Capítulo 27 • Notícias

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— Onde ele está? — Julio pergunta agitado, assim que vê Daniel no corredor do hospital.

— Débora está com ele no quarto. — Teri fala se aproximando. — Por onde andou? Ele estava precisando de você! — Teri então pegou na mão de Daniel, e entrelaçou os dedos, sem desviar o olhar fulminante de Julio.

Se eu te contar o que eu estava fazendo de tão importante, eu teria que te matar, amigo...

Eu sinto muito. Era importante. — Julio falou tentando não ligar para o rapaz enfurecido. — Posso vê-lo?

— Claro, tenho certeza de que ele vai querer te ver. — Daniel falou encostando a cabeça no ombro de Teri, com pena. — Tá no quarto 21.

Julio então andou com pressa até o quarto. Abriu a porta bruscamente, dando de cara com Débora e Allan.
Allan deitado na cama, com o quadril todo enfaixado e parte do ombro esquerdo também. O nariz estava com esparadrapos e tinham algumas faixas também ao redor de seu tórax.
Débora estava sentada em uma cadeira à beira.

— Vou deixar vocês conversarem. — Débora se levantou, chorando, e saiu do quarto, fechando a porta.

Julio então sentou-se na cama, ao lado do garoto.

— Allan, eu... — Julio tentou falar, depois de alguns instantes em silêncio.

— Onde estava? — Allan pergunta, com dificuldade em falar.

— Resolvendo um assunto importante. Me desculpa, eu sei que deveria estar aqui com você, por favor, me perdoa! Allan, me desculpa! — Julio falou se desmanchando em lágrimas.

— Para de chorar. — Allan balbuciou. — Eu não quero falar no que aconteceu.

— Tudo bem, mas saiba que eu sinto muito. — Julio falou tocando no rosto do garoto e acariciando com dificuldade. — Não há nada que eu não faria por você, eu deveria ter ficado com você, não ter te levado em casa ou...

— Chega. Esquece isso. Nada foi culpa sua. — Allan falou fechando os olhos.

— Me desculpa... — Julio falou se aproximando mais. — Já sabe por quanto tempo vai ficar internado?

— Alguns meses. — Allan falou, e então fez uma pausa. — Não tenho pra onde ir quando sair.

— Você pode morar comigo, se quiser. Consigo sustentar nós dois. — Julio falou quase que imediatamente.

— Obrigado, mas não queria deixar minha irmã sozinha com eles durante o julgamento.

— Ela... não vai ficar sozinha com eles. — Julio falou quase que se arrependendo.

— Eles já mataram ela também? — Allan perguntou em um to irônico.

— Eles não estão mais aqui. — Julio falou com medo da reação do garoto.

— Não sei se entendi. Já foram presos? — Allan tinha dificuldade para falar.

— Morreram. — Julio quase tirou um piano das costas.

Allan arregalou os olhos, sem entender.

— É melhor você descansar. Depois continuamos essa conversa. — Julio falou desviando o olhar pro chão.

— Não ouse. — Allan retrucou.

— Allan... tem certeza? Você já vai ter muita coisa pra processar.

Allan não respondeu, apenas continuou o olhando feroz.

— Certo. Então lá vamos nós... — Julio fez uma pequena pausa, se acomodando na poltrona. — Eu deixei você aqui e fui atrás da sua irmã. A garota não sabia onde você estava, ficou preocupada e extremamente horrorizada com o que fizeram com você. Conversei com ela e então fomos até seus pais.

Allan ouvia atentamente cada palavra.

— Eles não são meus pais. — o garoto o corrigiu.

— Certo... Eu a encorajei e ela disse várias coisas para eles, disse o quanto isso foi doentio e deplorável, e eles xingaram de volta, cuspiram na gente, e então sua irmã veio pro hospital e eu fiquei lá conversando com eles.

— Não tentaram te bater?

— Tentaram, mas eu os amarrei. Eu disse o quanto era repugnante e então... — Julio fez uma pausa.

— Então o que? — Allan falou sem entender, irritado.

— Bati neles. — Julio falou calmamente.

— Você o que? — Allan perguntou quase se engasgando, perdendo o ar. — Como fez isso? Matou eles?

— Não! Eu nunca mataria alguém. Meu deus... — Julio falou quase suando. — Eu só dei uns tapas e fiz umas coisas pra eles se arrependerem (não, não cometi nenhum ato de violência sexual). Só isso.

— Então por que estão mortos?

— Seus vizinhos conversaram comigo e disseram que ouviram os gritos mas não sabiam o que era. Estavam profundamente arrependidos de não terem impedido. — Julio contava.

— E então? — Allan perguntava ansioso, com dificuldade.

— Os vizinhos incendiaram a casa com os dois amarrados. — Julio falou, com um pouco de dificuldade.

— Na casa toda? Perdemos tudo? — Allan perguntava imóvel.

— Sim... — Julio falava com pena.

Allan não respondeu. Apenas permaneceu em silêncio. Não conseguia dizer nada, mal conseguia ter forças para respirar, quanto mais sanidade para digerir uma catástrofe dessas. Não estava triste, mas não estava feliz. Sentia-se parcialmente aliviado, mas não se sentia bem.

Silêncio. Julio não sabia o que dizer.

— Vou pegar um capuccino. Quer que eu traga algo? — Julio falou se levantando.

— Estou com o intestino perfurado. Não sei o que posso comer ainda. — Allan falou com vontade de chorar.

— Eu vou trazer água pra gente. — Julio falou.

Julio saiu da sala.

— Ele está bem? — Yuma perguntou.

— Sim, conversamos um pouco e vim buscar água pra gente. — Julio falou tenso. — Isso vai levar tempo...

— Podemos falar com ele? — Daniel perguntou.

— Eu preciso terminar de conversar uma coisa com ele em particular. Posso chamar quando acabarmos? — Julio falou pegando os copos de água que Débora tinha lhe oferecido.

— Claro, tudo bem. Sem pressa. — Teri respondeu.

Julio então se virou e voltou para a sala de Allan. Mas Teddy o parou na porta.

— Julio... — o rapaz falou segurando em seu braço.

— Algum problema? — Julio falou se desvencilhando.

— Sinto muito pelo Allan. Espero que ele fique bem. É inacreditável uma coisa dessas.

— Todos torcemos pelo bem dele. Vamos ajudar com tudo que pudermos. — Julio falou sério. — Se me dá licença... — Julio falou olhando para a Allan deitado na maca, e depois pra Teddy.

— Ah, claro. — ele então se afastou.

Julio entrou e fechou a porta.

— Pronto... — Julio falou dando um gole de água na boca do garoto.

Allan tomou apenas 1 gole e depois recusou. Julio nem mexeu em seu copo em cima da mesa.

Novamente um silêncio.

— Eu nunca quis matar ninguém, mas eles deixaram bem claro que fariam isso de qualquer forma, eu só...

— Obrigado. — Allan o interrompeu.

— O que? — Julio não acreditou.

— Obrigado. Acho que me sinto melhor. — Allan repetiu. — Agora é só esperar o julgamento, né? Vão querer saber o que aconteceu.

— Eu estou preparado pra isso. — Julio falou confiante.

Continua...

Friends • Allan e JulioWhere stories live. Discover now