Capítulo 04.

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Emma

      Depois do fim da ligação, joguei-me na cama e fiquei encarando o teto, tentando bravamente não deixar que toda aquela loucura me arrastasse para aquele lugar frio e sombrio onde estive há algum tempo; tentando não derramar o oceano de lágrimas que queria escapar pelos meus olhos. Pode parecer estúpido, mas engoli o choro simplesmente para que ele não saísse como vitorioso, embora não estivesse ali para presenciar toda a minha humilhação. 

      Fiquei ali, tentando engolir com certa bravura talvez por horas. 

      Conferi as horas na tela do celular, arrumando forças para me levantar ao constatar que eu precisava de um banho para ir trabalhar. Ir ao hospital era, sem dúvidas, o melhor antídoto para toda aquela confusão. Era a única forma que eu encontrara de escapar da realidade ao menos por algumas horas. Quando eu pisava na ala pediátrica daquele lugar, nada era mais importante. Eu não tinha mais uma vida conturbada ou problemas insolúveis, afinal, eu deixava de ser Emma Parker, a garota que sentia uma dor insuportável e que tinha que conviver com as peculiaridades de um marido louco, para ser Dra. Parker que era capaz de ajudar e a curar o outro.

      Quando estava prestes a sair de casa, enviei uma mensagem à Jessa avisando que eu estava a caminho, e a aguardava no restaurante para o almoço como havíamos combinado ontem. Passei a mão na minha bolsa e peguei um táxi que me levaria até Manhattan, sem tempo para ir de metrô. Por mais que eu tentasse pensar em outras mil coisas durante o caminho, Benjamin monopolizava completamente os meus pensamentos, fazendo meu estômago revirar de desgosto. Eu poderia vomitar a qualquer momento e tenho certeza de que o taxista também acreditava que sim pelos olhares desconfiados que me lançava. 

      Cheguei alguns minutos depois do horário combinado, mas, com certeza, não teria problemas porque Jessa tinha um hábito terrível de não cumprir horários. O restaurante ficava bem próximo ao hospital e normalmente ficava abarrotado de funcionários. Sentei-me a uma mesa ao fundo, escondida estrategicamente para que nenhum conhecido pudesse me encontrar. Tamborilei os dedos na mesa de madeira, tentando controlar meu nervosismo. Meu estômago fez um barulho, lembrando-me de que ele precisava ser alimentado e que eu não havia comida nada, mais uma vez.... Com tantas coisas para pensar, eu verdadeiramente me esquecia de que comer era necessário. A preocupação de Jessa, Danny e Nate não era tão infundada assim... Eles estavam em uma missão nada sútil em me manter vigiada e alimentada, embora acreditassem que eu não perceberia. Ontem, Danny havia me levado para almoçar e hoje, ao que tudo indicava, era o dia de Jessa.

      Consideravelmente atrasada, Jessyca entrou pelo restaurante como um furacão. Constatei com um quentinho de admiração no coração o quanto ela tinha uma capacidade quase sobre-humana em chamar a atenção para si mesma, não importasse como ou onde. Talvez fosse aquela forma de andar como se fosse a mulher mais elegante a pisar pelo mundo, completamente segura com aqueles cabelos loiros e longos que balançavam como se ela tivesse acabado de sair da capa de uma revista de moda. Era um fato: sua presença exalava uma energia diferente que, inevitavelmente, atraia os olhares de todos que estavam no ambiente. 

      - Sim, estou atrasada. - Admitiu calmamente sem um pingo de afobamento ou desconcerto que atingiria a qualquer um de nós meros mortais quando nos atrasamos. 

      Aquilo era o mais próximo de uma desculpa que ela era capaz de pedir. A quem não a conhecia poderia soar como uma arrogância pedante, mas eu sabia que era apenas uma forma de proteção bastante característica, como se precisasse sempre estar envolta naquela armadura de autoconfiança para que ninguém visse verdadeiramente o que escondia por baixo. 

Divorce [REESCRITA]Where stories live. Discover now