Capítulo 27

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Sal se lembrava da noite em que foram contatados pela Red Eyed Demon Records como se fosse ontem. Larry não conseguia. Mas Sal sim.

“Tivemos um agente que veio até nós depois do nosso primeiro grande show.  Lembro-me de como... você cheirava a cerveja. E graxa. Meu Deus, você estava nojento. Eu também estava nojento. Todos nós estávamos grudentos. Mas de qualquer maneira, esse cara veio até nós. Ele estava de terno e nós dois entramos em pânico porque achávamos que estávamos em apuros porque podemos ter quebrado um microfone e não ter contado a ninguém. Mas não. Ele era um agente. Ele queria que falássemos pelo Skype com seu chefe. E então falamos pelo Skype com Red no dia seguinte.”

“Qual foi a minha reação? Para isso?" Larry perguntou, sentado em sua cadeira de rodas perto da porta.

Sal sorriu. "Você me levantou e me girou e não dormiu a noite toda porque estava muito nervoso."

Larry estendeu a mão esquerda e empurrou a maçaneta que movia a cadeira de rodas motorizada para frente. Ele foi até a cama onde Sal estava sentado. “E-então eu era super gay. Entendi."

Isso fez os dois rirem. Ash, que estava sentada em um canto em uma poltrona macia, jogou uma revista em Larry. “Não gay. Você era estúpido. Não se esqueça de que ele tropeçou totalmente nas escadas do local.”

“Na frente dos fãs.” Todd acrescentou da cadeira ao lado de Ashley. Seus pés balançando. "E do agente."

Ele riu e afastou o cabelo curto do rosto. "Então, eu só sou realmente estúpido-o."

Ash concordou. “E nada mudou.”

"E então todos nós falamos juntos com ele no Skype. Todos os cinco. E fomos contratados naquele exato momento. Ele nos fez cantar alguns compassos para ele no Skype e Todd foi totalmente melhor do que nós dois na hora. Mas nós  conseguimos arrasar ou algo assim. Porque, caramba. Fomos contratados."

Todd cutucou os sapatos de Ash. "Contratados, selados, entregues."

"Bem nos braços de um demônio!" Ashley fez grandes movimentos exagerados com os braços. Todos eles riram quando ela torceu o rosto em uma expressão bestial.

Eram momentos como esse em que eles podiam esquecer que ainda estavam no hospital.

Algumas semanas se passaram desde que Larry acordou. A fisioterapia havia começado. E era um pesadelo. Larry mal conseguia ficar de pé, quanto mais andar curtas distâncias. Sua mão direita havia sumido para sempre. Entorpecida, inutilizável. Mal era capaz de fazer seu dedo mindinho se contrair. Sua gagueira permaneceu. E seus pulmões estavam muito, muito fracos. Sal e Lisa já haviam começado a terapia da memória também, desesperados para tentar consertar algo apenas para tentar fazer Larry se sentir uma pessoa novamente. Ele não iria admitir ou falar sobre isso, mas estava com um medo do caramba. E ele estava frustrado. E lívido.

Mais do que lívido.

Ele estava puto.

Mas ele não diria uma única palavra sobre isso. E ele não ouviria nada sobre isso também. Ele só conseguia mostrar suas emoções durante a fisioterapia, onde gritava e chorava de frustração antes de jogar algo pequeno pela sala com a pouca força que tinha. Sal tentava fazer tudo ao seu alcance para continuar sorrindo e encorajando, evitando falar sobre a realidade por precaução. Mas nada ajudava a acalmar a raiva e a dor dentro de Larry.

As coisas iriam bem por algumas horas de cada vez. Ou talvez até um ou dois dias. Larry ficaria alegre. Ele seria sarcástico da melhor maneira que sabia. Ele zuaria e brincaria e era cooperativo com seus remédios e banhos assistidos. Mas bastava uma pequena palavra para provocá-lo e mudar tudo. 'Turnê'. ‘Paralisado’. 'Reabilitação'. 'Dano cerebral'. Qualquer coisa nesse sentido.

Nós Não Temos Que DançarWhere stories live. Discover now