𝑷𝒓𝒐𝒍𝒐𝒈𝒐

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— 𝐷𝑜𝑖𝑠 𝑎𝑛𝑜𝑠 𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠

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— 𝐷𝑜𝑖𝑠 𝑎𝑛𝑜𝑠 𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠...

Não.

Não, não pode ser.

Era ela, sempre foi ela. A razão pela qual eu existo... Ela tirou tudo de mim, tudo.

Ardilosa, impostora, hipócrita e maquiavélica. Maldita.

— Está tudo bem Joy, estou aqui. Você não precisa fazer tudo sozinha, podemos fazer isso juntos. A voz de Ben estava fraca, mansa, ansiando por minha resposta.

— Vá. Embora. — Não foi um pedido e meu tom soou mais duro do que pensei que soaria.

— Você pode por favor parar de andar enquanto estou falando com você? Vamos resolver isso, você não pode fugir sem ao menos me dizer o que aconteceu lá — exigiu ele, enquanto eu reduzia o ritmo da caminhada frenética.

Eu não sabia exatamente para onde estava indo, mas com certeza era para longe dali, da Cosmopolita Central, deles.

Respiro fundo, tentando conter minha inquietação. Então, digo com mais suavidade:

— Não estou fugindo, só estou... tirando um tempo para pensar no que fazer com... — As palavras se perderam em minha garganta antes de sequer serem pronunciadas.

— Joy, me conte o que aconteceu lá, por favor.

A súplica de Ben quase me convence, mas então me lembro de que preciso seguir meu plano. Não posso fraquejar, por mais tentador que seja desabar agora e desistir de tudo.

— Eu já disse que não foi nada. Com licença Ben, eu realmente tenho coisas a fazer.

Ele respirou forte, com determinação.

— Sério? Não é o que parece. Suas roupas estão imundas de terra, seu jeans está rasgado no joelho e seu braço tem um corte que está sangrando —  apontou ele, com um olhar cético.

Verifiquei meu braço e realmente estava sangrando, porém, talvez devido a adrenalina do momento, nem senti a ardência ou dor comum de cortes.

Droga!

— Quem fez isso com você, Joy — insistiu Ben, cada vez mais próximo.

— Eu... sinto muito, muito mesmo. Mas tenho algo a fazer e, juro que assim que eu voltar vou te contar tudo. Antes que você pergunte mais coisas, algumas respostas estão anotadas em um caderninho escondido dentro do tabuleiro de xadrez na minha estante — digo, já recuando para perto de um espelho.

— Não se atreva Joy... Começou ele, todavia não foi rápido o suficiente para me impedir de mergulhar no espelho.

Apenas sibilei "desculpa" uma última vez, antes de sua imagem desaparecer por completo.

•⌠♞❦♘⌡•

Estava chovendo quando finalmente chego ao Penhasco dos Espelhos, um lugar que funciona como um enorme portal para outras Realidades.

A estatua de pedra preta, que ficava logo na entrada, me observava com seu olhar melancólico de sempre, escorrendo água da chuva como se fossem lágrimas.

— Você realmente matou meu filho? — Indagou ela, sem demonstrar a preocupação das palavras em sua expressão facial, que beirava a plenitude.

Meus olhos rapidamente se encheram de lágrimas que conti com muito esforço pelas últimas horas. Agora, o peso de uma noite inteira em claro pareceu difícil de carregar.

— Você mentiu para o céu e o inferno, como esperava que eu adivinhasse que ele também não estava tentando me matar? — Admiti, sentindo o olhar frio daquela mulher me analisando.

Fecho meus olhos com força, tentando impedir as lágrimas de caírem.

Ela parecia assustadoramente calma, com a postura reta e os braços para trás.

— Você está com medo de... mim? — Ela riu com escárnio. — Ah, querida, deveria ter pensado nisso antes de começar a traçar seu joguinho de iniciante em meio ao meu jogo de lobos.

— Não. De você eu sinto repulsa, ódio talvez, mas medo não.

— Você me odeia tanto por inventar umas mentirinhas aqui e ali, sendo que é a maior mentirosa que eu já conhecia além de mim — confessou a mulher, caminhando em minha direção. O vestido preto longo arrastando pelo chão de cascalho como nanquim pincelado sobre um quadro.

Avanço alguns passos, meus pés afundando na lama. O cheiro de terra molhada se confundia com a sensação do prenuncio de que algo ruim estava por vir.

Fechei a mão em punhos, sentindo meu sangue fervilhando.

— Pois então esta será a única verdade que irei contar: como uma mulher ambiciosa perdeu o controle sobre o império que criou.

Ela pareceu mais séria, repentinamente.

— Suas últimas palavras, Joyce.

Sorrio com sarcasmo, inclinando a cabeça para trás e fechando os olhos.

—Que tal: "vou acabar com você".

Ela gargalhou.

— Não, acho que não. O cheque-mate já está praticamente feito. Alguém como você não pode me impedir de mais nada.

— É o que vamos ver — retruquei. Avanço em sua direção, sacando a adaga do coldre e investindo em um golpe.

Ela desvia e tenta um contra-ataque, bloqueando meu braço e atingindo meu abdômen.

Cambaleei.

Segurei seu pulso e consegui golpear sua cintura. Ela me encarou furiosa, lutando contra meus ataques seguintes.

Vi algo mudar em seu olhar; um sorriso presunçoso brotou em seus lábios.

Xeque-mate — disse ela, escancarando um doce sorriso.

Antes que eu cogitasse reagir, fui empurrada para dentro de um espelho. Atravessei-o depressa com o empurrão, vidro me engolindo por inteira.

Não. Não. Não.

A imagem da mulher ficou turva, um borrão distante que não consegui alcançar. Tentei agarrar qualquer coisa mas minhas mãos não seguraram nada. Senti minha cabeça pesar, minhas pálpebras se fecharem involuntariamente.

A escuridão tomou conta de mim, assumiu o controle de meus pensamentos e aos poucos apagou tudo que havia em minha mente.
Desligou-me da consciência e abandonou-me em uma lacuna em branco, um espaço vazio.

Um espaço vazio.

「𝐃𝐄𝐀𝐃𝐋𝐘 𝐌𝐈𝐑𝐑𝐎𝐑𝐒」⊰⊹ฺWhere stories live. Discover now