Capítulo 21 - Parte Onze - A

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No momento que ele começou a se debater, Sikowski já havia o empurrado contra a parede e prendido seus pulsos. Gerard teve um segundo para pensar no quanto ele parecia com Ted, naquele momento, e então seu punho se conectou com a mandíbula de Gerard e tudo ficou claro e escuro ao mesmo tempo, com um ranger doentio.

Foi como ser pego pela correnteza no oceano, ser chacoalhado brevemente de volta para a consciência apenas para ser sugado de novo pelas ondas momentos depois, confusa, bruta e inevitavelmente. Ele estava semiconsciente quando foi jogado na caçamba de uma caminhonete, suas mãos estavam amarradas para trás, que porra? Sua cabeça doía, ele estava transtornado e não sabia onde estava. E o treinador estava inclinado sobre ele, a face retorcida em desgosto. Gerard abriu sua boca para gritar — ou melhor, berrar — mas Sikowski deveria ter socado Gerard de novo, talvez, porque houve outro choque e um clarão de dor e a inconsciência o arrastou de novo.

Então, de repente, ele estava sendo arrastado para fora da caminhonete, tropeçando, e estava ficando escuro. Ele não lembrava de nada da viagem, não tinha ideia de quanto tempo ele esteve fora. Mas o céu estava escuro, o que não era um bom presságio, ele pensou. Ele ainda levou um momento para perceber que não estava mais em Jersey, que aquilo não era Belleville. Seu cérebro estava rebobinando lentamente, jorrando aleatoriamente pensamentos fora de validade. Vermont. Aquilo era Vermont. Ele perdeu o teste de anatomia dos anfíbios em Biologia. Ray iria ficar chateado.

Sikowski não lhe deu muito tempo para se orientar, apenas o empurrou por uma trilha lamacenta e escorregadia. A maior parte do foco de Gerard estava em manter seus pés embaixo dele, mas ele notou que o treinador olhava por cima de seu ombro de tempo em tempo, como se estivesse sendo caçado. Ele começou a gritar para Gerard ir mais rápido, mas sua visão estava embaçada e ele não aguentava mais, ele tinha uma suspeita de que nem mesmo queria aguentar.

"Vai se foder", ele balbuciou, até chegou a pensar em correr, pensou em se perder entre as árvores e as folhas mortas, mas o treinador apenas gargalhou, feio e profundo, e lhe deu outra pancada forte na cabeça.

Suas mãos ainda estavam amarradas e quando ele caiu, ele não pôde se proteger; Gerard se espatifou na mistura de lama e folhas e sentiu as lágrimas queimando seus olhos. Merda, ele tinha que descobrir o que estava acontecendo. Algo horrível estava acontecendo, mas sua cabeça doía pra caralho e ele não conseguia pensar em nada. Essas matas não eram as de Frank. Ele sabia disso. Por que ele sabia disso, mas não o que estava acontecendo? Onde ele estava?

"Como você descobriu?" o técnico perguntou, e Gerard o fulminou com o olhar através de suas mechas enlameadas, tentando se debater sem mover muito sua cabeça. Porra, ele ia vomitar. Ele não iria responder a pergunta daquele babaca mesmo se ele soubesse. "Ted disse que você gosta de vadiar no bosque depois da escola, eu deveria saber— vocês, seus esquisitões de merda... vocês são todos iguais." Uma pausa enquanto Gerard começava a se sentir mais e mais nauseado. "Você o viu, não viu? Puta que pariu, eu sabia. Todos eles disseram que eu estava errado, mas eu sabia."

"Você o matou", Gerard disse fracamente, vomitando logo em seguida.

"Eca, que inferno", Sikowski disse, esperando Gerard terminar antes de puxá­-lo bruscamente. Aparentemente eles finalmente chegaram ao destino agora, alguma cabana rústica de caça no meio do nada, onde ninguém poderia achar seu corpo. Assim como Frank. Porra. Porra. "Eu não matei ele. Foi um acidente, puta merda. Eu nunca quis matar ninguém, e Iero não consegue calar a porra da boca sobre isso, que inferno!"

Gerard estava bastante certo de que tinha uma concussão. Uma cabeça machucada explicaria pelo menos o por quê de Sikowski estar tagarelando coisas sem sentido, Gerard pensou vagamente, e repuxou os nós de seus dedos apenas para ter certeza. O treinador o flagrou e franziu o cenho, arrastando-­o para dentro da cabana e batendo a porta com força.

Anatomy of a Fall (portuguese version)Onde histórias criam vida. Descubra agora