Cap. 22 - O Centro do Universo

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Santiago Del Toro

Era bastante incomum um vampiro ter gastrite, mas a ansiedade era tanta que Santiago sentia o estômago revirando em mil dobras apenas em pensar no encontro que teria com Diego.

Andava de um lado a outro, ensaiava as falas e apertava entre os dedos o token que Elizabeth havia lhe dado para conseguir entrar na Fazenda das Almas - já que ela também era a dona das terras -, com ordens expressas de que fizesse as pazes com o irmão, o que desejava muito que fosse possível, se não tivesse errado de formas tão gritantes.

O token, um bispo de xadrez marfim, guiou seu teletransporte para dentro do escritório do irmão ao atravessar uma porta. Respirou fundo e olhou bem ao redor sentindo uma pressão enorme só por estar ali.

Obviamente não era bem vindo.

Constatou, também, que o escritório realmente combinava com Diego. Uma biblioteca enorme com cinco andares e várias fileiras de prateleiras repletas de livros e pergaminhos, iluminada pela luz natural que entrava por uma clarabóia em mosaico. Na mesa de trabalho onde o irmão provavelmente ocupava a maior parte do dia, uma caneta tinteiro e papéis artesanais faziam contraponto a um computador de última geração. Do outro lado, um confortável sofá em couro preto com almofadas sobre um tapete persa, poltronas assinadas por algum designer famoso, um violão escorado em uma delas e sobre a mesinha de centro rústica feita de um tronco de madeira, estava o tabuleiro de xadrez.

Sentou-se no sofá, observou por alguns segundos o tabuleiro e completou com o bispo que trazia nas mãos. Mordeu os lábio inferior e moveu um dos peões, dando início a partida. Diego se materializou na poltrona à sua frente, taciturno e indiferente. O silêncio pairou por longos minutos até que o anfitrião finalmente movimentou outra peça do tabuleiro.

- Há quanto tempo não jogamos? - A voz de Santiago quebrava a quietude.
- A última vez, comigo foi há mais de quarenta anos. Já com o Benício, não sei. - Respondeu Diego enquanto aguardava seu movimento, completamente absorvido pela partida.
- Com ele, devo ter jogado ano passado. Ele prefere jogos eletrônicos. Como você está?

Diego começou a rir e antes da resposta, moveu um cavalo.

- Santinho... - rosnou - o que diabos te traz aqui?
- Saudade do meu melhor amigo.
- Bastava você ter conjurado o Henri para a sua casa, assim me poupava o desgaste.
- Você é o meu melhor amigo. - enfatizou.

Ambos evitavam se olhar nos olhos. Santiago ponderou por um instante que a estratégia de jogo e a ironia em relação ao Henri eram puramente de Benício. Será que uma personalidade já aderiu a outra?

- Ah, jura? Se eu sendo o seu melhor amigo você fez o que fez, imagino se não fosse.
- Diego, eu estou tentando me redimir!
- Será mesmo? - Podia ouvir os ossos de Diego estalarem enquanto ele alongava o pescoço à sua frente.
- Olha, eu te devo minhas sinceras desculpas. Embora eu não tenha conseguido evitar o que aconteceu entre a Liz e eu mas...
- Eu não te culpo por ter se apaixonado pela Liz, embora me doa bastante, porque eu sei muito bem os motivos que a levaram a estar com você hoje. - as palavras de Diego eram cortantes. Moveu outra peça do jogo. - Mas me trair como líder, envenenar parte do meu povo contra mim e arquitetar uma forma de me matar em conjunto com os meus piores inimigos, tudo por causa de ciumes de uma pessoa pela qual nunca senti absolutamente nada, isso sim eleva o meu ódio em uma escala sem precedentes.
- O que posso fazer para que você me perdoe?
- Humm... Ainda temos uma aposta em curso, lembra?
- Que aposta?
- Que memória curta essa sua, Santinho!

Diego tocou a mão de Santiago e transmitiu o exato momento onde fizeram uma aposta sobre Raul, onde caso ele vendesse a alma, Diego poderia usufruir de um ano da vitalidade do irmão para o que quisesse e caso o jovem não vendesse, Santiago ficaria com as alma do Coronel e de Isadora, assim como seus todos os seus bens.

Terra Proibida - EssênciaWhere stories live. Discover now