Cap. 3 - Anita Stier

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Desde o advento da fotografia, Anita era declaradamente apaixonada por essa arte. Quando Diego lhe dera a sua primeira câmera, ficara tão fascinada que era capaz de se isolar por meses para fotografar e revelar suas imagens. Diante da modernidade atual, mesmo com todo o seu aparato digital, ela ainda gostava de preservar suas raízes, as câmeras analógicas agora conhecidas como vintages.

Era céu de brigadeiro, crianças correndo pelo parque da cidade, pessoas felizes passeando com seus cachorros, namorados namorando, borboletas voando e ipês floridos. Um solitário e interessante dia para se eternizar. As cores do cerrado eram impressionantes e desde que chegara a Brasília não tinha parado para observar a beleza do lugar ou mesmo refletir sobre a poderosa força que a atraíra até ali. Era como se o tivesse por perto outra vez. Sentia segurança, uma emanação de força, poder. As coisas voltavam a ter cor.

Fazia um mês que decidira morar naquela cidade. Encontrou um trabalho legal como arquiteta e designer de interiores, um bom apartamento, um gato de estimação e uma namorada. Júlia era o que Anita chamava de espírito livre, independente e voluntariosa, uma mulher negra cor de chocolate e olhos de mel, ousada e linda. Encantaram-se uma com a outra de primeira. Entretanto algo estava estranho entre as duas havia pouco mais de uma semana. Desde fatídico dia das fotos.

— Acho controverso você ser lésbica e ter uma foto enooorme das costas de um homem nu na parede do seu quarto. – argumentou Júlia, com o olhar vidrado na imagem. 

— Não me rotulo como lésbica, eu sou bissexual

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— Não me rotulo como lésbica, eu sou bissexual. – respondeu Anita delicadamente, sentindo que havia algo errado, soltando sua voz como um sussurro, sutil ao ponto de parecer lhe faltara o ar. – e no mais, esse não é um homem qualquer.

— Não... não me parece mesmo – Júlia examinava com bastante atenção a foto. – tem mais fotos desse ensaio pra eu ver? Gostei da disposição da luz... me conte, como você fez?

— Bem... quer mesmo ver? – hesitou. - Não vai ficar com ciúmes?

— Vou ter motivos?

— Isso depende. Mas já aviso que é um caso passado, não há com o quê se preocupar.

— Então vamos lá! Mostre-me!

Anita entrou no closet e saiu dele com uma enorme caixa de madeira rústica nas mãos. A depositou com todo cuidado na cama, abrindo com toda uma espécie de ritual. O álbum que havia dentro estava muito bem guardado envolto a um veludo negro. Julia se adiantou e pegou logo uma pequena caixa que estava ao lado do álbum, e ficou estarrecida quando viu filmes fotográficos dentro.

— São fotos analógicas?

— Sim – Anita observava o olhar incrédulo de Júlia elevando os filmes fotográficos à luz. – e reveladas por mim.

— Você estudou a técnica?

— Claro. – disse com um doce e sedutor sorriso. – levo meus hobbies muito a sério.

Terra Proibida - EssênciaWhere stories live. Discover now