Capítulo 9 • dor e lágrimas

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Assim que Allan chegou em casa, jogou a mochila no chão do quarto e se jogou na cama. Ficou chorando por mais tempo do que podia imaginar.
Queria saber o que era aquilo que estava acontecendo. Eu gosto de menino? Não! Isso não é verdade. Não está acontecendo. É natural ter acontecido aquilo, não tem nada de demais... Allan se torturava com os pensamentos.

- O que foi, Allan? O que aconteceu? - a mãe do garoto falou entrando no quarto dele, desesperada.
- Ah mãe... - Allan falou chorando ainda mais. Sabia que parte da dor que estava sentindo era pelo medo das pessoas não lhe aceitarem.
- Conta pra mim, conta o que aconteceu! - a mãe dele falou se sentando na cama, acariciando o cabelo do filho.
- Não, não é nada... - Allan falou sem conseguir olhá-la.
- Tem certeza de que não quer conversar?
- Tenho, por favor me deixa sozinho... - Allan falou chorando, e assim a mãe dele fez.
- Se precisar de algo, me chame. - ela falou e saiu, fechando a porta.

Allan chorou, chorou tudo o que tinha pra chorar em toda a sua vida. Não queria se afastar de Julio, sabia que o amava de volta, sabia que queria mais, queria continuar, seguir a diante, fazer mais, sentir aquilo mais vezes, mas não podia. Pelo menos achava que não podia, e se punia com isso. Era tortura, definitivamente tortura. Não queria perder a amizade de Julio, o rapaz era a coisa mais importante pra ele...

E não foi muito diferente com Julio.
Assim que saiu do Uber, foi chorando andando até seu prédio, e terminou de chorar quando chegou em seu apartamento.
Por que eu fui deixar isso acontecer? Ele precisava de mim, eu precisava cuidar dele! Eu o amo, eu o quero pra mim... Não posso deixar ele escapar, ele é meu sonho... Julio pensava enquanto chorava compulsivamente, agachado ao lado da porta de entrada. Mal tinha entrado em casa. Fechou a porta e se jogou no chão alí mesmo. Não conseguia parar de chorar.

Por culpa, por saudades, por amor, por raiva, tristeza... Se sentia culpado por não ter o acolhido mais, por não ter dado mais carinho e o feito ficar mais confortável.
Sentia saudades do garoto, sabia que não voltariam conversar tão cedo. Estava com saudade dos toques, dos beijos, da risada, do sorriso, do biquinho que Allan fazia quando ficava emburrado, de tudo. Estava morrendo de saudades do garoto.
Chorava por amá-lo, amava Allan e sabia disso. Desde que tinha o beijado, sabia que estava apaixonado. Queria poder tocá-lo, beijá-lo, fazer carinho, sentí-lo de novo... Precisava daquilo. O amava muito e não sabia o que faria agora que não o tinha mais.
Chorava por raiva, raiva de si mesmo por não ter feito mais, por não ter feito ficar, por ter deixado aquilo acontecer, por ter deixado ele ir embora.
E acima de tudo, chorava por tristeza. Sabia que o amigo estava mal e precisava de ajuda, de acolhimento, mas sabia que não poderia mais fazer aquilo por ele. Estava triste por não ter mais o garoto, por não poder perguntar se ele iria querer sair ou ir em casa ver filme, triste por saber que ficaria muito tempo sem poder tocá-lo de novo, sem poderem conversar de novo, sem poder o olhar da mesma forma. Aquilo era o fim.
Queria estar presente para o garoto, pra ajudá-lo a se descobrir, ajudá-lo a se aceitar, mas não podia, não podia forçar Allan a querer vê-lo. Estava mal, muito mal. Aquilo tinha ido de céu a inferno em segundos.

Entravam no tiktok para descontrair e só viam comentários do tipo "quando vão gravar mais?" "Já estamos fazendo fanfic" "por favor namorem". Toda vez que eles viam esse tipo de comentário, tinham vontade de chorar tudo outra vez.

Depois daquele dia, eles não saíram mais juntos. Os meninos chamavam, mas não iam. Julio ia em quase todos, só não ia quando descobria que tinham chamado Allan. Já Allan, não ia em nenhum. Ia de vez em nunca, mas só quando era só ele e Daniel.

Nunca mais conversaram, nunca mais gravaram juntos, e nem se viram. Mas isso não impedia de pensarem um no outro. Pelo contrário, pensavam todos os dias.

Julio pensava no garoto todos os dias. Todos os dias antes de dormir imaginava como seria se Allan não tivesse pedido pra se afastarem. Se imaginava sendo feliz ao lado do garoto, lhe dando apoio, amor e carinho. Chorava só de pensar que nunca mais teria a amizade dele. Estava disposto a engolir o sentimento que tinha para reconciliar a amizade, mas sabia que Allan o correspondia. Sabia que era recíproco, por isso não queria esconder o que sentia. Ainda tinha esperança do garoto lhe dar uma chance. Era tudo que precisava. Apenas 1 chance pra mostrar o quanto era merecedor de seu amor e o quanto o deixaria satisfeito.

Porém, quando Allan se afastou, Julio se aproximou de Teddy. Agora gravava os tiktoks com ele, fazendo aquele tipo de brincadeira. Mas se sentia mal por dentro. Sabia que Teddy fazia por brincadeira, mas gostava de quando era Allan. Gostava de como ele se irritava e de como ficava envergonhado quando Julio fazia aquilo com ele. Gostava de fazer carinho no amigo, gostava de beijá-lo e de dormir com ele, de abraçar ele... Tinha se apaixonado. Teddy era só um amigo que gravava tiktoks com ele agora. Nunca seria a mesma coisa que era com Allan, e nem queria que fosse.

Allan ficou meses sem notícias de Julio, e Julio sem notícias de Allan. Só sabiam um do outro o que os amigos falavam.

Allan, com todo aquele tempo, tinha conseguido guardar aquele sentimento. Na sua cabeça, tinha esquecido Julio, tinha sido um surto. Mas assim que o encontrasse, tudo viria à tona.
Tinha ficado tanto tempo sem ver Julio que achava que nunca mais sentiria aquelas coisas de novo, e não fazia questão. Tinha seguido em frente. Tinha certeza de que era só amizade e que aquilo tinha sido um deslize, um errinho, um "pane" no sistema. Tinha certeza de que não aconteceria nunca mais, que era só amizade, mas para garantir, não queria mais ver Julio.

Allan tentava a todo custo apagar aquele sentimento de dentro de si. Parou de ver as coisas sobre Julio, parou mesmo. Ficaram 3 meses e meio assim, desse jeito. Sem se falar e sem ver nada um do outro. Mas bastou Allan ver sem querer um tiktok que Julio tinha postado, junto com Teddy, fazendo uma brincadeirinha boba, mas que Teddy quase beijou Julio, só não o fez porque Julio virou o rosto, foi o suficiente para Allan surtar. O vídeo não era tão recente. Era de 4 dias atrás.

Então é assim? Esse idiota já colocou alguém no meu lugar? Eu vou acabar com ele! Allan pensava, tentando distinguir se tinha mais raiva de Teddy ou de Julio. É depois de amanhã aquela maldita festa, né? Eu vou. Eu vou acabar com ele! Ele tá achando que é assim? Fica de pau duro comigo, aí é só eu virar as costas que vai beijar outro? Allan pensava bravo.
E aquele falso do Teddy? Fala que é meu amigo mas quando não tô perto corre ficar de gracinha com o Julio! Que ódio!

Pegou o celular pra fazer uma ligação.

- Alô? Tá me ouvindo?
- Allan? O que foi?
- Daniel, quando é a resenha que você me chamou? Essa semana.
- Ah... É sexta a noite. Você vai?
- Vou. Que horas é pra eu te encontrar aí na sua casa?
- Umas 20:30. Pode ser?
- Pode.
- Mas você sabe que o Júlio vai, né?
- Sei.
- Ah... E você vai me contar o que rolou entre vocês? O motivo de terem se afastado?
- Não é nada, já disse.
- Se não fosse nada você não furaria todos os roles quando a gente diz que ele vai!
- Ai, Daniel... Esquece isso! Tchau, até sexta.
- Até...

Allan desligou o celular.

Estava pensando no que diria pro rapaz, no que diria quando o visse. Não conseguia pensar em nada, droga! Estava cego de ódio, não conseguia pensar em nada além da vontade de esmurrar Teddy.
Aquela lacraia nojenta fica se aproveitando da bondade do meu menino! Eu vou dar uma lição nele. Ele que me aguarde...

Foi ver os comentários do vídeo de Julio e viu um monte de gente dizendo "cadê o Allan?" "Allan olha isso". Estava com tanta raiva... Foi descendo os vídeos e acabou achando mais vídeos desses, Julio fazendo brincadeiras idiotas, cantando musiquinhas românticas e Teddy sorrindo, e tentando beijá-lo no final, mas Julio sempre virava o rosto. Eu vou matá-lo. Eu vou literalmente cometer um homicídio. Se esse cara aparece na minha frente eu mato ele de tanto bater. Ah, como eu quero que ele venha falar comigo nessa maldita festa! Eu vou fazer ele se arrepender de ter nascido!

Ficou pensando, planejando tudo que diria. Pensando por dois dias, até chegar sexta-feira a noite...

Aquela noite seria longa...

Continua...

Friends • Allan e JulioWhere stories live. Discover now