CHATTER | TAEKOOK

[JK] 'Peephole pt. III

O apartamento estava parcialmente sombrio, iluminado apenas pelo brilho de um abajur na lateral da sala de estar, escuro demais para o gosto de Jungkook. Mas o dono catatônico parecia ficar mais manejável no escuro. Existem alguns sacrifícios que você faz em prol de um trabalho mais fácil. No momento, ele estava dormindo em seu quarto, o lugar mais seguro da casa. Jungkook já havia revistado tudo umas cinco vezes, retirando todas as pílulas, tesouras, lâminas e qualquer coisa que apresentasse qualquer sinal de utilidade para uma pessoa que procura machucar a si mesma. Não que ele já houvesse tentado, mas Jungkook queria ser um cara prevenido.

Com o notebook aberto em seu colo, lançando o brilho da tela em seu rosto, ele ainda estava monitorando todas as últimas movimentações bancárias que pudessem interessar os clientes de Namjoon, na maioria das vezes esse era seu trabalho.

Estava acontecendo algo grande entre os caras poderosos. Uma finança internacional com muita sujeira envolvida. Jungkook estava há muito tempo tentando descobrir se isso tinha alguma relação com o trabalho que ele estava fazendo agora. Normalmente, Jungkook não daria a mínima pra isso, mas o fato dele ter visto tudo mudava um pouco as coisas, além de que tinha Hoseok lhe enchendo o saco.

Ele se perguntava se tudo tinha acabado mesmo naquele tiroteio seguido pelo incêndio, e se iria acabar definitivamente quando ele entregasse o Kim para o pai dele.

Esperava que sim.

O primeiro grito veio abafado, cortando seus pensamentos e o fazendo questionar se não era apenas paranoia sua. Quando ele era mais novo, costumava ter pesadelos com o choro das crianças no lar infantil, mas o segundo grito foi mais alto e aterrorizado, lembrando a Jungkook que ele estava muito bem acordado.

Ele se levantou em um salto, deixando o computador de lado no sofá e correndo para o corredor. Chutou alguns móveis no caminho, xingando alto, estava tudo muito fácil para ser verdade.

Abriu a porta bruscamente, pronto para enfrentar qualquer coisa.

...menos um garoto chorando apavorado.

Dando sinal de estar vivo.

E definitivamente, não mais letárgico.

Os olhos dele se fixaram em Jungkook assim que as luzes no teto foram acesas. Estavam vermelhos, úmidos e inchados, com os arredores de pele escuros. Em pânico. Ele segurava as mãos junto do peito, como se alguém tivesse tentado arrancá-las dele, seu corpo tremia junto aos soluços.

Dessa vez, foi Jungkook que ficou estático, porque ele não fazia ideia do que fazer.

Mas sabia de uma coisa, o choro dele era muito alto e havia muitos vizinhos ao redor para deixar aquilo continuar.

ㅡ Ei, ‘tá tudo bem. ㅡ Tentou usar sua voz em um tom mais brando. Mas ela saiu brusca e irritada do mesmo jeito, não combinando com o objetivo de acalmar o garoto. Levantando a mão direita com a palma aberta, Jungkook tentou pensar em alguma porcaria melhor para dizer.

Um grunhido gutural saiu da boca do garoto na cama, e Jungkook fechou os olhos, irritado, e então uma voz rouca e quebrada o fez abrir os olhos novamente.

ㅡ Hyung-sik.

Jungkook não sabia quem era Hyungsik, mas o garoto parou de grunhir alto, o que era uma coisa boa. A única que ele não gostou foi que, ao falar isso, o garoto ㅡ Taehyung ㅡ, começou a engatinhar na cama em sua direção, e fez a coisa mais inesperada do mundo.

O abraçou pela cintura.

Não um abraço leve, na verdade ele sentiu o ar ser arrancado dele pelo movimento brusco. Então era isso, a mente do menino estava tão perturbada que ele estava o confundindo com alguém. Não era algo surpreendente afinal de contas, se Jungkook tivesse ficado preso em meio a um tiroteio, indefeso e quase ter sido queimado vivo depois, ele também teria ficado… Afetado.