Capítulo 27.

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Benjamin 

     Fiz o papel do melhor amigo que eu podia ser naquele momento. Tinha sido o suficiente? Provavelmente, não. Mas o levei para casa em segurança, enquanto ouvia toda uma ladainha rancorosa e desconexa sobre Jessyca durante o caminho inteiro. Murmurei algumas concordâncias inúteis e vazias apenas para que parecesse que eu me importava com o diálogo, embora eu não o fizesse. 

    Minha cabeça estava longe. Presa no único ponto que parecia ter alguma relevância: Emma esfregando a bunda no meu pau. O resto? Era, definitivamente, resto. 

     — Não é verdade? — Questionou, obrigando-me a participar ativamente daquela conversa absurda.

     — Céus, Nathaniel, você consegue se ouvir? Deixe Jessyca e toda a merda que a acompanha pra lá.

    — Ah — Soltou uma risadinha rabugenta — Não é como se eu não tentasse, com bastante empenho, inclusive. Parece que estou tentando fazer isso a porra do tempo inteiro!

     — Bom, então tente um pouco mais.

     O filho da mãe descontou toda a frustração na porra da porta do meu carro quando o motorista estacionou em frente ao seu prédio e ainda lançou-me um dedo do meio quando o xinguei pelo gesto.

     O silêncio que preencheu o carro com a sua saída foi bastante bem-vindo, embora não tenha durado, porque o meu celular começou a tocar. E antes mesmo de atendê-lo, um arrepio gelado subiu pela minha coluna como em uma espécie de presságio. 

      03h10 da madrugada, e uma voz fria e impessoal me alvejou sem piedade: contato de emergência; Emma; acidente de carro; hospital.

     Pânico.

     Um pânico absoluto e avassalador.

     Senhor, não tenho maiores informações. 

     Nada. Não fornecera nada além daquelas palavras cortantes. Não disse nada que pudesse aplacar o pavor que me engolfou ao ter o nome de Emma atrelada a porra de um acidente de carro. Encerrou a ligação, deixando um bando de reticências, um rombo no meu coração, e espaço suficiente para que minha mente voasse para os piores cenários. 

     Jack, o motorista, em uma sensibilidade de quem me conhecia há muito tempo, interrompeu o caminho para casa, estacionando em qualquer lugar, esperando por qualquer instrução da minha parte. Mas não fui capaz de fazê-lo imediatamente, porque fiquei afogado por algum tempo naquele estágio bem específico em que a angústia ganha tanta potência que consegue ultrapassar a barreira da emoção e vai para o nível físico, fazendo o meu peito queimar. Fiquei preso momentaneamente no corpo do garoto que já havia visto, vivido, experienciado um pavor semelhante.

     Meu deus do céu. 

     Se aquilo fosse um castigo, entraria, sem dúvidas, na categoria dos castigos mais sádicos de todos os tempos. Por motivos óbvios, tenho uma péssima relação com qualquer coisa que envolva carros e os possíveis danos que eles podem gerar. Preciso de um motorista sempre à minha disposição, porque sequer sou capaz de dirigir o meu próprio carro sem ter uma crise de ansiedade. E pensar em Emma naquele contexto? Caralho, era simplesmente o fim do mundo.

     Não sei ao certo como consegui fazer com que minha mente saísse daquela paralisia excruciante; não sei de onde reuni forças que fizeram com que eu conseguisse ditar para onde deveríamos ir. O fato é que o fiz, e chegamos até aquele hospital desconhecido no lado oposto da cidade rapidamente. 

     Debrucei-me no balcão de recepção da emergência, requerendo informações com uma petulância que, provavelmente, deve ter sido relevada porque a pessoa era capaz de perceber a minha agonia e o meu descontrole.

Divorce [REESCRITA]Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang