que isso não era sobre finais felizes ㅡ disse. ㅡ Parece final feliz pra mim.

Taehyung sorriu, franzindo um pouco o nariz para o cheiro pungente do descolorante.

ㅡ Ainda não acabou. ㅡ Riu baixinho, Jimin era um ótimo ouvinte, quase tão bom quanto Hyungsik era. ㅡ "Quando ele ficou com sede, parou perto de um córrego, bebeu e bebeu até cessar sua sede. E então notou um pequeno prado distante, ao sul, com pasto fresco, brilhando em ondas feitas pelo vento sob o sol da tarde. Foi para onde ele seguiu, comeu e descansou os músculos após a batalha, logo se deu conta de que poderia ficar ali para sempre. Sem ninguém para incomodá-lo."

ㅡ Com tanta coisa me incomodando esses dias... ㅡ comentou Jimin. ㅡ Nunca quis tanto ser um cavalo.

Taehyung riu disso também antes de prosseguir.

"Mas ele sentia falta do seu senhor, se perguntava o que teria acontecido com ele. Pensou que poderia estar morto, mas logo esqueceu a ideia. Seu senhor era um homem forte, grande e difícil de matar; sabia disso porque já havia tentado, como toda besta hora ou outra tenta fazer com o homem. Os dias se passaram rapidamente, e sozinho, o corcel não se importava com quase nada; embora sentisse falta de lutar, do cheiro de medo dos homens que atreviam cruzar seu caminho, do suor e do sangue. Em uma noite qualquer, quando a lua cheia tomava o topo do céu infestado de pontos brilhantes, uma companhia chegou. Era uma égua selvagem, sem arreio ou ferraduras, sua pelagem sarapintada era algo que ele nunca havia visto antes."

ㅡ Adorei, um romance entre cavalos ㅡ murmurou Jimin, quase terminando de mexer em seu cabelo.

Taehyung prosseguiu rapidamente.

ㅡ "O corcel não era um castrado, imediatamente se sentiu atraído, mas ela não chegaria perto dele. O achava um monstro. Ele cheirava a sangue e morte, havia ferro em seus cascos. A égua selvagem dividiu o prado com ele desde então, mas jamais o deixava se aproximar. De algum jeito, ela parecia saber que ele já havia matado e gostado daquilo, o corcel olhava para ela e não entendia como a mesma conseguia ser tão pura e intocada pela parte do mundo de onde ele veio. Quando uma chuva muito forte chegou e lavou o sangue de seu pelo, a égua selvagem finalmente se aproximou dele. Ela era rápida e esguia; mas o que tinha de beleza, havia de teimosia, algo que o grande corcel de guerra não estava muito acostumado. Luas e sóis passaram, e pela primeira vez em sua vida, o corcel já não sentia a necessidade de lutar e matar. Naquele prado havia paz e liberdade, duas coisas que nunca antes ele teve a chance de provar desde potrinho.

CHATTER | TAEKOOKWhere stories live. Discover now