Capítulo XVIII

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Faltava apenas vinte e quatro horas para que as aulas retornassem e a minha vontade de voltar para o Brasil só aumentava de maneira assustadora.
Não acho que tenha sido uma boa ideia ter ido visitar a minha família nas minhas férias, agora, só consigo sentir muita saudades de tudo o que vivi enquanto estava em casa.

E enquanto refletia tomando o meu capuccino delicioso e quente, observando as pessoas caminhando tranquilamente como se estivessem gravando algum comercial de tão bem vestidas que estavam para um domingo, recebo um SMS.

Berat
'Estou perto'

Estranhamente, o adolescente de dezessete anos em menos de um mês, havia se tornado um amigo muito especial. E só para deixar claro: Sou eu quem pago pelos meus gastos.
Não gosto do conceito de ser a amiga pobre que deixa o amigo rico pagar por tudo. Meu orgulho não me permitiria ser assim, é, eu sei que talvez esteja exagerando em algum ponto e que a qualquer momento isso possa se tornar um problema para a saúde da nossa amizade, mas, fui criada assim. E acho certo ser assim, e se ele não me aceitar, já não é comigo.

A livraria em que marcamos de nos encontrar tinha sido o meu achado preferido desde que comecei a andar sozinha assim que cheguei na cidade.
Gostava do ar tranquilo e do sabor dos cafés, cakes e de um funcionário em especial.
Simplesmente um lugar completo em todos os sentidos.

Harry era o nome que estava escrito em seu crachá. Não sabia a sua idade, mas, ele não parecia ser mais velho do que eu ou as pessoas com quem costumo andar. Parecia ser muito inteligente pela forma como discutia sobre assuntos de livros que já havia lido com alguns de seus clientes e a sua aparência atraía muitos dos principais clientes fiéis daquele lugar. E vamos combinar, uma livraria aberta no domingo é um paraíso.

— Algo mais ? — Pergunta com sua voz em um tom grave para a sua idade.

O jovem trabalhava no local desde a sua abertura, sendo o segundo dos dois funcionários do pequeno lugar. Ele ficava com o turno da tarde e a sua colega, com o da manhã.
Como eu sabia de tudo isso?! Não é óbvio?!
Eu tinha uma pequena, discreta e avassaladora queda por ele.
Tinha.

— Ummm... — Não consigo olha-lo nos olhos. — Pode ser um pedaço de cake de morango com calda de chocolate por favor e — Sim, estava nervosa. Ele me deixava assim. — Um suco de limão.

Assim que ele abaixa a cabeça para anotar o que ouvira, o encaro disfarçadamente e mais uma vez me apaixono por seus traços. Sou assim, me desapaixono e me apaixono muito rápido, chega a ser em questão de segundos, literalmente na velocidade da luz.
Sorrio comigo mesma.

— Certo, — Diz levantando a cabeça para me olhar. — Com licença. — Se despede.

Oh Senhor,  o quero tanto!

— Hey! — Berat me comprimenta ao entrar na livraria. — Já fez o pedido? — Pergunta ao se sentar na minha frente.

Olho para os lados e percebo algumas mulheres e rapazes o encarar de forma discreta, como eu estava fazendo com o garçom a alguns instantes.
Ou seja, a superficialidade humana é tão previsível que chega a ser nojenta. Só as vezes.

— Sim, — O respondo lhe dando o cardápio — Não sei o que você queria, por isso não pedi o seu.

Ele segura o papel envolto de um plástico e o lê com seriedade.

Berat vestia um sobretudo cinza, longo, e com aparência de ser bem quente, literalmente só de olhar já me deixava com calor. E por baixo vestia uma camisa de gola alta de cor branca, o que deixava em evidência perigosa diria, o colar de rubi que era da sua mãe, ele o usava com muita frequência, mas, parando para analisar não o vi o usando nenhuma vez enquanto passeavamos no Brasil. Provavelmente tinha ciência de que um objeto de tanto valor assim, não dá para ser usado em qualquer país. Principalmente o meu.
Mas tirando esse fato, ele é muito fofo.
Provavelmente, ele deve ser muito mais parecido fisicamente com a sua mãe do que com o seu pai...

O Nascimento De Um Erro FrancêsWhere stories live. Discover now