Capítulo 16 - Parte Oito - B

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Gerard tentou evitar que sua mãe visse seus hematomas, mas é claro que ela veio pisando duro até seu quarto depois que ele chegou em casa, claramente ansiosa para gritar com ele por perder a visita ao hospital. E então ela ficou horrificada, no modo Super Mãe preocupada, o que era pior do que levar esporro em qualquer dia.

Assim, logo que ele conseguiu convencê-­la a não ligar e gritar com o superintendente, o diretor e todas as outras pessoas no mundo inteiro, foi até legal. Ela lhe trouxe uma bolsa de gelo feita de ervilhas congeladas e uma toalha molhada, depois o serviu com uma tigela de seu sorvete favorito.

Mas ele odiava ver sua mãe chateada, então ele parou de choramingar depois de um tempo. Especialmente depois que ela começou a falar sobre trocá-­lo de escola, ou voltar para Belleville. Ele não podia sair de Glen Fell agora. Mesmo que a escola fosse cheia de sociopatas violentos e nazistas trajados de jaquetas de couro. Se mudar... não era uma opção, e não apenas porque ele não iria abandonar Mikey aqui.

A reação dela não foi ruim, não muito. Ele estava realmente chateado por ela ter sido hesitante e machucada quando lhe disse que ele poderia faltar escola no dia seguinte.

 "Você deveria descansar", ela disse na manhã seguinte, colocando o rosto pela porta.

 "Você parece um lixo. Você ao menos dormiu?"

"Apenas desconfortável pra caralho", Gerard disse rabugento, chutando uma pilha de roupas sujas e tentando escolher a menos enlameada. Ter um namorado que vive na floresta era um inferno para suas habilidades de vestir roupas vagamente limpas. Talvez amanhã devesse ser um dia de lavar roupa. "Eu tô todo dolorido. Fica difícil dormir."

"Bem, você devia ter tomado um Advil ou alguma coisa do tipo." Ela desapareceu para o andar de baixo e voltou um momento depois com um copo de água e uma mão cheia de remédios. "Aqui. Você poderia dar um tempo. Eu vou escrever uma declaração para a escola  okay? Volte para a cama, querido."

"Você é a melhor, Mãe", Gerard disse calorosamente, e ela lhe retribuiu com um sorriso meio triste e até se esticou para beijá-­lo na testa, como ela costumava fazer quando ele era pequeno e ficava gripado.

"Te vejo de noite. Tem Beefaroni e outras coisas no armário. Tente não beber todo o café."  

"Eu? Nunca!" Gerard retrucou um pouco culpado enquanto se esgueirava para de baixo das cobertas novamente, ela riu e fechou a porta. Gerard se aconchegou para dormir o dia todo,vadiar em sua cama vestindo seu pijama e assistir um programa horrível qualquer na TV por um tempinho. Ele teria que lidar com Frank mais tarde, pensar nas coisas que ele iria dizer e o que elas significavam, mas por agora ele iria apenas relaxar, cacete.

É claro, ele tinha acabado de adormecer quando as batidas chegaram. Começou como uma violação educada que Gerard mal podia ouvir, mas rapidamente cresceu para algo alto,batidas ritmadas. Malditos bateristas.

"Way! Não me faça atirar pedras na sua janela! Anda logo, seu arrombado, nós vamos nos atrasar!" Bob gritou, a voz quase não estava abafada, mesmo que ele estivesse do lado de fora e um andar abaixo. Porra. Gerard enrolou seu conforto ao seu redor e se arrastou pelas escadas, se sentindo rabugento e patético. Seu corpo protestava à cada passo que ele dava.

Ele abriu a porta com um rangir horrendo, encarando Bob miseravelmente.

"Não vou pra escola hoje. Foi mal, cara."

"O que aconteceu com a sua voz? Você tá doente ou algo assim?" Bob escancarou aporta, e então congelou, arregalando os olhos.

Gerard suspirou. Ele odiava isso. Odiava que ele tivesse que se sentir estranho e envergonhado, como se ele fosse uma vítima. Não era sua culpa que essa cidade produzisse bastardos cruéis e assustadores. Gerard era apenas azarado o suficiente para morar ali temporariamente.   

Anatomy of a Fall (portuguese version)Where stories live. Discover now