Capítulo 21.

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Emma

     Eu estava deitada de bruços, completamente aconchegada no edredom quentinho, rolando aleatoriamente vídeos de cãezinhos fofinhos no celular. Já passava das onze horas da manhã e os raios de sol lutavam bravamente para passar pela cortina espessa. Entretanto, se eu não precisava me levantar para ir ao hospital, que eu ficasse, portanto, deitada e escondida na penumbra pelo resto do dia, afogando-me na minha habitual piscina de autopiedade. 

     A raiva que eu havia sentido de Benjamin foi se desfazendo, e se transformando - aos poucos durante os dias seguintes - naquela massa acre de mágoa e tristeza de sempre. A última vez que eu o vi foi quando havia me deixado plantada na sala sozinha, irritada, destruída sem oferecer-me qualquer tipo de justificativa, deixando claro que de pouco valia os meus sentimentos.

     Quando a porta do quarto foi escancarada sem delicadeza, meu coração pulou em desespero pensando que poderia ser ele.

     Não era, entretanto. 

     Os saltos de Jessyca bateram ritmados pelo piso de madeira, seguindo até a janela, abrindo a cortina, liberando - por fim - os raios solares insistentes.

     — Levante essa bunda da cama agora mesmo. — Ordenou, dando um tapa em meu traseiro.

     Gemi em protesto, cobrindo a cabeça com o edredom, protegendo-me da claridade.

     — Não posso. Estou ocupada. — Grunhi, parecendo uma criança de oito anos.

     — Ocupada com o quê? Sentindo pena de si mesma? 

     Eu responderia que estava assistindo aos vídeos de cães fofinhos, mas aquilo também servia muito bem.

     Senti o movimento do colchão quando se sentou ao meu lado. Sutil como um passo de elefante, puxou o edredom da minha cabeça, obrigando-me a enfrentar a claridade.

     Pisquei diversas vezes só para constatar que a filha da mãe era linda. Provavelmente, era a mulher mais bonita que eu conhecia. Estava vestindo a porcaria de uma camiseta básica branca que em mim pareceria apenas um pijama velho. Seus cabelos loiros e perfeitamente ondulados caíam sobre seu peito como um lembrete de como os meus cabelos deveriam parecer como o de um espantalho.

     — Sim. Eu tirei o dia para me afogar em autodepreciação.

     — Isso não vai acontecer, Emma. — Repreendeu-me com o nariz arrebitado, acompanhado de um estalinho negativo de língua — Você me ligou pedindo ajuda para fazer a vida de Benjamin miserável, lembra?

     Claramente, eu havia ligado para ela no auge da minha raiva E, claramente, havia dito aquilo da boca pra fora. Por mais que Benjamin me magoasse, eu não seria capaz de infligir-lhe qualquer tipo de sofrimento de forma deliberada; não me trazia a menor satisfação seu sofrimento ou de quem quer que seja. 

     — Você sabe que não falei isso a sério, né?

     — Infelizmente, eu te conheço bem demais, Madre Teresa — Arqueou as sobrancelhas lindamente desenhadas de forma teatral — Você é incapaz de fazer mal a uma mosca. 

     — Sou a definição da perfeita idiota, pode falar, eu aguento.

     — Você tem o coração mais bonito que eu já vi nessa vida, Emma. Não coloque como se isso fosse um defeito, porque não é. Mas, sendo bastante franca, toda essa bondade parece se estender apenas aos outros, né? 

     — E o que isso quer dizer?

     — Olha o que está fazendo a si mesma — Gesticulou em minha direção com aquele olhar firme, capaz de colocar qualquer um no eixo. — Por que continua deixando que ele te arrebente dessa maneira?

Divorce [REESCRITA]Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora