Capítulo XIV

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Agora sim começaram as minhas férias de verdade. O calor do dia me fazendo suar, as pessoas gritando umas com as outras mesmo estando perto o suficiente para sussurrar, o cheiro do peixe fresco na pia e o açaí batendo no liquidificador, provam esse fato irrefutável: Eu estava em casa.
Feliz.

Minha família é barulhenta? É. Mas é boa o suficiente para mim.
E durante a semana que se passou, perdi a soma das vezes em que acompanhei meu pai e os meus cunhados na pescaria para relaxar a minha mente cheia de pensamentos confusos, e quando chegava, ouvia uma tremenda discussão sem fim por eu não querer passar um mínimo de tempo com as minhas irmãs na cozinha.
Nunca fui de me misturar com as outras meninas, sempre fui deslocada no sentido de que, passar mais tempo com os meninos era bem mais inteligente e interessante do que ficar conversando futilidade com um bando de meninas vaidosas e sem graça alguma. Não estou insultando as minhas irmãs e primas, longe disso, só que, aprendo bem mais estando com os meninos e os homens da casa, sua forma simples de ver o mundo me ajudam em muitas complexidades que tento melhorar desde, bom, sempre!?

Em parte, os homens são um saco eu sei, mas, não existem pessoas mais sinceras em sentimentos do que eles quando esses querem.
Mulheres não, elas são dissimuladas. Fingem sentimentos até do buraco da pedra. Homens também são assim, mas, esses você consegue perceber no ar a mentira do ser humano. Mulher não. Nós sabemos mentir muito bem.
Por essa razão, para amizades, escolho os meninos. A menos que não tenha jeito, ai, se não tem jeito, vamos com o que tem.
Que é o caso com as minhas colegas de quarto, caso queiram saber.

Que aliás, me fizeram ligar por vídeo chamada para que eu provasse que realmente estava em casa com a minha família.
Essas vacas sabem ser chatas quando querem.

E como prometido, engordei quatro lindos quilos em menos de um mês. É isso aí Brasil, ir para casa da mamãe só faz você engordar os quilos que se perde na correria do mundo aí fora.

E por alguma razão, algumas vezes me pegava pensando no jovem que me manteve presa a ele por minha própria vontade (sorrio sozinha). Me pergunto se ele também sente a minha falta, e se, pensa em mim por pelo menos alguns segundos do dia...
Espero que sim.
Por que? Não sei.
Só quero que seja assim.

...

Kevin foi me ver algumas vezes em casa, jogamos vídeo game, ou melhor, eu joguei, ele só falava da beldade de namorada que tem e o quanto ele quer que ela me conheça. Era irritante o quanto ele falava dela até quando íamos dormir... Sim, nossos pais se conhecem e desde pequenos temos esse costume de dormir juntos, por isso tenho uma beliche no meu quarto, ele fica com a parte de cima e eu com a de baixo.
Somos esse tipo de amigos.

E por essa razão, estou me arrumando para ir a um café no shopping do centro da cidade para enfim conhecê-la.

Não queria. Mas, o bendito além de ser o meu primeiro e ainda único amor, por enquanto, vale ressaltar esse mínimo detalhe, ainda somos melhores amigos. Se para ele é tão importante que eu a conheça, então não custa nada me esforçar para ir ver a praga que ele chama de namorada.
E para a tão importante ocasião, não posso deixar de me arrumar como se fosse para uma guerra em que o inimigo nada mais é do que uma menina mais bonita do que eu. Pelo menos é o que eu imagino.
Espero não estar exagerando.

E para tal ocasião, vesti uma calça jeans mom colada nas panturrilhas e uma arregata branca que ia até o meio da cintura, deixando um pouco da minha barriga de fora. Meu cabelo foi solto, já que estava bonito, achei melhor exibir do que esconder.

Espero que dê tudo certo.
Saio de casa na torcida, sabendo que o pior já me esperava.

Assim que chego ao shopping, avisto Kevin ansioso me procurando com os olhos mirando em todas as direções atento, com uma adolescente de pele morena, olhos meio puxados e cabelos ondulados de cor castanho escuros  ao seu lado, falando alguma coisa enquanto tocava uma de suas mãos. Em parte ele tinha razão, de longe ela era muito bonita...

O Nascimento De Um Erro FrancêsWhere stories live. Discover now