Cap. 14 - Presente de grego

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Alguns deles querem te usar

Alguns deles querem ser usados por você

Alguns deles querem abusar de você

Alguns deles querem ser abusados

[Sweet Dreams]


Uma calma assustadora.

No presídio, o silêncio tomava lugar onde o barulho era comum.

Ao verem Benício ser escoltado até a solitária naquela manhã, os detentos não sabiam se estavam diante de um homem ou um macabro serial killer.

Os carcereiros tentavam fazer com que ele abaixasse a cabeça, porém, erguido ele continuava. Os cacetetes com os quais o batiam pareciam não surtir efeito algum naquela pele. A sua volta era tomada por uma energia sombria, pesada e todos os homens sentiram a atmosfera mais densa, como presságio de que novas mortes estavam por vir caso não cessassem as investidas contra ele.

Não havia humanidade em seu olhar.

Ao ser interrogado pelos policiais que investigavam o caso naquela manhã, sobre o porquê da chacina que protagonizou, Benício respondeu apenas:

— Eu precisava dar motivos reais a vocês para me manterem aqui. Eu não matei a Olívia, mas posso dizer com propriedade que matei cada um daqueles homens. O porquê? - um sorriso sarcástico e olhos aparentemente vitrificados encarando o nada - Perguntem ao meu advogado.

Na solitária, completamente isolado, aquele foi o melhor sono que Benício teve em anos.

Dormiu todo o tanto que pode.

Diego não estava lá, era como se nunca houvesse existido e qualquer sentimento de culpa era substituído por "antes eles, do que eu".

Benício também podia ser cruel quando necessário, esse era seu traço tóxico. Traço que seu pai administrou perfeitamente quando era criança e que agora corria solto. Embora estivesse preso, sentia-se estranhamente livre. De qualquer forma, para ele, sua vida já tinha sido arruinada, o que fizesse ou deixasse de fazer não mudaria nada. Tinha plena consciência de que tinha lascado com todo o trabalho de Henri. Mas o que podia fazer? Era matar ou morrer. Dessa vez queria ver o quão bom o primo era como advogado. Afinal, tudo não passou da mais pura legítima defesa e cabia a ele provar.

Mas... e se não desse certo? E se outra ameaça surgisse? E se nunca mais voltasse a ser livre? e se? E se... Eram tantos "e se's" que Benício sentia o desespero voltar a cada possibilidade que imaginava. Nunca pensou que, algum dia, sentiria falta de Diego e seu humor sombrio.

— Queria só ver se você ia conseguir mesmo me tirar daqui em cinco minutos, grande Diego Del Toro. - falou para o nada, dentro da solitária.

Sentia não só falta de Diego, mas também de um gravador. Dessa vez, pensou ele, não mais pesadelos, mas terror concreto. Cogitou como seria a sua nova fase de gravações e suas nomenclaturas, organizou mentalmente os "capítulos" e ao se dedicar a essa ideia, todo desconforto e desespero foram sumindo.

Quando cansou de organizar as ideias, lhe veio à mente que era importante colocar o físico em dia, pois quando saísse dali, sabe-se lá quantas pessoas teria que matar? Tinha certeza que agora, muita gente o queria morto.

Esse pensamento o assustou. Mas não o limitou. Algo em seu íntimo estava sedento por vingança e certamente começaria por Isadora, pois, nem ele, que era alvo do ciúmes de Olívia, tinha motivos para matá-la ou vontade de querê-la morta, então, porque cargas d'água, Isadora a matou? Não teria sido mais irritante fazer com que a rival se sentisse ignorada?

Terra Proibida - EssênciaWhere stories live. Discover now