Capítulo 12

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Emma

      A minha primeira noite dormindo oficialmente debaixo daquele teto havia sido horrível. Entre tentar apaziguar o meu ânimo, estrategicamente inflamado durante boa parte daquele dia bizarro; entre gerenciar aquela angústia que apertava o meu coração por ter me submetido àquela situação; entre tentar compreender o porquê Benjamin se comportava daquela maneira baixa e abusiva, meus olhos se fecharam poucas vezes. 

      Aquele primeiro dia havia servido como uma pequena amostra de como ele pretendia fazer os meus dias infernais pelos próximos meses, uma pequena amostra de como se comportaria até que eu lhe entregasse o que queria de uma vez de bandeja. 

      Toda aquela minha certeza em simplesmente resistir, em não entrar em sua pilha parecia ter recebido uma alta dose de dificuldade, quase como se eu tivesse avançado a uma fase mais complexa de um jogo terrível de videogame. 

      Suspirei fundo pela milésima vez naquela madrugada. 

      Era uma carga pesada a ser carregada, sem dúvidas, mas era minha, certo? Ontem à tarde, quando Jessyca veio me ver, por algum motivo, ela subiu até o quarto de hóspedes possessa, afirmando categoricamente que Benjamin era odioso. Tive que concordar com ela, é claro. No entanto, não entrei em detalhes do quanto ele estava disposto a ser odioso especialmente comigo. Tentei driblar a sua perspicácia para não dar-lhe mais motivos para se preocupar e para não querer criar qualquer plano mirabolante de retaliação contra ele. Mas que estava pesado, ah... estava! 

      Como ele era capaz de me encurralar para acompanhá-lo a um evento para tentar ajustar uma situação que ele mesmo havia criado propositalmente? Como conseguia ser irônico e cínico mesmo depois de ter destruído o nosso casamento, agindo como se o que tivesse me feito não fosse absolutamente nada? Como tinha coragem de me acusar daquela maneira em relação à minha alimentação se nem sonhava qual fora o inferno que eu visitara nos últimos meses? Como conseguia me manipular daquele jeito, sem um pingo de arrependimento, obrigando-me a fazer coisas que não eram de minha vontade? 

     Já não era o bastante?

     Senti meus olhos estúpidos marejaram. 

     Será que ele não era capaz de perceber que aquele comportamento me trazia sofrimento? E, francamente, se alguém em toda essa história não merecia mais sofrer, esse alguém era eu! 

      Olhei para o plano de fundo preto do meu celular, visto que eu havia retirado todas as minhas fotos dali em uma noite especialmente difícil há algumas semanas, e constatei que eram 5:36. Pareceu-me um horário aceitável para sair da cama e encarar logo de uma vez o dia. Troquei o moletom de dormir por outro, ainda maior, de corrida. E sim, aquele aparentemente era o único vestuário apropriado para a forma como eu me sentia naquele momento da minha vida. Calcei meus tênis e saí decidida a correr um pouco em busca de qualquer sensação que fizesse o meu organismo se acalmar um pouco, em busca de qualquer mísera sensação de alívio. 

      Passei pela cozinha, em busca de uma garrafa de água e assim que apertei o botão do elevador, aquela voz rouca e baixa, capaz de me causar os mais diversos arrepios, soou à minha lateral direita. 

     — Fugindo de mim, baby

      A presunção dele era inacreditável. Tudo bem que eu estava tentando fugir, de alguma maneira, de mim mesma, de todos aqueles sentimentos sufocantes causados por ele, mas falar aquilo em voz alta... 

      E que diabos ele estava fazendo acordado uma hora dessas, heim?

      Francamente... Ele estava decididamente disposto a me perseguir e me encurralar vinte e quatro horas por dia dentro daquele apartamento!

Divorce [REESCRITA]Where stories live. Discover now