Segunda Rodada: O Carvalho e a Daninha

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O príncipe do Carvalho

Há muito tempo, cresciam juntos na floresta igualmente antiga, um Salgueiro e um Carvalho. Num inverno muito distante, um filhote de dragão ferido na tempestade ali se acomodou.

O Carvalho oportunista enroscou suas raízes em torno do dragão adormecido que naquele século não mais acordou.

Grava, carvalho, pele ressequida, bem depois do sabugueiro branco como a promessa de morte, foi lá que ela encontrou.

Parecia, a princípio, uma estranha formação na madeira, mas toda aquela floresta era estranha e as crianças ao redor dela estavam... Enlouquecendo.

Ela não sabia.

Acordara o dragão.

Pressentindo o perigo, fugiu, mas tocara a madeira e o Salgueiro deixou sua marca. Já estava entre os seus quando o dragão a alcançou. Não teve tempo de explicar, mas sua cabeça doeu. Não era o grito do animal que a irritava a ponto de deixá-la no chão, de mãos nos ouvidos; era o som da mata, o bater da madeira naquela floresta.

Batia, carvalho, movia, uma promessa e um uivo distante.

Seu povo se reuniu contra o dragão, uma branquidão fraca e quebradiça que podia ser madeira então. Ela guiou o animal para o leito do rio, ninguém viu, mas ali o dragão caiu.

Quando ela se ergueu do baixio, o réptil estava morto, mas ela ainda estava marcada.

O príncipe do Carvalho é esperto, e ainda buscaria quem havia lhe vitimado.

Inverno acima, primavera abaixo, as estações se foram, mas a marca perdurava, três voltas negras espiraladas e sempre que o Príncipe do Carvalho se movia, em busca de nova seiva, todos os sons se aplacavam.

Na mente dela só havia, um bate-bate ritmado.

Madeira contra madeira, numa ventania palpável.

Madeira contra madeira e todos os sons paravam.

Madeira contra madeira, sua cabeça doía e nela batia, para suplantar os sons do carvalho. Irritada e amargurada, ela tentava se fazer ouvir, dizia o que o príncipe buscava, mas muito custava aos machos admitir que havia algo errado. "A floresta é assim, um ninho arriscado" e mais gente sumia e quando a lua crescia, vinha o príncipe enciumado, buscando aquela que roubou seu jovem réptil alado. 

Vigiava, vigiava. 

A floresta tem ouvidos, inteiramente conectada.  

Entre Damas e EspadasWhere stories live. Discover now