Capítulo 19.

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Benjamin 


     Eu estava cuidando de Emma e ponto final.

     Afundei a bunda no sofá de couro italiano pela segunda vez naquela semana, completamente disposto a ignorar o que quer que fosse que ela tinha para me dizer. 

     Normalmente, eu tinha consulta apenas uma vez, mas havia sido uma semana emocionalmente atípica e lá estava eu, encarando a velha mercenária que, supostamente, deveria dar um jeito na minha cabeça fodida. 

     Eu podia apostar que estava me censurando por ter conseguido que Emma fosse afastada, por poucos dias, do hospital. A consulta extra, com certeza, estava relacionada a isso. Embora eu já tivesse me explicado, já tivesse exposto todo meu raciocínio, eu sabia que ela - assim como todo o resto - estava me julgando. Por sorte, eu estive acostumado, por uma vida inteira, a viver sob constantes recriminações, censuras e acusações, então foda-se. 

     Eu estava cuidando de Emma e ponto final. 

     Estou frequentando aquele local há pouco tempo, mas poderia descrevê-lo de olhos fechados com uma precisão incrível, porque havia dedicado bons minutos em estudá-lo atentamente. De forma geral, era composto por móveis minimalistas em mogno, com exceção do sofá no qual eu sempre sentava e a poltrona na qual ela sempre sentava à minha frente. Estes eram forrados em couro preto. As paredes eram preenchidas completamente por estantes cheias de livros. Nada de quadros nem de fotografias. Nada que me denunciasse um fiapo de vulnerabilidade da Dra. Ted, nada que me permitisse usar contra ela nos momentos em que insistia em me irritar.

     Eu a detestava. Excluindo a relação absolutamente desigual com o meu pai, aquele era o primeiro vínculo em que eu me sentia em completa desvantagem. Detestava-a por sempre parecer estar um passo à minha frente, mas a detestava sobretudo por saber todos os podres da minha vida enquanto eu vivia na ignorância em relação aos dela. Entretanto, aquilo parecia ser o procedimento padrão para paciente e analista, ainda que me parecesse completamente absurdo. 

     Eu questionava os seus métodos estúpidos o tempo inteiro. Eu pagava uma quantidade obscena de dólares por cada uma daquelas sessões e, desde que eu havia começado a consultá-la, a idiota só se interessava em falar da porra da minha infância. E ainda assim, semana a semana, eu continuava indo até ali, porque precisava — de um jeito desesperado — que ela me consertasse.

     Ela sabia de Emma. Mesmo que o foco do seu interesse estivesse em outra parte da minha vida, eu havia falado de Emma. Eu havia falado de Emma por inteira. Da forma como ela havia me salvado na adolescência, da forma alucinada que eu havia me apaixonada por ela, da forma que me senti o ser humano mais sortudo quando ela se casou comigo, da forma que eu me senti quando começamos a brigar, do motivo da traição e de todas as estratégias imundas que eu havia utilizado para trazê-la para casa. Mas de alguma forma, aquela não parecia ser a parte mais interessante da minha vida para a infeliz. 

     — Como você está, Benjamin? — Perguntou em sua voz imperturbável.

     Era uma pergunta estúpida. 

     Encarava-me com aqueles olhos acinzentados que eu também detestava. Seus óculos redondos sempre pareciam escorregar e estacionar na ponta do seu nariz, dando-me a impressão de que me julgava o tempo todo. 

     — Como você acha? — Rosnei impaciente.

     — Irritado? Ansioso?

     — Cansado, irritado, ansioso, angustiado... O combo de sempre. 

Divorce [REESCRITA]Where stories live. Discover now