[45 anos atrás] Seus pensamentos

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Diego Del Toro

Seu ódio era frio.

Calculado.

Muito bem cultivado.

E cada ação que tomaria dali pra frente foi milimetricamente pensada para causar uma dor eterna a todos os que estavam envolvidos na tortura da maldita bruxa.

Sua maldita bruxa.

Agora, como e quando Elizabeth tinha se tornado sua bruxa, - ou quando ele havia se tornado propriedade dela - não saberia dizer de forma precisa. A mente de Diego era composta por tantas camadas, que certamente uma delas tinha se dedicado exclusivamente a ela, e nesse tipo de situação, essa camada se sobrepunha às demais em uma intensidade tão aterradora que sua razão era incapaz de dominar.

Isso porque o dia tinha começado tão... tranquilo.

Estava sossegado em casa, cultivando seu ingrato bonsai milenar do fruto ancestral, ouvindo em último volume um disco do Led Zeppelin, virando whisky como se fosse água e sendo minuciosamente observado pelos seus pets quando uma pedrada o atingiu certeira bem na cabeça.

Um fio de seu sangue escorreu.

Quem quer que fosse, tinha que ter muito culhão para interromper seu transe "cultivador" logo com uma maldita pedrada.

Muito puto, levantou-se de seu banquinho, tirou as luvas de jardinagem e pegou o bilhete que vinha amarrado na pedra.

"Preciso de sua ajuda URGENTE! Vendo minha alma.

Por favor, não me ignore.

Assinado: Sophia Lobo"

Pra quem tava com ranço de mim ao ponto de terminar o contrato, voltou atrás rápido demais.

Pensou em ignorar a loba. Agora que estava de férias, poderia ser pirracento todo o tanto que quisesse, mas estava curioso para saber como Sophia tinha conseguido furar o bloqueio dimensional de sua propriedade.

Materializou-se na cozinha do bordel, envolto na cenográfica fumaça, vestindo apenas sua confortável samba-canção vermelha que, inclusive, adorava. O ambiente era bem a moda da década de 70, a geladeira azul calcinha, armários numa tonalidade amarela, azulejos floridos e chão avermelhado expressavam bem a ideia "pós moderna" trazida pelos filmes de Hollywood e tendência nas revistas da época.

Com cara de poucos amigos, ao visualizar Sophia, revirou os olhos expressando o sentimento de um irmão mais velho ao se deparar com os mimos de uma irmã mais nova no perfeito clima de "o que é dessa vez? Não era você que tava com ranço de mim?".

Sophia estava encostada na pia segurando uma adaga, com um grimório muito antigo ao lado, pronta para tentar qualquer outro tipo de invocação.

Seja breve. - disse Diego, já indo até a mesa e se servindo de um cafezinho, como se estivesse em casa. - Não sou um gênio da lâmpada para atender seus desejos quando bem quiser, até porque, estou muitíssimo ocupado.

Claro, mas eu não tenho outra opção, Diego! - A loba começou a chorar compulsivamente.- por tudo o que é mais sagrado, por favor, me ajuda! Eu te dou a minha alma!

Notou uma movimentação estranha na casa, ouviu Madá desesperada tentando arrebentar a porta de um dos quartos e logo percebeu que faltava alguém ali.

Onde está a bruxa? - perguntou ele em tom sério.

Se entregou para que Madá e Raul conseguissem fugir sem serem vistos.

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