Capítulo 02.

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Emma

     Num estágio profundo da minha consciência, eu podia sentir os fios do meu cabelo serem repuxados delicadamente entre alguns dedos repetidas vezes. Era um carinho mudo, desajeitado e absolutamente familiar e acolhedor. Típico afago que eu costumava receber do meu pai quando eu era ainda criança. Aquilo era um sonho? Eu poderia ser uma garotinha em casa recebendo um carinho singelo do pai? Oh sim, seria um sonho muito bom. Ser aquela menina feliz e inocente que teria a chance de fazer tantas escolhas diferentes... Bem, aquilo definitivamente não poderia ser um sonho porque, além de estar me questionando conscientemente sobre o fato, há tempos que eu não sonhava. Também não existia a mínima chance de eu estar vivendo um grande pesadelo, não é? Um que tivesse incluído a noite passada em apenas um dos capítulos de um sonho muito ruim?

     A primeira tentativa de abrir meus olhos não fora bem-sucedida porque minhas pálpebras estavam pesadas e grudentas. No mesmo instante, o carinho cessou e algumas vozes sussurraram algumas coisas que meu ouvido afetado pelo sono não conseguiu captar. Na segunda tentativa, minha órbita entrou em foco e encontrou o par de olhos azuis e apreensivos do meu irmão me encarando. Quando retrocedi o olhar, Danny também estava sentado na ponta da cama com o braço apoiado no edredom me analisando.

    Ok, aquilo era uma intervenção.

    Apenas mais uma entre tantas que eu eu já havia recebido nos últimos dias. Instantaneamente, uma sensação de fracasso chegou para se acumular com todos os outros sentimentos ruins presentes no meu peito. 

    Verdadeiramente estive dando o melhor de mim nas duas últimas semanas, tentando ser frígida, tentando lidar com a porcaria do meu sofrimento sozinha, sem ter que fazer disso tudo um grande evento na vida de ninguém, como fiz nos primeiros dias. Tentei tirar aquele peso injusto dos ombros das pessoas que eu amava: elas não eram responsáveis pela minha integridade física e emocional; eu não era uma criança estúpida e indefesa que necessitava de cuidados constantes, porque claramente não sabia lidar com a porcaria de um coração partido. 

   No entanto, olha onde estávamos novamente.

    Uma vontade voraz e infantil de chorar atingiu os meus pulmões. Logo as lágrimas tornaram, tão abundantes e impetuosas, pulando dos meus olhos. Chorei por ter voltado a preocupá-los e ao mesmo tempo sentir-me extremamente grata por tê-los por perto, fazendo de mim uma pessoa ridiculamente egoísta; chorei pela sensação assombrosa de que toda aquela tormenta sentimental nunca iria passar; chorei por medo de voltar a habitar aquele lugar horrível novamente. 

    Sentei-me na cama para retomar o fôlego e eles me encaravam assustados pela minha pequena explosão. Rapidamente, Nate se aproximou e me abraçou de lado, depositando um singelo beijo no topo da minha cabeça e Danny fez um carinho desajeitado na minha perna.

    - Emma , calma... - Nate me apertou um pouco mais contra si, exalando proteção e carinho.

    - É, pequena, está tudo bem... - Danny sussurrou incerto tentando me acalmar.

    Oh, definitivamente não estava. 

    Não adiantou e continuei a chorar, em uma tentativa irracional e desesperada de tentar tirar toda aquela angústia que ameaçava a instalar-se de uma vez por todas no meu peito mais uma vez.

    Aos poucos, o choro enfim cessou e minha respiração foi se normalizando. Nate pediu para que eu tomasse um banho e que depois conversaríamos com mais calma. Bem, eu sabia qual seria o tema da conversa e francamente não me agradava nem um pouco.

Divorce [REESCRITA]Where stories live. Discover now