Cap. 1 - Benício Speltri

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[1 ano atrás]

[Touros - Natal RN]

— SE PREPARE! Minha vingança será maligna!

A frase proferida por Olívia ao telefone duas horas atrás tilintavam na mente de Benício como sinos infernais que traziam o presságio da morte. Estava perturbado e inquieto. Mesmo com anos de estudos sobre o comportamento humano, Olívia ainda permanecia um quebra-cabeças, talvez fosse isso o que fazia dela uma pessoa tão atraente. Ela era ciumenta, possessiva, mas ele não se atrevia alegar isso, Ai de mim! Só que agora ela tinha fotos, mas que diabo de fotos seriam essas?

Ele estava apoiado no parapeito da sacada do salão de festas do hotel, olhando para o mar, vendo no horizonte a cintilante lua, alheio a homenagem que era dedicada a sua falecida mãe, tomando - sabe-se lá - sua quinta dose de wisky, sozinho, brincando com a medalhinha de platina que ganhara da tia Elizabeth quando criança, enquanto analisava incessantemente em seus pensamentos sobre quais fotos seriam as que Olívia dizia ter e que o incriminavam como um traidor...

Tudo parecia vago.

Estava irritado. Na verdade não queria nem mesmo estar ali. Havia pego um turbulento voo de três horas e meia, que pareceram uma eternidade. O pior era que tudo isso era para prestigiar uma exposição que ressuscitaria demônios os quais gostaria de manter enterrados para sempre, porém, desagradar seu amado pai era a última coisa que queria.

— Você está lindo. – sussurrou tia Elizabeth ao tentar se aproximar. Ela vestia um lindo e ousado vestido branco que combinava perfeitamente com as maxi-joias talhadas com pedras preciosas e irreverentes. Suas vívidas madeixas vermelhas se encontravam presas em uma cascata lateral que caiam levemente até abaixo dos porcelanados ombros. Ela inspirava fundo o aroma das flores que ornavam o lugar, enquanto os convidados a interrompiam no trajeto e a enchiam de perguntas sobre as obras. Ela colhia os elogios com um enorme sorriso de satisfação nos perfeitos lábios vermelhos malagueta. Nos altos de seus cinquenta anos, ela era magnífica. A personificação de uma deusa nórdica.

Por um curto período de tempo, Benício se esqueceu dos problemas e se concentrou em admirar a beleza da tia. Admiração que herdara e compartilhava com seu pai, que do outro lado do salão, bem de longe, também a observava com a mesma expressão de adoração.

— Beni, cuidado que a baba está escorrendo! – disse Henri, seu primo em tom zombeteiro, ao sorrateiramente brotar do seu lado. Ele vestia um terno cinza, com uma elegante gravata listrada. Seus cabelos louro-escuros estavam penteados, coisa que raramente fazia. Naturalmente ele era o galã da família com sua pinta de surfista libertino.

— O que mais posso fazer se a tia Liz está linda, além de babar? – respondeu Benício, ainda admirado. Não adiantava respondê-lo de forma hostil, embora quisesse. Hostilidade só fomentaria a chacota.

— Não sei como a Olívia nunca descobriu sua paixão secreta pela tia Liz! É tão... Na cara! – ele estava se esmerando para aporrinhá-lo.

— É só um amorzinho platônico que conservo desde quando nasci. Bobagem. – desconversou.

— Ual! – disse Henri dando ênfase em cada letra. Enquanto puxava o maço de cigarros do bolso acendendo um logo em seguida. – aceita?

— Você sabe que não curto essas porcarias e você deveria parar com isso. Isso mata.

— Pronto! Brotou o paladino da saúde! Claro que não! E o que eu usaria para afirmar meu posto de bad boy? Isso é sexy sabia?

— Se seu "bad boy" se resume a fumar um cigarro, digamos que você está bem "aquém" da minha possibilidade de ser o cara mau da história.

Terra Proibida - EssênciaWhere stories live. Discover now