Capítulo 2 - Parte Um - B

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"Porra", ele disse pesarosamente para o bosque vazio, cutucando sua boca com suas unhas esfarrapadas e pintadas de preto. "Fumando meu próprio sangue."

"Bizarro" o bosque vazio respondeu.

Gerard pulou para trás, agitando seus braços no ar freneticamente, e então caiu sobre sua bunda em algum arbusto intensamente desamigável e cheio de espinhos. Ele soltou um vergonhoso som de choro, caindo sobre os galhos espinhosos.

"Puta merda!", o garoto parado atrás dele na trilha disse, soando alarmado e abismado. "Eu não tive a intenção de te assustar tanto, cara."

"Gnnaaaahh", Gerard resfolegou, tentando se levantar e falhando miseravelmente. "Que porra— qual é o seu— de onde caralhos você veio?!"

O furtivo cara aleatório o encarou enquanto Gerard o fulminava com os olhos, pálido, ou tentava. E então ele irrompeu em risadinhas de puro deleite — o que, tanto faz, não era engraçado, okay. A porcaria do arbusto estava possuído ou algo assim. Gerard esticou seus braços outra vez enquanto espinhos cutucavam seu ombro, então de repente, uma mão amigável estava em seu pulso, confidentemente retirando galhos e outras coisas emaranhadas nos cabelos de Gerard e o ajudando a se colocar de pé.

Gerard sacudiu as folhas mortas de seu cabelo e cuspiu um ramo de alguma planta, afastando-­se do arbusto apenas por precaução — aquela coisa podia decidir pular em cima dele outra vez. Porra, seu coração ainda batia onze bilhões de vezes por minuto.

"Então, hã... você tá bem, cara?" o garoto perguntou, balançando­se sobre seus calcanhares. "Ainda respirando? Eu sou Frank, a propósito. Esse é meu bosque."

"Seu bosque?" perguntou Gerard enquanto limpava desesperançosamente a mancha de lama em seus jeans. Oh, seu dia apenas ficava melhor. Pelo menos seu pulso estava normalizando lentamente. Provavelmente seu coração não iria explodir, mas chegou perto. Ele lançou um olhar acusador na direção de Frank.

Frank não pareceu notar muito, cutucando uma unha e encarando­a intensamente. Ele levantou o olhar para Gerard e olhou para baixo de novo imediatamente. "Quero dizer, hã, mais ou menos? Ele é meu agora, as pessoas tendem a não vir aqui. Mas você veio!", ele disse animado. "O que é incrível. Claramente, você é incrível."

Gerard ainda estava tirando espinhos, ramos e outras parafernálias aleatórias da floresta de seu cabelo — o que ele estava pensando? Vir pra a floresta! A natureza era puramente dentes vermelhos, garras e folhas — mas então ele olhou para cima novamente. Aquela... aquela não era a resposta que ele ganhava geralmente. E agora que ele não estava morrendo de falha cardíaca ou alguma morte prematura causada por uma árvore caindo em sua cabeça, ele estava finalmente notando que Frank era meio atrativo. Okay, totalmente atrativo.

Frank o observou, passando a língua por seu piercing labial. Ele era ainda mais pálido que Gerard — pálido como porcelana chinesa, quase luminoso. Tatuagens aparecendo por baixo dos furos em sua camisa e pelo interior de seus braços, e Gerard ansiou por seu sketchpad e tintas. Ele não conseguia acreditar que não viu aquele garoto na escola antes, Jesus.

"Porra", Gerard riu surpreso, sorrindo enquanto o corte em seu lábio abria ainda mais. "Eu pensei que todos nessa cidade usassem camisas pólo e brim, cara."

"Não esqueça a flanela", Frank disse erguendo as sobrancelhas e então riu. Alto e de forma infantil, jogando um braço ao redor dos ombros de Gerard e apertando­o. "Isso é tão foda! Ninguém legal vem aqui."

"Hã?" Gerard disse, arregalado os olhos. Ele queria beliscar a si mesmo, mas não, ele não podia porque suas mãos estavam presas em suas laterais por algum cara gostoso que apareceu do nada — que pensava que Gerard era legal — e estava abraçando ele. Ele sacudiu a cabeça levemente, tentando clarear os pensamentos. "Hã, o que?"

Anatomy of a Fall (portuguese version)Where stories live. Discover now