Cap.4 - A medalha

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Olívia! Por favor, não joga na piscina! – implorava Benício. – por favor! Não!

Olívia, em uma expressão desafiadora, jogou a medalhinha de platina que Benício havia ganhado de tia Elizabeth em uma piscina um tanto quanto surreal. Embora sentisse em seu peito que daquelas águas poderia não mais voltar, não hesitou, lançando-se então no turvo infinito de águas vermelhas, "não posso perder meu amuleto!". Quando finalmente tocou a medalha, podia sentir milhares de mãos o puxando para o fundo e enquanto tentava emergir para a luz, a viscosidade do líquido abraçava sua pele. Um nítido som de prantos invadia sua mente, e por mais que se debatesse contra as forças que o puxava para o fundo, sabia que não adiantava lutar. "eu não vou me entregar, resistirei sempre!"

Luz.

Tudo era perturbadoramente branco. "acorda cara, acorda! Isso é só mais um maldito pesadelo!" e em um forte estampido capaz de quebrar qualquer vidro, Beni voltava ao seu quarto.

Abriu os olhos assustado, levantando-se cambaleante. Transpirava e sentia um aroma do qual não gostava pairando no ar. "quem ousa fumar no meu quarto?" Olhou para a janela e viu a mesma luz perturbadora de segundos atrás, porém o interior do quarto jazia em verdadeira treva. Sem conseguir enxergar muito, vislumbrou uma silhueta masculina sentada a uma poltrona que ficava alojada em um dos cantos do quarto. Estava de volta ao onirismo.

— Quem é você? – perguntou Beni ao estranho

— Pergunta errada, meu caro e ilustre Benício Speltri. – disse o outro, saindo do emaranhado das sombras, a fumaça do charuto que trazia consigo exalava forte. – eu sou o que sou e quem eu sou, agora – enfatizava cada palavra – você tem ideia de quem você é?

Estavam um de frente ao outro se medindo. A semelhança física era assombrosa, entretanto paravam por aí. Beni mal o conhecia, mas já odiava o jeito sarcástico, a entonação da voz e a forma de olhar de seu semelhante.

— Não somos iguais! – disse Beni imprimindo desdém em sua voz.

— É óbvio que não somos iguais! – respondeu o estranho sorrindo – eu sou o seu... – Segurava o ombro de Beni com uma das mãos e cravando logo em seguida a outra em seu peito acertando-lhe o coração. – pior pesadelo.

A dor era descomunal, sentia cada dedo daquele infame apertando seu órgão vital. Beni sabia que aquilo era um pesadelo continuado, mas a dor era bastante real.

— Eu... – sua voz se atrapalhava em meio o sangue que lhes subia pela garganta – vou... sobreviver a isso!

— Tenho certeza que vai! – com um leve sorriso de canto e um olhar dissimulado, o estranho torceu intensamente o peito de Beni arrancando-lhe o coração, empurrando despreocupadamente seu corpo na cama.

De olhos bem abertos, Benício via o estranho sugando o sangue de seu coração restando apenas o vazio em seu peito o trazendo de volta a realidade em uma súbita espiral.

Eram sete horas da manhã.

O relógio na mesa de cabeceira despertava escandaloso, ligado em uma rádio local que dava notícias do trânsito em meio a músicas. Era o escape. Benicio mal abriu os olhos e eles já foram à procura de Olívia e para sua agonia estava sozinho "merda!". Sentia-se exausto, procurou pelo celular que tristemente estava sem bateria. "posso arquivar esse pesadelo depois, esse não foi do tipo o qual me esquecerei facilmente."

Preguiçosamente dirigiu-se ao banheiro, se apoiando no tampo de granito que sustentava a pia, analisando-se metodicamente no espelho "quem é você?". A medalhinha de platina que ganhara de tia Liz permanecia intacta em seu pescoço.

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