Capítulo XXI

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Após a nossa conversa de domingo a noite, Berat procurou não tocar no assunto já percebendo que ele era um ponto do qual eu não gostava que se metessem.
Afinal, não sou o tipo de pessoa que se intromete na vida de alguém então, no mínimo, exijo que não se intrometam na minha. Justo!? Claro que sim!

Inclusive, acredito que o mundo seria dez vezes, ou melhor, um milhão de vezes um lugar melhor se as pessoas agissem dessa forma: cada um cuidando da sua vida. Olha que frase linda! Mais perfeita do que isso, só sendo colocada em prática.

Amanda tem estado muito ocupada após regressar das férias, afinal, os seus pais decidiram que ela tinha muito tempo livre para planejar passos dos quais eles nem imaginam que ela pensa em trilhar, por essa razão, acharam por bem incluír na sua grade de horários judô, francês, alemão e karatê. Oficialmente ela só chega às nove horas no dormitório, toma banho, as vezes nem se veste só deita de roupão e dorme.

Tadinha.
Já não tem mais vida.

As vezes me sinto muito grata por ter pais pobres. Mas, só as vezes mesmo. Não que não goste deles, por que, é óbvio, é mais do que claro que eu os amo de todo o meu ser, mas, de vez em quando tenho pensamentos como esses de sei lá, ter mais dinheiro para gastar com o que eu quisesse e quando quisesse, como essas crianças ricas do internato.
Mas, em momentos como esse em que assisto a vida de uma adolescente promissora ser sugada por inúmeras tarefas que não servem de muita coisa agora, me faz sentir feliz e grata.

Me julguem por não saber se a invejo ou se sinto pena.

Enquanto me questiono ao mesmo tempo em que me preocupo com a retardada da Amanda, fico abismada com o fato da Patri ter sumido completamente desde o episódio da feira. O mais engraçado é que ela nem se deu ou dá ao trabalho de responder as nossas mensagens ou ligações. E daí que fiz o mesmo com elas quando estava com o Joe em seu apartamento?! Não gosto de provar do meu próprio veneno, ok?!

Só estou realmente preocupada com ela...

...

Dois meses haviam se passado e oficialmente se iniciam o primeiro bloco de provas e eu já estou suando mais do que as quedas d'água do grande niagra.

Esqueci de mencionar que ainda estou tocando na banda, e claro, os ensaios continuam a todo vapor.
E o garoto que me ajudou na última vez continua muito simpático, embora, tenha sido monitorado de perto por sua namorada que chama mais atenção do que o próprio cujo, mas, não vamos destacar esse fato, por que, afinal, as inseguranças de uma mulher nunca são injustificáveis, sempre, eu repito, sempre há de haver uma razão por detrás de cada ação.

Enquanto isso, acho que Joe tem ficado cada vez mais esquisito.
Sim, não sei bem como explicar essa observação já que, ele tem me assistido fazer amizade com os outros vinte e três rapazes integrantes da nossa, NOSSA banda. Pessoas comuns fazem isso, ou até onde o meu limitado mas não insignificante conhecimento tem ciência as pessoas costumam fazer amizades com as outras pessoas em que possuem convívio, certo?
Por que é tão difícil pra ele entender isso? Ou melhor, por que ele mesmo não coloca isso em prática? Por que ser tão isolado das pessoas?!

Ok, ok, são perguntas demais. Eu sei, cuida da sua vida Melina.

— Vamos comer o que hoje ? — Pergunta o jovem carregando o tambor da sua bateria em direção ao depósito no ginásio.

Analiso a sua pergunta com muito cuidado, afinal, é comida. Comida é um assunto que não se deve ser subestimado.
E depois que a miss futura presidente dos Estados Unidos da América se tornou invisível para tudo incluindo alimentação, só me restou Joe como companhia, o que tem me ajudado muito a não me sentir excluída. Por que, vamos combinar, eu sou. Se tem uma coisa nessa vida que eu sou é ser excluída, e eu nem estou sendo humilde.
Sorrio comigo mesma.

O Nascimento De Um Erro FrancêsOnde as histórias ganham vida. Descobre agora