Cap. 16 - Versões de uma mulher

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[Dias atuais]

Diego Del Toro

No crepúsculo e em um úmido quarto de hotel barato, um ruidoso ventilador de teto juntamente com o cantar dum galo, avisavam-no que o sol em breve apontaria no horizonte.

Acordou um pouco perdido e procurando por Elizabeth ao seu lado, mas logo que percebeu estar no controle, mesmo contrariado por estar sozinho e em uma cama pequena, um sorriso tomou seu rosto. Se levantou um pouco desajeitado e com dor no lugar onde havia sido baleado. Olhou pra cama ao lado e viu Wallace dormindo ruidosamente. Preferiu não o incomodar, já que daria a ele bastante trabalho, então era justo que descansasse bastante.

Instintivamente pegou um objeto desconhecido na mesa de cabeceira, por que estou fazendo isso? olhou a tela e viu escrito "5h00", que apetrecho estranho para ver as horas... um relógio de pulso não era mais prático? Enfiou o item no bolso junto com um maço de cigarros, mastigou três comprimidos para dor e foi até o banheiro, verificou no espelho a ferida e com um pouco de dificuldade trocou o curativo. Até que o Hórus fez um bom trabalho, achei que a cicatriz ia ficar parecendo um cu, mas olha... me surpreendeu. Lavou e verificou minuciosamente o rosto. Pegou uma camiseta limpa dentro da bolsa que Isauro tinha deixado em uma mala dentro do carro e decidiu dar uma volta.

Enquanto caminhava pelas ruas da pequena cidade ao nascer do sol, Diego revisitava os acontecimentos da madrugada. Embora não conseguisse acessar plenamente seus poderes, conseguiu projetar-se nos sonhos de sua amada. Sentia uma falta absurda de Elizabeth e, se pudesse, se materializaria naquele exato momento na cama dela, mas nem tudo eram flores, não pôde permanecer mais que meia hora fora do corpo. Estava selado.

Identificou por conta própria quatro selos. O primeiro, tinha a função de protegê-lo e estava rachado, por isso estava conseguindo assumir o controle do corpo por um tempo maior. O segundo e o terceiro, também apresentavam ranhuras. Eles bloqueavam a magia e a memória de Benício, que por tabela parcialmente o afetava, pois sua memória como Diego estava intacta, porém não conseguiria acessar livremente as memórias do outro e vice-versa o dividindo em dois, Quer dizer que Santiago e Liz trabalharam juntos? Pra quem odiava a minha bruxa, ele anda amiguinho demais, filho da puta. Já o último selo, bloqueava seus sentimentos. Claramente tinha sido colocado por Liz e sabia exatamente o por quê. Tinha também uma magia diferente, uma âncora, mas essa não conseguiu identificar a autoria. E pra variar um encantamento.

Das poucas vezes que conseguiu emergir por um tempo um maior, Benício ainda era adoldescente e geralmente acontecia quando estava sob uso de algum medicamento ou bêbado. Minha bruxa safada que o diga, lembrou com um sorrisinho diabólico no rosto. Acendeu um cigarro, deu um forte trago, soltou a fumaça pro alto, onde será que acho um café nessa cidade? E porquê preciso tanto de um café agora?

Achou uma padaria aberta, pediu um café e por sorte, sabia que era encostar o objeto esquisito que tinha no bolso no caixa que estava tudo certo. Sentou em uma mesa e seu olhar logo se fixou em um garotinho de aproximadamente dez anos sentado em uma outra mesa, atento a um objeto parecido ao dele. O que será que tem de tão interessante nessa coisa? De soslaio, se aproximou do menino.

— Oi! Que tipo de jogo é esse? — perguntou curioso.

— Ahh, é só corrida. — respondeu o menino entediado.

— Como que eu coloco um desse no meu? — mostrou ao menino o aparelho. Os olhinhos do menino brilharam.

— Assim, ó tio...

Encostou levemente na mão do garoto ao entregar o item esquisito e em poucos segundos absorveu tudo o que precisava saber sobre o celular que tinha. Crianças são fascinantes. Por sorte, a habilidade de absorver conhecimentos específicos de alguém ainda estava intacta, entretanto, sentia-se ligeiramente decepcionado pelos carros ainda não voarem como nos Jetsons, robôs humanóides ainda não estarem na moda, mas por outro lado felicíssimo que a inteligência artificial era finalmente acessível.

Terra Proibida - EssênciaWhere stories live. Discover now