Capítulo 16 • na frente de todos

5.8K 384 193
                                    

— Que merda de barulho é esse? — Allan resmungou juntando forças pra abrir os olhos.
— Amor, desculpa... — Julio falou segurando o riso, fazendo um cafuné no amigo, que dormia o abraçando. — Eu estava vendo vídeo.
— Eu estou cansado. Da pra parar? — Allan resmungou.
— Não. — Julio falou rindo.
— O que? — Allan falou indignado, abrindo os olhos.
— Já são quase 11:30! — Julio falou o beijando.

Allan o olhou assustado.

— Sim, bela adormecida! — Julio falou o beijando de novo. — Quase 11:30!
— E nós temos que fazer alguma coisa? — Allan perguntou o beijando de volta.
— Eu tenho que levantar pra fazer almoço pro garoto que está dormindo aqui comigo, já você eu não sei... Pode ir lá me dar apoio moral. — Julio falou sorrindo.
— Então vamos... — Allan falou se esforçando pra se sentar.
— Quer que eu te leve no colo? — Julio perguntou, colocando o celular de lado, indo pra cima do amigo, beijando seu pescoço e sua bochecha.
— Quero! — Allan falou com um sorriso tímido.

Julio então não mediu esforços. Se levantou e puxou Allan para perto, o pegando no colo, e então o levou até a cozinha, rindo, e o colocou sentado em uma das cadeiras.

— Você é tão lindo quando acorda... — Julio falou sorrindo, depois de beijá-lo, se afastando.
— Para com isso! — Allan falou rindo.
— Eu vou fazer uma salada. Com alface, couve, tomates, acelga, cenoura, beterraba repolho e alcaparras. Tudo bem? Vou fazer um suco também. Acho que a gente não vai ficar com fome. — Julio falou pegando as coisas na geladeira. — Eu tô querendo mudar a nossa alimentação. A gente tá comendo muita porcaria.
— Acho que não vamos ficar com fome. — Allan falou cochilando.

Os dois ficaram conversando enquanto Julio preparava a salada. Conversaram sobre culinária e a alimentação dos dois, sobre o que eles mais gostavam e do mais detestavam comer. Conversaram também sobre os vídeos do tiktok e o engajamento, sobre como era se sentirem oprimidos, de certa forma, pelas pessoas, por serem asiáticos.

— Mas eu fico muito triste, o pessoal tem um preconceito tão grande! Sexualizam a gente só por nossa etnia! Tudo bem sexualizar asiático? E tem mais! Eu odeio quando começam a fazer piadinha, dizendo que japonês, chinês, coreano é tudo a mesma coisa. Tudo bem ser ignorante e não saber, mas ficar fazendo piada, tirando sarro e zombando é maldade! É falta de respeito! É chato quando riem do nosso idioma, das nossas culturas. É chato ficarem idolatrando e seguindo, comentando nos nossos vídeos que nos acham bonitos e gostam da gente só porque somos asiáticos! Tá, tudo bem gostar e achar bonito, mas eu tenho milhões de outras características além de ser chinês! Eu só queria que as pessoas gostassem de mim pelo que eu sou, não por causa da minha etnia...— Julio falou, enquanto cortava os tomates. — Me desculpa ter despejado tudo isso em cima de você, eu só precisava falar disso com alguém.
— Não peça desculpas por isso, eu me sinto assim também. — Allan falou cabisbaixo. — É bom saber que não sou o único que não gosta desse tipo de coisa.
— Bom, eu terminei. Quer comer? — Julio perguntou se virando.
— Quero sim. — Allan falou e então Julio pegou os pratos e talheres, os colocando na mesa.

Eles então comeram, enquanto conversavam. Allan lavou a louça e então foram se trocar.

— Vamos? — Julio falou enquanto Allan pegava o celular e a carteira.
— Sim.

— Por que não podemos chamar um Uber? — Allan resmungou.
— Porque já estamos quase chegando! — Julio falou sorrindo, segurando a mão do garoto.
— Você disse isso tem 10 minutos.
— Allan, a graça é a gente caminhar junto, ao ar livre, até chegar na praça! — Julio falou achando graça nas reclamações do amigo.
— E por que não podemos conversar sobre isso em casa?
— Porque o lugar que eu quero te levar é lindo... — Julio falou com um sorriso quase que imperceptível. — Chegamos.

Eles chegaram então em uma praça, um gramado imenso coberto pela copa de árvores robustas, que faziam sombra por todo o lugar. Os raios de sol tentavam achar abertura pelo meio das folhas, fazendo luz.
Julio levou Allan até o meio, em um lugar que não tivesse ninguém, e então se sentaram no chão.

— Está vendo? — Julio falou sorrindo, olhando para a copa das árvores. — O ar fresco nos deixa mais feliz.
— O que tá me deixando feliz é ver o jeito que você sorri contente no meio do mato! — Allan falou rindo.
— Allan! — Julio riu.
— Por que me trouxe aqui? Tipo, precisamente aqui. — Allan perguntou.
— Esse é um lugar que eu costumava vir sozinho quando nós... Paramos de nos falar. — Julio falou com um sorriso triste, desviando o olhar para o chão. — Eu queria te trazer aqui, porque quando eu vinha sozinho, eu vinha pra tentar pensar na gente e no que tinha acontecido, vinha pra pensar nos meus sentimentos, em você.
— É um lugar bonito... — Allan falou com um leve sorriso, olhando para as folhas balançando com a brisa.
— Allan, eu queria conversar sobre nós. — Julio falou o olhando, sério. — Quero saber o que você quer comigo.
— O que eu quero? — Allan perguntou corando, envergonhado. — Bom... Eu... Eu quero estar com você.
— Tá... — Julio falou suspirando, sabendo que o garoto não diria de uma vez.

Sabia que Allan era tímido pra esse tipo de assunto. Se realmente quisesse entendê-lo teria que se esforçar mais.

— E como você se sente quando está comigo? — Julio perguntou.
— Eu me sinto feliz. Sinto que estou em casa, é como se você fosse o que me protegesse, me salvasse do mal do mundo. — Allan falou se apoiando nos braços, se jogando pra trás.
— Nós estamos ficando... Acha que devíamos contar pras pessoas? Pelo menos pros nossos pais e nossos amigos... — Julio perguntou tentando segurar o riso, já sabendo da resposta.
— Ah... Eu acho que não... Eu gosto de você, mas não acho que precisamos contar.
— E se eu tiver vontade de te beijar? Vou ter que me segurar? — Julio perguntou.
— Você é bom em se controlar... — Allan falou rindo.
— Certo... Então você não vai se importar se o Teddy continuar com aquilo, né? Já que não quer contar sobre nós, então não tem como ele saber que estou com alguém. — Julio falou sorrindo, deitando no colo do amigo.
— O que? — Allan quase gritou. — Tá maluco? — Allan empurrou Julio de seu colo.
— Ué! — Julio ria.
— Você quer ficar com ele? — Allan perguntou cruzando os braços.
— Allan, eu não quero ficar com ele. Eu só quero entender você. Se não quer que ninguém saiba de nós, então posso ficar com outras pessoas, e não vai ter problema ele continuar fazendo aquilo.

Allan não falou nada, só virou as costas emburrado, de braços cruzados.

— Amor, entende onde quero chegar? — Julio perguntou o puxando, para que se virasse de volta. — Quero poder te beijar em qualquer lugar, falar que te amo na frente de quem for, quero pegar na sua mão, quero poder ficar feliz sem disfarçar quando vejo você sorrindo.
— Julio... Eu não consigo fazer o que está me pedindo... — Allan se virou, com os olhos marejados.
— Amor, eu vou proteger você. Não tenha medo. — Julio falou o deitando na grama, o abraçando.
— Julio... O que as pessoas vão pensar de mim? Eles vão rir. Todas as coisas vão ser diferentes agora..  — Allan falou sem conseguir segurar as lágrimas.
— Eu prometo que será tudo igual. — Julio falou limpando o rosto do garoto com a mão. — Você continua o mesmo, não mudou absolutamente nada!
— É, mas você sabe disso. Eles não. — Allan falou sem conseguir parar de chorar. — Eles vão me olhar e rir, ou me olhar diferente, como se não me conhecessem mais. Como se eu fosse diferente...
— Claro que não! Eles são nossos melhores amigos! — Julio falou preocupado com o garoto, ele realmente estava chorando muito, e precisava de colo.
— E se isso não acontecer? Se eles ficarem desconfortáveis? — Allan perguntou. — Eu não quero que as pessoas fiquem com "aquele olhar" pra mim, ainda mais os meus amigos... Eu nem sei como minha mãe iria reagir! Ela me mataria!
— Não precisamos falar pra sua mãe tão já, mas não precisamos nos esconder dos nossos amigos. Eles vão continuar amando a gente. — Julio falou dando um beijinho na bochecha do garoto.
— Julio, por favor... Se isso der errado, eu não vou ter ninguém aí meu lado... — Allan falou finalmente conseguindo conter parte das lágrimas. — Vou precisar de você.
— Eu sempre vou estar aqui com você, meu amor. — Julio falou e então lhe deu um selinho. — Você é tudo que importa.

Allan então conseguiu parar de chorar, e ficaram olhando para as árvores, sentindo a brisa nos cabelos, se chocando contra seu rosto umidecido pelas lágrimas. Julio se deitou ao seu lado e ficaram observando juntos os raios de sol tentando atravessar as folhas.

— Eu quero ficar com você pra sempre. — Allan sussurrou.
— Nós vamos. — Julio falou de volta.

Continua...

Friends • Allan e JulioWhere stories live. Discover now