Capítulo VIII

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As chuvas constantes deram lugar ao calor e ao brilho discreto do sol. Nada contra, aliás, no meu Estado no Brasil é só o que acontece, o sol parece estar mais perto de nós do que de qualquer outro lugar do mundo. Mas voltando para a minha atual realidade, é sexta-feira, e antes de sermos liberados, a professora Constancy decidiu nos entregar os boletins adiantados.
Respira fundo e vamos em frente.

Como eu disse, sempre que acho que irei tirar nota boa, vem a facada nos olhos. Uma média medíocre de sete pontos em cálculo I e II, nove em filosofia e sete em inglês e alemão. Não sei por que ainda estudo!

Enfim, seguindo em direção ao refeitório para afogar as minhas lamentações em um bom prato de macarrão, chego tarde demais. Ele já havia fechado.
Suspirando fundo, e agora com fome, sigo voltando para o prédio do dormitório das meninas. Vamos dormir que a fome passa, me repito algumas vezes.
Saindo do internato, vejo a miss beleza entrando no carro vermelho do garoto do hospício. Eles parecem estar em um relacionamento, o que não é da minha conta, mas, já que estou aqui vou comentar. Fingindo indiferença, sigo o meu caminho com as minhas mãos sobre a minha barriga que roncava tão alto quanto um leão rugindo.
Cadê as barraquinhas de sorvete ou de crepe quando precisamos Senhor?!  Fome dói.

Chegando no meu quarto, me jogo sobre a cama fraca demais para se quer pensar em tomar banho. Ligando o piloto automático, adormeço ouvindo o meu celular vibrar dentro da mochila jogada no chão.
...

— Você está bem? — Pergunta Patrícia, assim que eu acordo com o som do seu maldito secador de cabelo. — Já são mais de três horas da tarde. — O QUÊ?!

— MEU DEUS, O ENSAIO! — Caio de joelhos sobre o chão frio do quarto e abro a minha bolsa as pressas e visualizo as mensagens que recebi ontem e hoje. Nada dos meninos. Droga! 

Sigo correndo em direção ao banheiro e sem lavar o cabelo, saio rápido o suficiente para deslizar e quase ir de rosto no chão se não fosse a parede da frente. Ufa!
Pegando a primeira calça jeans escura na minha frente e a primeira arregata cinza que me aparece, sigo correndo com a bolsa nas costas em direção a sala de música do primeiro andar.

O desespero desaparece por completo quando vejo Joe sentado em frente ao teclado, tocando algumas notas. Ufa! Sou o The flash quando quero.

Eu entendo a história por trás dele preferir a bateria, mas, a sua beleza misteriosa combina bem mais com a delicadeza de um piano. Vamos concordar: esse cara é muito lindo!

— Boa tarde. — Digo sem fôlego, entrando sem bater na porta. — E o nosso líder? Imagino que esteja irritado com o meu atraso. — Sigo em direção ao meu contra baixo.

— Ele não vem e por alguns instantes, achei que você também não viria. — Como assim? Hoje é o último ensaio. Líder é uma ova!

— Acho que o poder subiu na cabeça dele. — Comento depositando em meu ombro a alça do instrumento pesado.

— Posso lhe perguntar uma coisa ? — Toca a nota Ré. Imagino que queira saber sobre a Amanda.

— Vá em frente. — Ligo a caixa de som para afinar o meu bebê.

— Como você consegue?

— Como? — Pergunto confusa incomodada com o som desafinado da corda Mi.

— Manter o ritmo entre a escola e a sua vida pessoal sem deixar as coisas saírem do controle. — Parece pensativo. Querido, você não sabe nem da metade!

— Não consigo. — O respondo abaixando o volume do instrumento. — Por exemplo, ontem, quando recebi o meu boletim e vi que as minhas espectativas foram todas frustradas, pareceu que todas as minhas forças foram drenadas e a única coisa em que eu conseguia pensar era em dormir. — Ele me encara observador. — Eu sinto falta dos meus pais e irmãos, sinto falta dos animais da fazenda e mais falta ainda da comida que a minha mãe fazia quando eu me sentia um lixo como ontem. — Olho em direção a janela, observando uma pequena nuvem sendo arrastada pelo vento.

O Nascimento De Um Erro FrancêsOnde as histórias ganham vida. Descobre agora