O Nascimento De Um Erro Francês

Capítulo III

— Você vai mesmo fazer isso?!!! —  Patri me pergunta pela décima vez, após discutirmos sobre com o que iríamos gastar nosso dinheiro sofrido (no caso o meu dinheiro sofrido, por que ela é rica, eu não). — Sabe que irá se arrepender depois! 

—  Já me decidi. E depois, o que são meros cento e vinte reais em uma camisa autografada pela PRÓPRIA ESCRITORA DO BEST SELLER HARRY POTTER?! — Não é possível que ela não sinta a importância que esse momento tem.

— Mell... — Ela é interrompida quando lhe dou as costas e levo a camisa até o balcão de pagamento. — Não quero ouvir suas lastimáveis reclamações mais tarde. Fui clara ?! — Me avisa ao se aproximar, como se fosse minha mãe. Tem sempre uma amiga que age como se fosse a mãe de todas no grupo, a responsável da situação. Eu sou responsável tá. Só não estou sendo no momento.

Ela sai da loja extremamente chateada, sem se importar se a estou acompanhando ou não. Qual é o problema dela? O dinheiro é meu! E daí se os meus pais só me mandaram míseros quatrocentos reais para passar um mês inteiro e ainda faltam mais de duas semanas para este acabar e já gastei mais de duzentos e setenta reais só em besteiras (na visão dela)?! Só se passou dois meses desde que cheguei a escola, e ela já esta me tirando do sério. Sabe, o engraçado é que a situação era a mesma quando dividia o quarto com a minha irmã mais velha. Qual é o problema dessas garotas ?!!!

Enfim, havíamos decidido que iríamos aproveitar o sábado que nos é dado para sair e conhecer a cidade, ou seja, em um mês com trinta dias, temos apenas de três a quatro destes para sair e aliviar o estresse de fazer cair os cabelos que é estudar em um internato que é excessivamente exigente em termos de perfeição, coisa que ser humano nenhum consegue alcançar. Mesmo que me digam que seus ex alunos hoje são 'o presidente dos Estados Unidos' por exemplo, eu não acredito que ele nunca tenha tirado um seis na vida. Porque acredite, ele tirou. Todo mundo tira. Droga. Estou irritada de novo.

— Vamos Patri, não fique assim. — Isso Amanda me ajude aqui, por que minhas pernas já não conseguem andar mais rápido do que isso. Sabia que não devia ter ido ao shopping das relíquias das escritoras inglesas.  — Ela só está gastando o que é dela, e daí se uma semana antes do mês acabar ela vai estar morrendo de fome ?! — Diz sorrindo enquanto suga seu milkshake de morango para dentro da sua gelada e estúpida garganta. Alguém explica para essa idiota que isso não é ajudar!

— Cada dia que passa percebo o ser humano cruel que você adora ser. — Patri diz ao parar e se virar para mirá-la com uma raiva palpável em seus olhos. Me admiro também.

— Pelo menos sou sincera comigo mesma, coisa que nenhuma das duas conseguem ser. — Diz sentindo-se satisfeita consigo mesma enquanto segue se afastando de nós a passos lentos.

Amada Ferraz exploda-se com o seu veneno por favor! Nunca te pedi nada.

Bem, para que compreendam a situação melhor, permitam-me que vos explique. Prometo que não será tão difícil de entender.

No primeiro dia de internato da Patrícia, esta havia chegado muito animada e por conta da sua ansiedade, falava pelos cotovelos. Enquanto eu cuidava da minha vida dobrando minhas poucas roupas que havia trazido na mala e as guardando em meu minúsculo guarda roupa, fingindo escutá-la, ela e a Amanda haviam iniciado uma pequena discussão. Uma discussão que depois as levou aos tapas e aos puxões de cabelo no chão do quarto. Mas  porque? Bem, alguns dias mais tarde descobrimos que Amanda sofre de vários distúrbios de personalidade, e adivinhem? Ela detesta pessoas que falam demais. E por essa razão, ela conseguiu arrancar algumas centenas de fios de cabelo da cabeça da pobre Patrícia, e receber uma punição da tia que é responsável pelo nosso dormitório. E não são baratas. Cada punição tem o seu valor, e a mais barata custa cerca de trezentos e cinquenta reais. Amanda teve que pagar para a síndica nesse dia, mais de quinhentos reais.