Capítulo 05.

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Emma

      Eu saíra do hospital noite passada por volta das dez da noite. Nate ofereceu para ir para casa comigo, mas eu não estava disposta a ouvir o que ele tinha para me falar sobre toda a estratégia imunda de Benjamin. Não sei se o infeliz já havia contado ou se Jessyca já havia compartilhado com ele e com Danny as últimas novidades, o fato é que ele já parecia saber. Pedi para ficar sozinha, apostando que seria capaz de ignorar tudo aquilo e ter um noite de sono profundo. Em um mundo ideal, teria acontecido. Na minha vida? Obviamente não. Passara a noite basicamente em claro, tentando digerir, compreender ou simplesmente aceitar tudo aquilo de uma vez. Seria mentira se eu dissesse que não chorei novamente. Vez ou outra, lá pelas duas da madrugada, chorei. 

      E parecendo um zumbi, na manhã seguinte eu já atravessava a recepção do hospital com um copo de café na mão pronta para encarar mais um dia de trabalho. Caminhei diretamente para o vestiário a fim de trocar de roupa e colocar o meu jaleco. Sorri por educação para algumas pessoas que estavam por ali se trocando também, mas não fui simpática a ponto de puxar qualquer assunto como normalmente o faria.  

      Antes de sair, no entanto, meu reflexo terrivelmente bagunçado no espelho, chamou minha atenção. Eu realmente parecia um retrato sobre miséria, pintado por um artista sem um pingo de talento. Ajeitei os cabelos em um rabo baixo, em um tentativa triste de domar meus cabelos armados, não porque me importava aquela altura do campeonato com a minha aparência, mas não queria passar uma impressão de desleixo aos meus superiores e, sobretudo, aos meus pacientes. Respirei fundo por alguns segundos, preparando-me para encarnar totalmente a médica que existia dentro de mim. Quando senti que estava pronta, saí em direção ao quinto andar, onde ficava a ala pediátrica.

      Assim que as portas do elevador se abriram para um corredor largo e colorido, deixei toda a minha bagagem emocional do lado de fora. Os bancos em estofados em cores vibrantes e os diversos desenhos pendurados na parede eram uma pequena forma de fazer daquele ambiente o mais agradável possível para os pequenos enfermos que ali ficavam internados. E para ser bastante sincera era o único lugar no mundo em que eu me sentia bem nos últimos tempos.  

      — Hei, Viola — Cumprimentei simpática a enfermeira sentada atrás do balcão da recepção.  

      — Não vá me dizer que você está de plantão novamente, Dona Emma  — Recriminou em tom de brincadeira. 

      Aparentemente, não era segredo para ninguém que eu estava trabalhando muito. 

      — Não, se tudo der certo, vou embora às oito hoje, prometo!  — Respondi-lhe de maneira educada  —  Posso dar uma olhada nos prontuários?

      Ela gentilmente ligou um tablet e o me entregou. Havia duas rondas por dia em que os médicos atendentes seguiam por cada um dos quartos com os residentes e nos faziam apresentar ou atualizar o caso para eles. Certamente, eu participaria da primeira ronda do dia e além de olhar os prontuários para me atualizar, gostava de passar pelos quartos para ouvir da boca do próprio paciente como estava se sentindo antes da ronda oficial.

      O primeiro quarto do corredor era o de Hanna, a minha doce paciente preferida, como ela mesma gostava de se autoproclamar. Era, de fato, uma adorável garotinha de nove anos que estava internada devido as complicações de um tratamento agressivo de quimioterapia. 

      — Com licença, posso entrar?  — Bati em sua porta, aguardando toda a receptividade que normalmente era destinada a mim. 

Divorce [REESCRITA]Where stories live. Discover now