Capítulo 10.

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Benjamin

      Há pessoas que simplesmente nasceram para viver uma rotina, nasceram para ter uma vida preenchida sempre pelos mesmos hábitos. Pela maior parte da minha vida, eu havia detestado a mera ideia de viver dessa maneira, porque sempre me pareceu aterrorizante ter que manter uma regularidade em uma vida que havia sido fodidamente solitária. 

     É claro que, quando Emma entrou em cena, toda essa perspectiva havia mudado. Eu simplesmente amava a nossa rotina. Amava a forma como ela se enrolava por todo o meu corpo, aconchegando-se completamente em mim quando o seu despertador tocava e ela queria aproveitar um pouco da nossa conexão antes do dia, de fato, começar; amava quando ela chegava exausta do hospital, servia-se de uma taça de vinho e vinha como uma gatinha manhosa, colocando o pé sobre o meu colo, pedindo silenciosa e despretensiosamente uma massagem. Eu a amava, porque era uma rotina que significava segurança e paz, completamente diferente daquilo que eu conhecia até então. 

     No entanto, hoje em dia, aquele tipo de rotina aterrorizante passara a fazer parte da minha vida, aparentemente, de forma permanente: todas as madrugadas continuavam fodidas, os pesadelos continuavam constantes, a quantidade e a qualidade do sono continuavam péssimas e lá para as quatro da manhã eu sempre estava de pé. Esta era a minha nova rotina. 

     Adicione a ela o fato de Emma ter passado a primeira noite de volta em um maldito plantão e você já pode entender um pouco de como havia sido a porra da minha madrugada de hoje. 

     Apesar de tudo isso, eu estava satisfeito no fundo. O endereço oficial de Emma voltou a ser o mesmo que o meu – exatamente como eu havia previsto – e era isso o que importava no fim das contas. No momento em que a vi no meio da sala, o monstro que, aparentemente nasceu e passou a habitar o meu peito, pareceu sossegar momentaneamente.

     Ela estava onde sempre deveria ter estado. Na nossa casa. Instantaneamente, o ambiente, que até então não significava nada, passou a significar tudo. Passou a ter novamente o status de lar, porque voltou a ter a peça que tanto faltava. Parecia cansada, abatida e infeliz, é verdade. Mas eu me esforçaria para mudaria isso. Logo ela deixaria aquela casca vazia para trás e voltaria a ser a mulher viva e leve de sempre. Passaríamos por tudo aquilo, eu tinha certeza. 

     Por volta das sete, recebi uma mensagem, avisando-me de que Emma estava saindo do hospital. Pedi a Charlotte que servisse um café da manhã completo na sala de jantar. E sentei-me à mesa, esperando ansiosamente por poder colocar meus olhos sobre ela novamente. Aproveitei para checar alguns e-mails e para responder a mensagem, cheia de recomendações, de Nathaniel. 

     Algum tempo depois, ela passou pelo aposento, em direção à cozinha, um pouco cabisbaixa e distraída, não notando a minha presença.

     Eu, no entanto, a notei por inteira, como sempre o fazia. Quando Emma estava dentro do meu campo de visão, eu era incapaz de manter os meus olhos em outra coisa; o mundo passava a ser uma fotografia desfocada e ela era o único elemento nítido e de relevância. Era como se possuísse centenas de imãs que atraíssem o meu corpo, a minha mente e a minha atenção toda para si. 

     Permaneci calado e imóvel, por poucos segundos, esperando o meu corpo absorver todas as sensações que explodiam quando respirávamos o mesmo ar. Era doentia a forma como eu me sentia em relação a ela. Vestia o moletom horrível da Columbia University, dois números maiores do que realmente usava. Os cabelos estavam amarrados de qualquer jeito e o semblante estava terrivelmente pesado. 

Divorce [REESCRITA]Onde histórias criam vida. Descubra agora