Capítulo 17.

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Emma  

     Um pouco antes das seis da manhã do dia seguinte, eu estava descendo as escadas na ponta dos pés em direção ao hospital, fazendo juz a minha fama de boa covarde. Os cabelos, ainda molhados do banho, ensopavam o meu moletom, porque não havia tempo de secá-los e correr o risco de encontrar com Benjamin. Embora devesse, também não passei nem sequer um corretivo nas olheiras profundas que decidiram estabelecer acampamento bem embaixo dos meus olhos. Elas estavam ali denunciando para quem quisesse saber que, mais uma vez, eu não havia pregado os olhos naquela madrugada.

     Minha cabeça não parou um segundo de remoer tudo o que tinha acontecido na noite anterior. Desde a chegada na casa de Jordan Smith até a hora que sentei na cadeira fria de ferro do restaurante. A verdade é que caíra mal no meu peito o reconhecimento de que, por alguns segundos, eu quis verdadeiramente saber as respostas para aquelas perguntas. Não deveria nem sequer me interessar, não é? Onde eu estava com a porcaria da minha cabeça, afinal? Eu havia me esquecido de que absolutamente nada que saísse de sua boca poderia apagar todos aqueles dias miseráveis? 

     Por sorte, bem naquele instante, Jessyca havia me ligado para saber onde eu estava e para contar que havia saído qualquer postagem sobre nós em um instagram de fofocas, fazendo a noite bizarra ter sido bem sucedida em seu objetivo principal. Isso deveria ter sido o suficiente para me fazer dormir tranquila como um bebê. Não aconteceu. 

Se eu sou a mulher da sua vida, então por que você fez aquilo comigo?

     A pergunta ficou rondando a minha cabeça como um pesadelo insistente e interminável. Então, antes que eu começasse a enlouquecer, resolvi fugir logo cedo para o hospital novamente. 

     E fiz isso na terça;

     Na quarta;

     E na quinta-feira.

     Evitei-o com uma maestria digna de aplausos. Voltando tarde e saindo cedo, pegando todos os plantões que os meus colegas de trabalho não queriam... Uma semana completamente abençoada em que não tive que sequer olhar pra ele ou ouvir a melodia de sua voz. 

     Na sexta-feira, Nate insistiu em me levar até a agência para que eu pudesse ver de perto o resultado da obra da agência. É certo que ele queria fazer com que eu me sentisse parte de uma das maiores conquistas de sua vida, mas também percebi que queria acertar a nossa sintonia que - não sei bem ao certo o porquê - não estava vibrando exatamente na mesma frequência nos últimos tempos. Não me orgulho, mas também o evitei deliberadamente a semana toda. Mais uma vez! Ora era a minha alimentação, ora era Benjamin... O fato é que eu sempre me sentia um pouco irritada, e ele, por sua vez, parecia sempre estar pisando em ovos para falar comigo. Era uma situação esquisita e desagradável, visto que sempre fomos muito próximos e parceiros.

     Entretanto, aceitei o convite. Pedindo que, depois da visita, me deixasse no hospital. 

     Em uma pontualidade cirúrgica, oito horas da manhã, ele estava em frente ao apartamento à minha espera. Sorri, inevitavelmente, ao avistá-lo me esperando em seu carro branco. Em algum nível, era reconfortante saber que Nathaniel era exatamente o mesmo de sempre; em meio a toda aquela grande confusão, era bom contar com a ideia de que Nate ainda era o Nate que dirigia um Honda Fit popular comprado de forma extremamente suada. 

     Sentei no banco do passageiro sendo recebida por um sorriso carinhoso, fazendo a culpa por ignorá-lo crescer em meu peito como um balão de festa infantil. Ele estava de óculos escuro e com o cabelo jogado no topete habitual, que só na aparência demonstrava certa displicência. 

Divorce [REESCRITA]Where stories live. Discover now