Capítulo 8 : Correntes e Serpentes

85 11 59
                                    

        Tinha um plano antes de chegar ali, tinha um plano. Ele se fora no instante que o feérico se apresentou.

– Ouvi dizer que afogou o rei numa banheira, estou curioso sobre o episódio – inquiriu o nobre feérico. 

      A tengu queria dizer que fora em um lago artificial, mas não achou pertinente.

      Deu com os ombros.

– Sõjobõ precisava tomar banho – respondeu apática

       Queria odiá-lo, havia nele uma magia assassina pulsando, uma ira fria que o mantinha de pé, cada ação calculada com potencial mortífero, se movendo com uma graça precisa e isso não podia deixar de admirar.

        A fala causal de Elawan não mudava o fato que estavam numa quente e mal iluminada sala de interrogatório e a tengu lamentava ter dado a ideia. As mãos da prisioneira não estavam amarradas, não era preciso, ninguém consciente tentaria fugir na presença do lorde do Fogo Encarnado, mas era de fato um erro, pois ela era alguém para fazer esse tipo de coisa. Elawan discretamente olhou para o sangue seco no canto da sala, era humano.

– Sõjo ficará feliz em saber que não matou os guardas tengu – comentou, uma apatia cativante. Se ao menos pudesse lhe socar o estômago – Bem, o garoto provavelmente vai morrer esta noite, o com cara de limão azedo. – Eirmi. – Du Naao não era de falar muito, mas conseguiu fazer insultos calorosos a sua pessoa. O outro vai sobreviver, mas você conseguiu fazer um belo estrago. – Elawan revirou os olhos. Nidaly apenas ouvia atentamente mantendo a cara fechada. Ela se esforçava para parecer desinteressada. – O pobre macho disse que você tinha assento no palácio de Sõjobõ, se é que dá para chamar aquilo de palácio, enfim, você era um membro de confiança e muito próxima ao rei, como ele falou mesmo? "Cadela (pra não dizer outra coisa) selvagem e traiçoeira que o rei alimentava da própria mesa" – O olhar de Nidaly caiu por terra. – Sõjo Sakebi também combina com essa descrição. Ele pode ser um príncipe no título, mas não vale nada. – O feérico afiou o olhar, um predador observando o que acreditava ser sua presa – Me diga, quanto você acha que está valendo?

     Mais que você, pensou.

– Dizem nas Montanhas Nebulosas que você matou o príncipe Cardiff e que foi por isso que a general Kara conseguiu tomar o trono de Awen. – Uma pitada de nojo recaiu sobre suas palavras.

      As sobrancelhas do macho se franziram enquanto a estudavam, a forma como tencionava os ombros, a mandíbula trincada, Nidaly venceu a rodada, ele estava claramente incomodado.

    Bufou.

– Também dizem que a rainha Kara luta tão bem que na verdade é um homem disfarçado, as pessoas contam a história mais conveniente para seus egos – retrucou – Tem razão, porém, quando diz que estamos em Awen, onde boatos não servem de evidência, quero dizer – Sorriu largamente – Você deixou o seu rei em sono profundo e ele ainda pode morrer segundo boatos, o que pelas nossas leis, requer punição imediata.

     Seu polegar correu pela garganta. Nidaly entendeu o recado. Por mais que se mantivesse impassível como fora treinada, não pode evitar engolir seco.

       Elawan pareceu ler seus pensamentos, captar a tensão enquanto ela se esforçava para respirar normalmente. Prosseguiu:

– Não gosto de coisas tão inconsistentes como palavras, entende? O tengu mais cedo disse que levaria você de volta às Montanhas Nebulosas e esperava minha colaboração, o que eu de fato disse que ia fazer quando o Sõjo me enviou uma mensagem – segredou.

      Nidaly não forçou surpresa.

      Elawan sentou-se na mesa que os separava pousando a mão sobre a perna.

Entre Damas e EspadasWhere stories live. Discover now