Capítulo 9

42 9 114
                                    

Eu me apoiei sobre os papeis e disquei o número da minha amiga no celular

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Eu me apoiei sobre os papeis e disquei o número da minha amiga no celular. Eu só precisava ouvir a voz de Fernanda.

Eu não poderia falar com ela, pois saber que ela nunca iria me reconhecer, me matava por dentro.

Coloquei o celular no ouvido e todo aquele tum-tum-tum que antecedia à alguém atender uma ligação, estava me fazendo suar. Todavia, no momento em que eu achei que não haveria retorno algum naquela chamada, Fernanda atendeu.

A sua voz tão doce soou tão triste, que me foi como um soco no estômago.

Como eu faria para me aproximar dela? Eu sentia mais do que tudo que eu precisava fazer aquilo.

― Oi? ― ela perguntou, daquele jeito inseguro dela. ― Tem alguém aí do outro lado da linha?

Eu desliguei. Eu ainda não tinha o que dizer para ela. Afinal, o que eu poderia dizer? “Oi, Fernanda, sou eu, Carina, só que agora em um corpo de garoto”?

O mínimo que eu faria era deixá-la com medo e chateada, ao pensar que estava sendo perseguida por um louco.

No entanto, para sentir que estava menos estranho, afixei o seu número em minha nova agenda telefônica e simplesmente fiquei olhando para o visor, muito reflexivo.

Contudo, em um momento estrondoso, a minha porta se escancarou e uma mulher morena e alta entrou por ali.

Ela parecia muito nervosa e como sempre em minha nova situação, eu não tinha ideia de quem era ela.

― Por que não atende mais os meus telefonemas? ― ela gritou e logo veio para cima de mim.

Naquele momento eu pensei que a minha empresa não tinha organização, pois qualquer pessoa entrava na sala do chefe, sem nem se anunciar.

Eu me levantei e antes que pudesse pensar em algo que eu pudesse falar, Isis e Diego também surgiram dentro da minha sala.

Os dois foram para cima da mulher, que parecia pronta para me bater. No entanto, com o histórico que o antigo Lucas tinha, eu não duvidava nada que isso acontecesse muito mais vezes.

― Cosette! ― Diego disse, já se mostrando bastante raivoso. ― Esse é um ambiente de trabalho. Vá embora!

― Desculpe, senhor ― disse Isis. ― Nós não conseguimos deter ela.

Aquela então era a famosa Cosette. Então agora só me restava saber qual era a ligação dela comigo.

― Não pense que vai sair sem falar comigo depois de ir para a festa da empresa com aquela vadia da Manoela! ― ela gritou e então eu me recordei que aquele outro nome era o que havia aparecido no visor do meu celular, ainda pela manhã. Eu estava era muito ferrado! ― E nem adianta se esconder em uma cidade interiorana de outro estado.

A mulher parecia esbravejar e com a sua raiva, conseguia se esquivar de Diego e Isis.

― Você teve a sua chance, Cosette! ― gritou o meu amigo.

― Tudo o que eu fiz foi para chamar a sua atenção, Lucas! ― ela dizia claramente e eu não tive nem coragem de falar. Eu estava em meio a tantos barracos que eu não sabia a procedência, que eu não tinha nem o que inventar. ― Eu saí com aquele cara só para você ver que eu não sou de se jogar fora… eu só queria que você visse que eu não sou mulher de casinho!

― E com isso só provou que é uma vagabunda! ― respondeu Diego, curto e grosso. ― O Lucas não tem que te dar satisfação. Ele pode sair com a Manoela ou com quem ele quiser.

Eu continuava calado, sem saber o que dizer. Eu apenas espremia o celular nas mãos e simplesmente pensava que até alguns segundos antes, eu estava ouvindo a calmaria que era a voz de Fernanda, mas que em compensação, naquele momento, eu tinha que me focar na confusão que não tinha como acabar menos do que mal.

― O que tanto tem nesse seu celular aí? ― Cosette perguntou irritada e então como uma fera com as suas unhas muito grandes, arrancou o aparelho das minhas mãos. Ela olhou para a tela e logo eu pensei em um grande “não”. ― Fernanda, hein? Parece que esse número não é daqui, o que me leva a crer que foi isso o que você foi fazer nessa viagem… ― ela berrou. ― Foi procurar um rabo de saia novo? ― A mulher continuava a segurar o celular nas mãos. ― Bateu o carro por que não conseguiu fazer tudo o que queria com essa tal?

― Não fale assim dela! ― eu respondi, em um ato de fúria. ― Eu não tive caso algum. E nem tenho que te explicar nada!

Eu me aproximei e tentei arrancar o celular dela, mas Cosette me chutou com o seu salto-agulha.

Eu me contorci de dor e a Isis logo veio para o meu lado, mas eu a dispensei.

No entanto, nesse momento, Cosette já estava com o celular no ouvido, e eu sabia o que ela iria fazer, e então me xinguei em pensamentos por ter o descuido de ter armazenado o número da Fernanda ali.

Em meio segundo eu percebi que não tinha nada que eu pudesse fazer.

― Escute aqui, Fernanda, sua vadia: ― gritou Cosette ― esse homem já tem dona. Tire os olhos do Lucas, ou então eu vou aí nesse lixo em que você mora e te arrebento toda!

Eu queria me conter, mas não consegui. Arranquei o aparelho das mãos de Cosette e a empurrei em cima de Diego, que a segurou. Eu estava fervendo de ódio. Ela acabava de insultar a Fernanda e ainda por cima, tinha a desfaçatez de chamar a minha cidade natal de lixo.

Aquela mulher só podia ser obra do demônio e eu queria distância dela.

― Não volte aqui nunca mais! ― eu disse, berrando com ela. ― Se voltar a dar um chilique desses ou mexer no que não deve, eu chamarei a polícia para você!

― Isso é o que vamos ver! ― ela disse, com seu ar de superior. ― Ninguém faz Cosette de burra, entendeu?

Ela me encarou com um pingo de maldade no olhar, e logo eu engoli a seco, temendo por Fernanda.

Aquela mulher não sabia quem a minha amiga era, mas eu temia que Cosette conseguisse descobrir, dado que Realejo era uma cidade muito pequena.

Depois que ela saiu, a Isis logo entendeu o recado e sumiu também. Então além do meu desespero, a única pessoa que ficou ali foi o Diego, com o seu olhar questionador e o seu cabelo ruivo.

Eu sabia que ele era inteligente o bastante para saber que nada estava no lugar.

― Você está apaixonado, não é Lucas? ― ele perguntou sério. ― Você conheceu essa garota em Realejo e se apaixonou por ela, não foi? É por isso que está tão diferente e sofreu aquele acidente?

Não era nada daquilo, mas também não havia nem uma maneira lógica de eu explicar o que realmente havia acontecido.

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.
Verdade Invisível - A Chance Para Uma Nova Vida - (Finalista Wattys 2023)Where stories live. Discover now