Capítulo II

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O que dizer do meu primeiro dia de aula? Para ilustrar melhor, imaginem um coelho de cor marrom, felpudo e de olhos negros, chegando em um lugar em que somente há coelhos brancos de olhos vermelhos vívidos. O quão deslocado ele não se sentiria... Piora tudo quando esse coelhinho chega atrasado na sua primeira aula do dia.

Sim, esse coelho sortudo sou eu.

E para a minha defesa a culpa foi totalmente da Amanda e sua proposta indecente de assistir os dois primeiros filmes da saga Star Wars que por sinal, pareciam ser infinitos. Fomos dormir quase as três da manhã e como consequência, acordamos quinze minutos atrasadas, às pressas (não consegui tomar banho, pois, não tive coragem de dividir o banheiro com as duas), somente com o rosto lavado e o cabelo sujo, amarrado em um rabo de cavalo, porque, inocentemente estava confiante de que acordaria meia hora antes, para assim lavá-lo. Um fracasso de plano. Eu sei. Correndo desesperadas pelo corredor vazio do dormitório,  seguimos em direção ao prédio principal o mais rápido que conseguimos.

Amanda teria como primeira aula Álgebra 2, ela havia me dito que é ministrada pelo professor mais bonito da escola que por sinal é um dos mais rígidos também, parece que de todas as coisas que ele odeia nos alunos além dos próprios alunos, o atraso seria a pior. Ele é inglês, então, achei um pouco redundante ouvir esse fato.

Patri e eu, correndo ansiosas teríamos a nossa primeira aula do ano. E essa seria Introdução ao Inglês Clássico, que era ministrada por uma mulher, que a Amanda também havia mencionado, que, se eu gostasse da professora Minerva, iria adorá-la. Achei muita coincidência as minhas duas colegas de quarto amarem tanto o Harry quanto eu. Era tudo muito perfeito. Estava começando a me assustar. Não sou esse tipo de pessoa que, tem muita sorte com os lances da vida.

Estávamos ofegantes e ansiosas quando Patri olhou pela janela de vidro da porta, e a professora não estava em sala, assim entramos rapidamente tamborilando no piso de madeira velho com os nossos sapatos ridículos e barulhentos até o meio da sala e sentamos nas duas carteiras vazias uma ao lado da outra. Mais uma coincidência feliz por sinal. Sem tempo para comentar, tirando rapidamente nossas mochilas das costas e retirando nossos cadernos e livros de dentro, observava ao nosso redor. A sala estava cheia.

Desejei nesse momento ter a capacidade de ser invisível. Porque sou um coelho marrom?!
Não consigo me camuflar em meio a multidão. Droga Amanda! Espero que sua manhã seja uma merda também!

Estávamos tão desesperadas que não havíamos notado os demais alunos nos olhando curiosos. E quando a professora entrou, meu coração parou. Literalmente. Professora Minerva? A semelhança era gritante! Fiquei admirando-a por alguns instantes, quando desperto com um belisco da Patri que estava em pé olhando-me com suas bochechas vermelhas e olhos entreabertos tímidos.

— O quê?! — Pergunto dando de ombros e passando a mão no braço dolorido. Olhando-a sigo seu olhar em direção a toda a turma, e para a minha vergonha (não alheia), somente nós duas estávamos em pé, com a professora a duas carteiras de distância nos encarando. — Ok, entendi. — Sussurro desejando que esse momento seja um pesadelo do qual irei acordar a qualquer instante.

— Você vai falar ou precisarei lhe enviar para a sala da Mis. Jhonsons? — A mulher pergunta diminuindo a distância entre nós a somente uma carteira, olhando-me por entre seus óculos. Estava impressionada. Tirando a altura, e o fato dela ser um pouco mais rechonchuda devido ser um pouco mais baixa, era idêntica.

— Desculpe senhora, ela é brasileira e o seu inglês ainda não é muito bom... — Patri responde intercedendo por mim com uma voz baixa porém, audível, me comovendo com a sua capacidade de piorar ainda mais a minha humilhante situação. Obrigada mestiça perfeita, agora todos sabem que sou uma brasileira com um inglês de merda.

O Nascimento De Um Erro FrancêsOnde as histórias ganham vida. Descobre agora