Capítulo 5 - Parte Três - A

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Mikey dormiu grande parte do tempo em que Gerard esteve lá. Mas ainda sim, ele estava feliz por ter conseguido chegar a tempo, feliz por ter conseguido dizer 'olá' e rastejado para a cama de seu irmão, desenhado para ele algumas casas em ruínas e unicórnios zumbis. Mikey perguntou sobre seu encontro com Frank em algum momento, também, sua voz rouca mas ainda ironicamente divertida.

"Não foi um encontro!" Gerard protestou e Mikey sorriu para ele com uma sobrancelha erguida, então Gerard teve que explicar, cada vez mais irritado, sobre como aquilo não tinha sido a porra de um encontro, era só uma caminhada, quem iria ter um encontro no bosque de qualquer jeito? E em algum momento durante seu discurso bem pensado, Mikey adormeceu. Típico. Gerard deixou os desenhos sob o travesseiro de Mikey e deixou uma das enfermeiras chutá-­lo para o corredor, onde ele piscou infeliz para as luzes fluorescentes e encarou a porta de Mikey. 

Quarto 402, Michael J. Way.

Havia uma pequena placa com uma caligrafia à mão e números que significavam que Mikey não iria para casa, não agora.

No carro durante a volta, acomodado para uma longa hora de viagem, sua mãe tentou começar uma conversa sobre a escola, mas sua mente estava obviamente em outras coisas, e Gerard não queria realmente falar sobre isso de qualquer forma. Ele apenas observou­-a em submissão e então cutucou o CD player, encarando seus pés e escutando Metallica até chegar em casa.

Foi apenas muito, muito mais tarde, deitado em sua cama após o jantar, apertando uma garrafa de bourboun contra seu peito e repetindo o confronto do almoço em sua cabeça, remoldando Ted e Isaac como lobisomens leprosos e a si mesmo como um padre fodão com uma arma sagrada fodidamente grande, que outro pensamento o atingiu.

Ele ainda não tinha resgatado sua bolsa da caçamba de lixo. Porra. E agora eram 1:48 da manhã e ele tinha passado a última hora bebendo e encaranto o teto imóvel. Ele realmente não estava no estado de, digamos, tipo, domar caçambas. Ou andar.

Porra, se ele tivesse pegado o número de Frank ele poderia ligar para ele, descobrir onde Frank estava e fazê-­lo ajudar.

 Mas é claro, ele provavelmente teria usado o telefone para dizer algo completamente idiota, então talvez fosse melhor assim. Mas ele teria que ir lá fora, na fria, escura e medonha cidade pequena. E ter Frank lá teria sido uma longa caminhada para fazer Gerard não odiar sua vida completamente.

Mas até mesmo sem Frank, ele teria que ir. Sua cópia da quinta edição de Doom Patrol estava naquela bolsa, junto com seus lápis e caderno de desenho — seu caderno de desenho que estava bom. Se ele esperasse muito mais, a bolsa e todo o seu conteúdo iriam se perder da humanidade debaixo de um monte de dejetos rançosos da lanchonete.

Ele finalmente conseguiu obrigar a si mesmo a levantar da cama e assim que ficou de pé, o quarto girou nebulosamente, todo Dadaísta e sem sentido. Ele agarrou­-se à cabeceira por um momento, esperando sua visão normalizar. Provavelmente ele não iria vomitar. A garrafa de Maker's Mark ainda estava apertada bem próximo, em sua mão esquerda. E ele pensou que, foda-­se, ele iria levá-­la junto. Conforto no álcool, certo?  

O vento estava soprando forte e ele conseguia ouvir a árvore-­zumbi arranhando freneticamente a janela — a bebida iria mantê-­lo aquecido, e a garrafa estava quase vazia de qualquer jeito. Ele poderia ser eficiente e terminar logo durante o caminho até a caçamba, jogá-­la fora quando terminasse. 

A casa estava daquele jeito de novo, fazendo barulhos horripilantes. Era ainda pior agora que o vento tinha se juntado, resmungando e grunhindo. "Casas antigas, acostume-­se, Gerard", sua mãe havia lhe dito de forma cansada quando ele reclamou, mas a casa parecia fodidamente desacomodável para ele. Cada tábua na escada protestava alto em diferentes tons de gemidos quando ele pisava nelas, o que era meio animador quando ele escorregava os últimos degraus.

Anatomy of a Fall (portuguese version)Where stories live. Discover now