Cap. 12 - Despertar

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Benício Speltri

Ele estava deitado em um campo de girassóis. Protegia o rosto da luz com uma das mãos enquanto acariciava as madeixas vermelhas da garota que o abraçava. Um sorriso se desenhou em seus lábios e se permitiu enfiar o nariz naqueles cabelos.

- O quê você tá fazendo? - perguntou a garota rindo.

- Sei lá, quero guardar esse cheiro na memória.

A garota se afastou um pouco a modo de encará-lo.

LIZ?

Ela se levantou e estendeu a mão para que ele se erguesse. Quando Benício foi na intenção de segurá-la sentiu algo prendendo o seu braço. Puxou um pouco mais forte a fim de se soltar, mas nada. Uma sensação espiral fazia a luz praticamente cegar seus olhos.

- Ele recobrou a consciência... - dizia alguém afastando a lanterna de seus olhos.

Foi quando entendeu que estava deitado na cama de um hospital. Uma enfermeira checava o soro e fazia anotações em um tablet. Um estampido em seu ouvido fez com que tentasse levantar as mãos na tentativa de se proteger do som, mas uma delas estava presa por uma algema na lateral da cama.

Mas que caralho é isso?

Rapidamente a memória dos acontecimentos da "noite anterior" vieram a lume. Uma sensação de torpor o tomou por completo. Seus sentidos estavam alerta, precisava fugir dali.

Tentou visualizar a porta e percebeu um vulto à sua espreita. O médico e algumas outras pessoas conversavam algo que ele não conseguia assimilar. Piscou e sacudiu a cabeça algumas vezes tentando recuperar os sentidos, quando percebeu ele se aproximar da cama, se esgueirando para conseguir ler o prontuário médico, de braços cruzados. O outro erguia uma das sobrancelhas enquanto esboçava um sorriso de deboche. Quando finalmente se encararam, Diego fez o sinal de silêncio e saiu pela porta que estava entreaberta.

Desespero era a palavra que definia Benício. Ele tinha que fugir dali. Ele tinha que acordar, era só mais um pesadelo.

Tinha que ser só um pesadelo.

Já era perturbador demais encontrá-lo nos pesadelos, não estava pronto para lidar com ele acordado.

Sentiu uma dolorosa picada no braço. Esmaeceu enquanto caía na cama.


Henri Speltri

Quisera Henri ter sono para poder despertar. Desde o dia do acidente do primo trabalhava exaustivamente sem parar. Por um segundo desejou ter uma equipe jurídica maior, além da secretária e ele mesmo, mas lembrou do inferno que era trabalhar como advogado na empresa da tia e em outros escritórios que já teve a infelicidade de passar, que a ideia logo foi descartada.

O diabo mora nos detalhes - Lembrou-se do ditado favorito do pai.

Revisou tudo sobre a cena do crime, provas, testemunhas. Releu inúmeras vezes os autos, debruçou em estratégias, mas algo era estranho, como em um país onde o que dita a culpa e inocência é a capacidade financeira do acusado, ele não estava conseguindo resolver essas questões de forma rápida e indolor?

Outra coisa estranha era o sumiço do Hórus. Queria fazer uma investigação particular sobre o caso e seu hacker favorito era uma peça importante.

Se pelo menos o Beni deixasse de fazer cosplay de bela adormecida e acordasse logo?

Ouviu o barulho da campainha tocar, e desprezando toda a zona que seu apartamento se encontrava, foi abrir a porta, certo que era só mais uma entrega do aliexpress, quando deu de cara com Júlia.

Terra Proibida - EssênciaWhere stories live. Discover now