Capítulo 28 • Tudo por você

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Julio estava suando frio, Débora já havia começado a chorar novamente, Allan não esboçou o mínimo de reação (e nenhum dos que estavam ali presentes souberam se era conscientemente ou não), e o restante observava aquilo com espanto, tentando se convencer de que tudo ficaria bem e as coisas se resolveriam.
Mas nunca se resolveriam. Nunca ficariam bem. Não para Allan, e no fundo, não havia 1 pessoa naquele hospital que não soubesse disso.

— Sanches, este é Julio Ng. — Ortiz falou sem tirar os olhos do rapaz.
— Como vai, garoto? — Sanches o cumprimentou amigavelmente, mas instigado.
— O namorado da vítima — completou Ortiz.
— A vítima que por sinal se chama "Allan" — Débora falou. Achou que fosse sair como um sussurro, mas, infelizmente, aquilo foi alto demais.
— E você? Quem é? — Ortiz perguntou se irritando.
— Débora. A irmã — ela fala ainda chorando, intimidada.
— Preciso que também venha com a gente, mocinha — Ortiz falou se virando para o restante do pessoal.
— E o restante? São amigos do Allan? — Sanches perguntou os olhando.
— Sim — Teri respondeu de imediato.
— Todos precisam vir com a gente — Sanches então se vira para Julio. — Posso falar com você?
Julio apenas assentiu com a cabeça.
Os dois policiais cochicharam entre si, e depois o mais velho falou:
— Todos vocês vão ser colocados em nossas viaturas e serão levados para a delegacia — ele fala isso e então resmunga códigos policiais em seu rádio preso ao cinto, e então surgem policiais pelo corredor para os guiarem.
— Por que vamos dar depoimento? Ninguém aqui sabe que foram o senhor e a senhora Jeon que fizeram isso com ele? — Teddy perguntou indignado.

Ortiz e Sanches se entreolharam.

Tem alguma coisa muito errada aqui. Eles já sabem do incêndio, e pela demora, provavelmente já levaram os corpos. Não ficaria surpreso se os vizinhos estiverem sendo interrogados. A única coisa que me resta é negar o crime. Mas não posso deixar Allan sozinho no hospital.

Depois que forem interrogados, conversaremos com todos vocês — Sanches falou de imediato.
Todos foram levados para as viaturas, e lá esperaram ansiosamente os Ortiz e Sanches voltarem, para poderem prosseguir e ir até a delegacia.

— Podemos falar com você? — Sanches se vira para Julio.
— Sim — Julio responde olhando para Allan.
— Ele está consciente? — Ortiz pergunta em um tom mais baixo para Julio, com cuidado. — Digo, consegue entender o que estamos falando?
— Ele estava acordado, consegui conversar um pouco com ele, mas agora não sei dizer bem se ele estava dormindo ou só de olhos fechados — Julio fala voltando os olhos para Allan, que estava imóvel, como um defunto.
— Bom... — Sanches se vira para Ortiz.
— Então falaremos mais baixo para não acorda-lo — Ortiz fez uma pausa — Você o trouxe para o hospital?
— Sim, eu o encontrei na rua, assim que eu o vi, provavelmente outros carros também viram, pois também começaram a vir verem o que estava acontecendo. Allan estava rastejando na calçada, quando o encontrei eu estava indo até um restaurante próximo da casa dele, pois não havia tido notícias dele o dia todo, e caso ele me ligasse com problemas, eu poderia buscá-lo — Julio falou com os olhos marejados, se lembrando da situação — e quem dera isso que tivesse acontecido... — soltou um riso irônico.

Sentia uma dor de cabeça forte, sabia que aquilo seria mais difícil do que imaginava.

— Você o trouxe imediatamente pra cá? — Ortiz perguntou.
— Sim. O levaram imediatamente para a cirurgia. Allan tem plano de saúde — Julio fala ansioso.
— E você conversou com ele sobre o que tinha acontecido? — Sanches pergunta.
— Eu já tinha uma intuição, conversar com ele só confirmou minha tese.
— Por quê? — Ortiz dispara curioso.
— Neste final de semana, Allan dormiu comigo. Nós estamos juntos há pouco tempo, mas Allan é famoso nas redes sociais, notícias vem e vão muito mais rápido sobre famosos. Isso chegou nos pais dele mais rápido do que o esperado — Julio fez uma pausa, tentando buscar forças — Eles telefonaram para Allan cedo, exigindo que voltasse para casa imediatamente. Estavam furiosos, e só por isso, já sabíamos que eles tinham descoberto sobre nós. Eu o levei de volta para a casa, porque não sabia que eles fariam isso com ele, achei que poderia sim ter uma discussão mas que não passaria disso! — Julio falou dando início a uma crise.
— Você o deixou lá e ficou sem notícias dele até que horas? — Sanches pergunta.
— Até umas 19:20. Foi quando eu saí e o encontrei na calçada. Assim que o farol o iluminou, eu desci imediatamente e o trouxe pra cá. Ele estava quase desacordado — Julio falava segurando o choro — Eu sabia que os pais dele eram cruéis, mas não sabia que seriam capazes disso.
— Ele vai ficar internado por quanto tempo? — Ortiz perguntou.
— Por meses. Até ele se recuperar.
— Quais foram os ferimentos? — Sanches pergunta, já com o estômago se revirando.
— Quebrou a costela, a clavícula, o nariz e teve o intestino perfurado. Ele não perfurou nenhum outro órgão, pelo menos — Julio falava já não se importando com as lágrimas que rolavam.
— Cuide do garoto. Mais tarde voltaremos para fazer mais algumas perguntas. Por enquanto, é só isso. A não ser que queira nos contar mais alguma coisa... — Ortiz falou instigado.
— Acho que já contei tudo — Julio falou tentando não transparecer o nervosismo.

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⏰ Última atualização: Mar 13, 2022 ⏰

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