Capítulo 17 - Parte Nove - A

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  "Então", Gerard tossiu, brincando com seu bisturi nervosamente enquanto ele procuravapela sua coragem. Ray o fitou por cima de sua bandeja de sapo e pedaços de peixes. Eles eramsupostos a estar fazendo anatomia comparativa ou algo assim, mas os órgãos tinham ficado umpouco... misturados durante o processo de dissecação, e ele e Ray estavam basicamenteusando o peixe para costurar asas no sapo agora. "Então, hm... você se lembra daquele carasobre o qual que nós conversamos no almoço? O que desapareceu?"

  "Sim", Ray disse lentamente, abandonando seu monstruoso sapo-­salamandra-abominação-­com­brânquiasque ele estava construindo, fitando Gerard através de seus óculos.

  "Frank. Por quê?" Ray pareceu abruptamente preocupado. "Ah, Gerard, aqueles putosestão te perturbando de novo? Eu pensei que eles tinham se afastado."

"Hein?" Gerard perguntou, parando de cutucar o que deveria ser uma bexiga natatória comsua caneta. Ted ainda estava fazendo toda aquela cena de 'oh, um buraco em forma de Gerardno tecido da realidade' e Isaac tinha parado de encará­lo tão frequentemente, provavelmente porconta dos exames de meio-­termo que estavam chegando e ele não podia mais se dar ao luxo deperder tantas aulas. "Ah, não, eles ainda estão afastados, a maioria."

Na verdade, Noltes tinha começado a empurrar Gerard contra as paredes com seusombros massivos. Gerard não conseguia decidir se era porque ele tinha a memória de umpeixinho-­dourado, ou se ele tinha escolhido acreditar que Gerard não podia realizar nenhumamerda bizarra e sobrenatural nos territórios da escola. De um jeito ou de outro, aquilo não era umgrande problema.

Ray se mexeu como se estivesse prestes a colocar uma mão sobre o ombro de Gerard eGerard se afastou horrificado. Puxando suas mãos cobertas de peixe para longe e parecendoligeiramente envergonhado, Ray disse, "Nós não vamos deixá-­los sumir com você. Não sepreocupe, Gee." Ele parecia ridículo, com aqueles grandes olhos sérios e óculos enormes, ocabelo preso em duas maria­chiquinhas seguradas por pom­pons cor de rosa. E se eles nãoestivessem ambos segurando objetos pontiagudos e cobertos por coisas mortas, Gerard comcerteza teria abraçado ele.

  "Obrigado, cara", ele disse baixo, e então tentou se animar para outra tentativa daconversa­fantasma. "Mas, hã, isso não é... não é exatamente por isso que eu toquei no assunto.Eu só, hã. Bem. Lembra aquela merda que você disse sobre ver o fantasma de Frank?"

"Ah, aquilo", Ray disse, soando um pouco embaraçado. Ele voltou a cutucar a massa deentranhas. "Eu não vi exatamente o fantasma dele, cara. Foi só... cê sabe, fumaça. Frio. Foiestranho. Sei lá, talvez eu tenha imaginado aquilo."

"É isso que eu estou tentando dizer", Gerard disse em uma voz silenciosa, mordendo seuslábios. "Eu... você não imaginou. Eu tenho ido na floresta, e eu tô te dizendo, você não imaginou.Foi o Frank."

"Olha, não fala merda", Ray disse, e Gerard segurou suas mãos, ignorando as tossesfalsas e os sussurros de 'viado' da mesa de laboratório atrás deles. E ignorando também ochapinhar nojento de formol e coisas piores entre suas luvas de latex.

"Eu não estou!" Gerard disse, tentando soar o mais sério possível. "É verdade, e eu possoprovar, eu posso. Só... confia em mim. Eu não quis te contar antes porque eu pensei... bem issoparece loucura, não é? Mas eu tenho que voltar pra floresta essa tarde. Eu só... eu tenho que irlá. E eu pensei, bem. Já que vocês estão tão preocupados e me seguindo feito uma gangue do gueto aondequer que eu vá, você poderia vir comigo também. Se você quiser." Gerard se encolheu e tentousorrir esperançoso ao mesmo tempo, e provavelmente apenas terminou parecendo um demente.

Ray, obrigado Senhor, não empurrou Gerard. Ele o fitou consideravelmente, como setalvez ele estivesse prestes a ligar para os profissionais da saúde mental e presentear Gerardcom uma bela camisa de força.

Anatomy of a Fall (portuguese version)Onde histórias criam vida. Descubra agora