CHATTER | TAEKOOK

[TH] 'Hostage pt. I

O Cara Tatuado o acordou muito mais cedo do que gostaria. Como aquele humor dele parecia três vezes mais azedo do que já estava acostumado, Taehyung resolveu que não queria comprar nenhuma discussão. As ordens foram claras, preparar uma mochila com algumas roupas e tudo que ele não quisesse deixar para trás. Quando Taehyung disse que era seu apartamento que ele não queria deixar para trás, tudo que o cara respondeu foi que, se ele conseguisse achar um jeito de enfiar o apartamento na mochila, isso não seria um problema.

Era por isso que agora, Taehyung estava sentado de pernas cruzadas no chão da sala, com os olhos cheios de lágrimas, enquanto tentava decidir quais fotos do álbum de fotografia ele iria levar. Estava sendo difícil olhar para os sorrisos de Hyungsik nas fotos, assim como estava sendo difícil olhar para si mesmo no papel pensando que aquele era o causador da morte dele. Talvez seja bom deixar a ferida aberta, Taehyung pensou, ao pegar mais uma foto e deixá-la em cima do seu livro favorito de poemas selecionados da Sylvia Plath. Um grunhido de choro escapou pela sua garganta, mas ele reprimiu com as costas da mão, ao mesmo tempo que os passos pesados de botas anunciaram o Cara Tatuado, recém saído do banho.

Taehyung não precisou nem mesmo olhar para trás para saber que o homem estava fazendo careta, provavelmente incomodado pelo choro.

ㅡ Ei, escuta aqui, você vai voltar 'pras suas coisas um dia. Só te mandei fazer isso porque foram ordens do seu pai ㅡ disse.

O tom dele foi quase reconfortante de tão condescendente, mas Taehyung sabia a verdade.

Nunca mais pisaria naquele apartamento na sua vida. No momento que entregassem sua vida nas mãos do seu pai, o homem iria enviá-lo para qualquer lugar bem longe, alegando que isso era para sua proteção. Dongkyon era como uma espécie de corrente e cadeado na sua existência, era realmente irônico que ele tenha sido o homem que ajudou a o colocar no mundo, quando tudo que ele fazia era querer prender Taehyung no seu lugar sujo, disfarçando isso em tentativas de mantê-lo a salvo. Dessa vez, pelo visto, Dongkyon tinha conseguido.

Taehyung tinha dezenove anos quando teve coragem de fugir dele pela primeira vez, dois anos depois do desaparecimento do seu irmão mais velho, e aquela foi uma batalha que ele precisou lutar se quisesse tentar viver uma vida real. Essa ainda era uma cicatriz recente em seu peito, uma que Hyungsik estava ajudando a curar. Uma coisa era certa, tudo que seu pai precisava era uma razão para tê-lo de volta, o ataque a boate era um motivo e tanto.

O Cara Tatuado não falou mais nada depois da tentativa vazia de fazê-lo parar de chorar, e pela primeira vez Taehyung não sentiu a necessidade de dizer qualquer coisa também.

Estava muito triste para isso.

Com um baque surdo, fechou o álbum de fotografias, não iria roubar mais das memórias que estavam ali, mesmo que nunca mais pudesse acessá-las. Claro, ele tinha algumas salvas nas redes sociais, mas o álbum era algo mais real. As três fotos teriam que servir, uma sua, uma de Hyungsik e uma com os dois juntos e abraçados. As guardou cuidadosamente dentro do livro, prometendo a si mesmo que nunca deixaria isso para trás. Quando se levantou, pronto para voltar para o quarto, deixou um suspiro sair, enxugando o rosto com as mangas da camisa. Não queria deitar e esperar as ordens para ir embora, com tudo organizado na mochila e já vestido para sair, ele apenas iria começar a chorar outra vez até o Cara Tatuado o arrastar para saírem naquela caminhonete monstruosa.

Ele precisava de distração. Bem, se seu celular não houvesse sido confiscado, isso seria fácil. Irritado, ele notou que seu próprio aparelho estava na mão do Cara Tatuado, ele passava o dedo pelo aparelho com destreza e mexia nele como se fosse seu.

Taehyung se sentou no sofá, o controle da televisão apareceu no seu campo de visão e ele não pensou duas vezes antes de ligá-la. Ela ainda estava no canal que Hyungsik gostava de assistir seus programas de culinária estúpidos, Taehyung notou isso com uma pontada no coração, sorrindo triste antes de mudar.