Capítulo 29.

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Benjamin 

    Quando chegamos em casa, o clima pareceu mudar drasticamente. Toda a descontração e simpatia pareceram ter ficado restritas às paredes daquele hospital. Não sei ao certo se os resquícios da bebida haviam desaparecido em definitivo, se o cansaço havia lhe atingindo de uma vez, ou se estar em casa fazia com que a realidade fosse impossível de ser ignorada. 

    Ao sair do elevador, a sua postura corporal já era outra, anunciando veementemente: aqui, acabou a trégua e a ilusão; seus ombros estavam ligeiramente curvados e seus braços estavam entrelaçados em um claro sinal de distanciamento. 

    Adentramos ao hall em um silêncio pesado e desconfortável. Antes de seguir o caminho até a escada, estendeu a mão direita pedindo por seus pertences que estavam comigo - a bolsa e o par de sapatos. Na troca, nossas mãos se esbarraram leve e brevemente, e ela soltou um suspiro curto, como se estivesse esgotada de sentir aquela descarga elétrica. 

    Em algum momento, nós teremos que deixar queimar, baby.

    Voltou a ir em direção à escada, disposta a seguir o caminho até o andar superior. No entanto, algo a impediu, fazendo-a girar delicadamente nos calcanhares para voltar a me encarar. 

    Guardei minhas mãos nos bolsos frontais da calça jeans, tentando mantê-las controladas e afastadas da vontade absurda de me aproximar para colocar uma mecha de seu cabelo atrás da orelha direita. Os raios solares entravam pela enorme janela que havia atrás da escada, atingindo seu rosto exausto e a iluminando-a de tal forma como se fosse a porra de uma pintura perfeita. Quis, verdadeiramente, ser capaz de gravar em cada célula do meu corpo aquela imagem, para que eu pudesse revivê-la sempre que o mundo parecesse terrível o suficiente e eu precisasse rememorar o amor que eu sentia naquele momento. 

    Apertou levemente os olhos, defendendo-se da claridade, encarando-me com um olhar desconfiado.

    — Eu estou bem, Benjamin. Você não precisa ficar em cima de mim. Se eu sentir qualquer coisa, prometo avisar. 

    — Sem chances, Emma. — Sussurrei irredutível. — Eu disse que iria observá-la e é exatamente isso o que eu vou fazer. Ou você desce e fica aqui na sala pra que eu possa te verificar, ou vou ficar sentado naquela poltrona do quarto de hóspedes o dia inteiro. 

    Nem dei a opção de ir para o quarto principal, porque eu sabia que ela não iria querer de forma alguma.

    Respirou fundo, em uma profundidade que fez seus pequenos ombros descerem e subirem de forma quase que teatral. 

    Já havia me cedido demais, eu entendia a sua hesitação. Aceitar o meu cuidado poderia passar uma mensagem equivocada, como se estivesse dando-me algum tipo de liberdade que eu poderia reivindicar depois. Eu não iria, no entanto. 

    — Isso não significa nada, sabe? — Dei de ombros, tentando lhe mostrar a naturalidade da situação — Você bateu com a cabeça e precisa que alguém fique de olho em você. É apenas isso. 

    Seus olhos cansados me encararam por alguns segundos ainda cheios de desconfiança. Parecia travar uma batalha interna das grandes. Apertei os punhos dentro do bolso, mais uma vez, tentando manter-me afastado da vontade de acariciá-la e de tranquilizá-la. 

    — É apenas isso? — Perguntou um tanto vulnerável, precisando desesperadamente da minha confirmação.

    — É apenas isso. — Confirmei resoluto. 

    Não sei se encontrou algum tipo de lógica e verdade entre as minhas palavras, ou se apenas se deu por vencida, mas acenou positivamente com a cabeça antes me responder:

Divorce [REESCRITA]Where stories live. Discover now