Capítulo 37.

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Emma

    Sentei-me no chão do boxe e deixei que a água fervente do chuveiro caísse sobre as minhas costas por um longo tempo. Agarrei os joelhos como quem se agarra a uma boia para não morrer afogada.

    Nos últimos meses, eu havia conseguido compartimentar toda a mágoa, todo o sofrimento, toda a raiva em uma caixa de Pandora escondida no fundo da minha alma. Mas a potência do desejo, que me consumia da cabeça aos pés, arrebentou-a completamente. Desejá-lo me destruía. Completa e irrevogavelmente. 

    Se não tivesse armado para Adam; se tivesse se arrependido e tivesse aberto margem para resolvermos tudo com diálogo; se não tivesse tomado a decisão de ir àquele hotel naquela noite; se não tivesse dormido com aquela mulher... Eu não precisaria rasgar-me inteira para reprimir qualquer coisa que sentisse naquele momento.

    Um punhado de "ses" que deixavam o mundo ideal cristalizado apenas no plano das hipóteses. A realidade? Essa havia sido dura e definitiva. 

    Aquela noite - Meses atrás

    Quando as portas do hospital abriram, o primeiro pensamento que me atingiu foi: minha lombar estava me matando. O plantão de hoje poderia ser definido como uma longa e penosa batalha. E a que eu tinha em casa, embora fosse de diferente categoria, parecia manter as mesmas características. Eu precisava de uma refeição completa, de um banho quente e de uma noite de sono contínua. Do jeito que as coisas estavam em casa? Provavelmente, eu não teria nenhuma delas. 

    Eu estava tão cansada... Física, mental, psicologicamente. Adiantava de alguma coisa continuar berrando, exigindo respostas inúteis e justificativas vãs? E desistir? Faria de mim uma grande fracassada? 

    Suspirei, assistindo minha respiração virar fumaça no ar frio. Levantei o pescoço levemente em busca do carro preto que viria me buscar, mas não o encontrei. Continuei seguindo pelo estacionamento. E então a voz de Adam chamou-me baixa e firme. Fechei os olhos antes de virar para encará-lo. Tudo bem, eu merecia toda e qualquer acusação ácida que tivesse para me oferecer, mas eu estava tão cansada... 

    Virei para encará-lo com o mínimo de integridade que ainda me restava. Caminhou lentamente pelo estacionamento com as duas mãos escondidas no bolso frontal da calça jeans até parar à minha frente. Seus traços delicados e retos pareciam cansados e desconfortáveis. 

    Era realmente um homem bom. Não merecia mesmo qualquer tipo de maldade. E embora eu não tivesse envolvimento algum com aquela denúncia fraudulenta, eu era a causa. E, meu Deus do céu, a sensação de vergonha que me atingia ao constatar aquilo era terrificante.

    — Ei... — Cumprimentou-me sem jeito — Escuta só...

    Mordi os lábios, prendendo um choro infantil que implorava por sair. 

    Você é conivente, Emma. Completamente conivente com tudo de absurdo que esse desgraçado faz. O que isso diz sobre você, hum? O que isso diz sobre o seu caráter? Aquilo que somos está atrelado ao que fazemos e não ao que falamos. Então, eu te pergunto mais uma vez, o que estar casada com uma pessoa dessas diz sobre VOCÊ? 

    Eu apostava que era um pouco mais daquilo que ainda tinha para me falar. 

    Eu poderia lhe dizer que Benjamin tem suas questões, suas limitações, suas nuances... Mas depois de ter sido capaz de prejudicar a carreira de Adam apenas porque queria afastá-lo, não me parecia que justificativa alguma cabia para aquela situação. E sobre mim? Ele estava certo, é claro. Sobre tudo.

Divorce [REESCRITA]Where stories live. Discover now