Capítulo 13 - Parte Sete - A

608 61 21
                                    

Todos eles retiraram­-se para o lado de fora, para se amontoarem na mesa embaixo de um guarda-­sol-gigante. Tudo estava ensopado e úmido. Especialmente Gerard. Porém, estar do lado de fora foi inesperadamente bom. O vento havia diminuído e tinha apenas uma leve neblina de chuva ao redor deles, separando­os do resto da escola.

"Então", Worm disse, finalmente quebrando o silêncio. Gerard parou de olhar suas mãos nojentamente sujas de lama e olhou para cima. "Eu ouvi dizer que Ted quer te matar."

"E isso é novidade?" Gerard murmurou, encolhendo seus ombros.

"Bem, mais do que o usual", Worm disse. "Tipo, antes ele só queria te colocar em coma? Mas agora ele te quer morto."

Gerard respirou fundo, mas antes que ele pudesse explicar, Bob falou inesperadamente. "Ted deu em cima de Betty Ann na última terça durante uma festa, e agora Tanya está se oferecendo para qualquer um que ela ache que vá irritar ele, como uma vingança. Além do mais, ela acha que Gerard fica meio gostoso de lápis de olho." Bob deu um gole em sua Coca e folheou as páginas da edição de novembro da Rolling Stone. Gerard podia sentir um músculo pulando em seu olho. "Você é realmente uma merda em tentar passar despercebido, sabia disso, Gerard?"

"Como você pode saber disso?" Gerard balbuciou, agarrando a madeira da mesa como se ela pudesse voar para longe. "E ela não acha nada."

Bob deu de ombros. "Ouvi por aí. E ela acha sim. Ah, falando nisso, você já notou Ryan te seguindo? Porquê está ficando meio patético."

"O quê?! Quem?!" Oh Deus, tinha mais alguém tentando matá-­lo também? Mas não, Bob acenou a cabeça para a esquerda de Gerard, e quando Gerard virou seu pescoço e olhou para trás, ele estava olhando direto para os olhos do menino da bandana. Os olhos do garoto se arregalaram, ele corou imediatamente e desapareceu na multidão molhada de pessoas paradas do lado de fora da sala da banda. Se Gerard não conhecesse entidades fantasmas de verdade, ele iria suspeitar que algum trabalho sobrenatural estava envolvido naquela ação.

"Hm", ele disse, perplexo. "Aquele é Ryan? Ele estava- ele estava me seguindo o dia todo?"

"A semana toda", Patrick disse com gosto, o que... ótimo. Se Patrick tinha notado alguma coisa além de seus papéis musicais, então Ryan deve ter sido realmente muito óbvio com sua perseguição. Gerard olhou para trás de novo e viu Ryan correndo para trás de um dos tocadores de tuba, longos membros de espantalho e olhos grandes, como se Dali tivesse decidido desenhar uma Lisa Frank ao invés de elefantes, ou algo assim.

"Mas por quê?" Gerard perguntou, transtornado. "Por que caralhos Ryan está me seguindo?"

"Porque alguém tem uma quedinhaaa", Ray cantarolou, aparecendo do nada na chuva com uma bandeja massiva de comida, cuidadosamente protegida da chuva por mais ou menos dez mil pratos descartáveis. Gerard o fulminou com os olhos.

"Se você cantar aquela música do 'sentados em uma árvore'...", ele disse ameaçadoramente, arrepiado e miserável, "Eu acabo com você."

"Sabe... agora que eu pensei sobre isso, o desejo súbito Ryan Ross de usar lápis de olho até que faz sentido", Ray riu e os olhos de Bob se arregalaram em um bobo entendimento.

"A imitação é a forma mais sincera de adulação, certo?"

Como se a vida de Gerard não fosse difícil o suficiente, agora ele tinha Bob batendo os cílios dramaticamente para ele. Gerard fechou a cara e pegou a garrafa de Coca Zero da mão de Ray, espalhando algumas gotas pela mesa. Ele bebeu seu refrigerante soturnamente enquanto Bob e Worm rebaixavam Ray - aparentemente, Ray tinha algum tipo de super­-poder sobre as tias da lanchonete que o deixava pegar batata-­frita e pudim extras se ele oscilasse seu lábio inferior. Tanto faz.

Anatomy of a Fall (portuguese version)Where stories live. Discover now