Capítulo 1 - Parte Um - A

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"O quê?" Gerard disse incrédulo, batendo as mãos na mesa da cozinha e gemendo frustrado. "Porra... o quê, sério?" 

Era muito cedo. O céu tinha o mais fraco traço de luz, sua mãe e irmão estavam de algum jeito vestidos e tomados banho e claramente já haviam tomado café. Não era justo, Gerard foi arrastado da cama, ainda em seus pijamas, e ainda não tinha tomado o seu primeiro copo de café. Ele não estava pronto para fazer o protesto racional e veemente que ele sentiu ser necessário contra o pedido de sua mãe. Mikey ergueu uma sobrancelha para ele e tomou outro gole de seu café. Sua mãe estava inclinada sobre a  pia da cozinha, esfregando suas têmporas.

"São apenas algumas quadras, Gerard. Não seja um cuzão, nós não temos tempo", ela disse, e olhou seu relógio outra vez. "Você pode andar algumas quadras, isso não vai te matar."

"Mas poderia", Gerard respondeu baixo, fitando a mesa emburrado. Ele podia sentir o cheiro do café, mas estava muito distante. Ele soltou um ruído de aflição

"Tudo bem, deixa eu colocar desse jeito. Você anda algumas quadras para a escola às oito da manhã ou você acorda duas horas mais cedo todo dia e espera na calçada até a escola abrir. Sua escolha."

Gerard fez um barulho insatisfeito em resposta e sua mãe assentiu, como se fosse alguma concordância final. Ele queria responder, mas sua mãe já estava dando de ombros, vestindo sua jaqueta e colocando um pouco de café em um copo térmico, perguntando se Mikey tinha pego tudo, seu iPod e sapatos e sua bolsa de viagem.

Mikey estava escondendo seu rosto atrás de sua caneca de café, mas Gerard tinha certeza que ele sorria debochadamente. Gerard fez uma carranca e o empurrou de forma amistosa, cambaleando sobre seus pés e marchando até a cafeteira. Gerard odiava o ensino médio pra caralho E a única coisa pior do que ensino médio em geral era começar o último ano em uma escola nova, quando as aulas já haviam começado há semanas... e então ter que andar até lá. Ele nem mesmo estava nessa cidade há um dia e já a odiava.

Eles chegaram em Glen Fell, Vermont, ao crepúsculo do dia anterior com o sol alaranjado afogando-se portrás das colinas e lançando grandes sombras finas na rua. A cidade ficava há quarenta e cinco minutos pela interestadual, por um labirinto de estradas de mão-dupla e eles tiveram que voltar pelo menos três vezes, sua mãe ficando cada vez mais irritada enquanto Gerard apontava para as linhas do Google Maps e oferecia ajuda.

O plano era mudar para a casa nova na manhã de sábado e ter todo o fim de semana para se acomodar. O plano falhou por um número enorme de razões, muitas principalmente porque sua mãe de alguma forma estava sob a ilusão de achar que Mikey e Gerard fariam qualquer coisa menos esperar até o último minuto para empacotar suas coisas e fazer as malas, para não falar sobre limpar seus quartos para os futuros inquilinos. Além da voz de um Mikey extremamente cansado e encabulado à meio caminho de Delaware, dizendo que ele talvez tenha deixado a torradeira em casa e Gerard descobrindo que eles tinham sorte de chegar na nova cidade ao domingo.

 O fato de que Glen Fell ficava muito além da trilha do mapa não tinha ajudado. Parecia que eles estavam dirigindo em círculos, a mesma vista de fazendas, ­floresta­, colinas, ­floresta passando feito uma tela especialmente melancólica. Não haviam muitos outros carros na estrada; eles tinham passado por uma minivan acinzentada guiada em outra direção, mas nada além disso. Gerard estava ficando cada vez mais convencido de que não existia Glen Fell e que a coisa toda era um brincadeira elaborada, mas então eles chegaram a uma estradinha ladeada por um rio e mais à frente estava a cidade.

Era pequena pra cacete, ainda menor do que ele esperava. Eles conseguiam vê­la por inteiro sobre a topo da colina, descansando no meio de uma área rural gigantesca, ladeada por árvores e contrastando uma escura extensão de floresta. Havia uma igreja branca — com campanário, sino e tudo —, uma rua principal nomeada Rua Principal, um armazém — uma porra de um armazém —, e obrigada Senhor, uma cafeteria. Tudo estava banhado pelas sombras do final da tarde e as pessoas nas calçadas viravam suas cabeças e observavam o carro passar. E então era isso. Aquela era a cidade. Gerard ainda conseguia ver o campanário e o sino da igreja do jardim de sua nova casa.

Anatomy of a Fall (portuguese version)Where stories live. Discover now