Capítulo 9 - Quase jantar Caterida

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       O mundo a sua volta se liquefazia.

       Carter cheirava a cerveja barata e já estava de pernas bambas. Não queria parar. Não estava bêbada o suficiente, disse a si mesma. Se podia pensar, não estava.

       O som dos tambores ecoava em torno da praça, acompanhados da melodia das gaitas em uma estranha parceria com o acorde das cítaras. A música soava antiga, no que parecia o choque de fogo e água, aquecendo os corpos em movimento no ritmo do vento e das chamas.

      Carter dava voltas com eles.

     Sons e formas passavam em sua mente como o rio corria ao lado, veloz, incontido e suplantado pelo sangue pulsando em suas veias. Sorveu frustrada as últimas gotas da bebida em seu corno. Tateando rápido não encontrou um vintém em seu alforje.

      Praguejou em pensamento.

      Um grasnido agudo da besta cortou céus e rios, distante o bastante para ser a de Tenno. Explicaria porque ele desapareceu de vista. Àquela altura, a humana já havia encontrado a embriaguez que procurava na boca de cinco rapazes que não conhecia, mas ela não durava. No alto, o wyvern de Inari voava baixo em círculos rasantes, o viu pousar em algum lugar do outro lado rio, e graças a visitante nobre, os répteis e seus gritos eram o acompanhamento da festa esse ano. Estava se afastando para longe da multidão, com um rapaz do povo silvestre, um meio sorriso nos lábios e o pensamento: Estou feliz. Grata por ter um motivo para ficar longe da mansão e dos olhares tortos dos nobres. A nobreza humana era a pior.

      Mas era Maybh e isso não importava.

      Não há nada como essa época do ano, quando todos ficavam infinitamente mais amáveis, até Elawan ficará mais presente, depois que os lordes se forem. Ele havia viajado bastante nos últimos tempos. Lohkar, infelizmente–  ou não – , ficava longe de vista na estação fria, o que significava que não teria treino com armas. Embora o lorde feérico sempre tivesse uma pilha de livros sobre ervas e mimetismo, para ocupar o tempo dela.

      Esbarrou em um casal de fadas ainda menores do que ela, com plantas coroando os cabelos. Seus rostos estavam estranhos, aturdidos. Pode ver suas bocas se movendo, ainda que tais insultos não lhes tenham chegado aos ouvidos, era difícil ouvir por cima da música e o canto agourento das bestas. A humana fez bico e voltou a fada da floresta. Fogo, mesmo de olhos fechados podia senti-lo, suas labaredas ascendentes. O rapaz a beijou repleto de exigências, outras dúzias de casais faziam o mesmo, ou até mais; era Liffey, era o Maybh e a única coisa melhor que vinho para espantar as preocupações invernais era outros corpos, enquanto almas vagavam incontidas até o amanhecer. Pressionou o rapaz contra si, meio afetada pela bebida, ameaçava desabar. Se apoiou no parapeito de uma das pontes. Não sabia qual das seis que davam acesso à praça central.

      A sua volta, animação dos foliões se manifestava em danças no ritmo das chamas, músicas esparsas e, mais próximo, pode ouvir também gritos. Se desvencilhou do seu novo conhecido sentindo o ar lhe faltar e a bebida voltar. Algo está errado. Virou-se para o rio imaginando as sardas gritarem em seu rosto agora pálido; salvo pelas bochechas vermelhas. Mas isso em nada ajudava. Perdia a batalha contra sua garganta. Arrotou vinho, e as ameixas que havia comido na marcha de volta das montanhas quase saltaram para fora. Era difícil não imaginar a cara do rapaz diante dessa cena.

     Passou as mãos suadas na calça de montaria e percebeu que seu peito doía, estava sem ar. Antes que pudesse tentar se reajustar e não passar mais vergonha, sentiu uma mão pesada lhe empurrando ao chão e as pessoas na ponte correndo para o interior da praça, seu acompanhante com elas.

Entre Damas e EspadasDove le storie prendono vita. Scoprilo ora