Capítulo I

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2003, No passado:

Sabe quando o universo dá pane e decide beneficiar um ser humano sem nem um pingo de sorte?! Alguns ganham na loteria, outros, são curados do câncer. Já eu? Bem, eu ganhei uma bolsa de cem por cento em uma escola internato na Inglaterra, para cursar todo o ensino médio. Eu sei. Só sendo um bug mesmo!

Foi um choque para os meus pais, que no início hesitaram um pouco, mas, após perceber que era uma oportunidade única na vida, decidiram aceitar. Claro que minhas irmãs, tios e avós tiveram grande parte na influência em todo esse chato e longo processo de aceitação.

O que era uma tremenda idiotice, já que, uma bolsa dessas é estatisticamente impossível de se conseguir. Mas enfim, tudo acabou bem. E o que fiz para entrar nessa escola dos sonhos? Bem, para ser sincera não foi muito fácil. Foram anos de dedicação total aos estudos, sendo uma aluna exemplar, a nerd da turma desde o primeiro ano do fundamental, líder de turma e de todos os clubes da escola desde, bem, sempre.

E assim que cheguei a minha sétima série, surgiu a oportunidade de fazer uma prova para uma bolsa de cem por cento em tempo integral (sim, eu passava o dia e o começo da noite na escola) para estudar na melhor escola do Estado. E lá estava eu, fazendo a prova que abriria outras portas e mais outras portas para o meu futuro, e ficando em décimo quinto lugar, consegui uma vaga dentro das vinte oferecidas.

Nessa, estudei por dois anos, quando no meu último ano do fundamental, a minha santa professora preferida me inscreveu sem meu consentimento ( e quem precisa disso ?!) para participar de um intercâmbio que nossa escola oferecia a cada três anos, que, por sinal, era pouco provável alguém ser selecionado devido a dificuldade que é todo o processo, sem contar a prova que é em si o maior problema, já que, o nível era altíssimo, questões que nunca vi na minha vida estavam lá. Por sorte, fui selecionada deixando-a mais feliz e orgulhosa. Claro, tive que me habituar ao inglês às pressas, mas, já sabia de muita coisa, então, foi simples, fazer a prova de proficiência linguística. E antes que se iniciasse mais um semestre letivo, uma semana antes para ser exata, estava de malas prontas na companhia dos meus pais, no aeroporto indo em direção ao meu novo sonho.

— Tem certeza de que não precisa de mais nada ? — Minha mãe pergunta novamente. — Querida, você vai para tão longe! —  Diz olhando para as pessoas que passavam, refletindo se essa era a melhor decisão que podia ter tomado. Mais uma vez.

Suspiro de novo, bebendo da minha água com gás horrível que havia comprado por mais de cinco reais. Isso me fez refletir. Ainda não saí de casa e já estava fazendo besteira... Sei não em... Mas, não há tempo para arrependimentos. Balanço a minha cabeça afastando tais pensamentos.

— Mãe por favor, já falamos sobre isso. É só para estudar, será uma oportunidade que jamais aparecerá novamente, não quero desperdiçar, entenda. — A Respondo olhando-a lacrimejar. Não é fácil porém, é preciso.

— Ela tem razão. — Meu pai diz levando uma das suas mãos para tocar em seu ombro. — E depois, podemos visitá-la a qualquer momento...

E assim que entramos no avião, com um frio crescente na barriga, olho pela janela observando o infinito do céu que rapidamente nos cercou de perto. Nostalgicamente penso sobre os meus pais, minha família e o quanto eles eram importantes para mim. Olhar através da pequena janela, me trouxe um sentimento indescritível...

Sou a terceira filha de um casal de pequenos fazendeiros brasileiros, para ser mais exata, somos três irmãs. A mais velha de vinte anos, casou-se assim que terminou o ensino médio com dezoito anos e logo se tornou mãe e por essa razão nunca investiu em seus estudos, indo trabalhar em empresas terceirizadas, para ajudar o seu marido nas despesas da casa. Nosso pai nunca disse, mas, sei que ela era a sua maior decepção. Já a minha irmã do meio ao terminar o primeiro ano do ensino médio, também casou-se com o seu melhor amigo de infância, mas, diferente da nossa irmã mais velha, continuou seus estudos e atualmente planejam fazer faculdade juntos, a única preocupação da minha mãe é que, eles ainda moram com os pais do seu marido. Eu sei. Não. Não sei de nada!

O Nascimento De Um Erro FrancêsOnde histórias criam vida. Descubra agora