Capítulo 43 (Coraline)

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∞ Uma Narrativa de Coraline ∞

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∞ Uma Narrativa de Coraline ∞

Eu estava trancada em uma caverna com o Diego e não estava tão preocupada com isso, tanto quanto ele.

Eu estava preocupada com o Lucas e com a Fernanda, então encarei o meu companheiro de cárcere e notei uma pequena ruga surgir em sua testa.

Aquilo me deu esperança de que ele talvez ainda gostasse de mim; mesmo depois de tanta burrice, de ambas as partes.

― Diego... ― eu resolvi chamá-lo.

Eu sabia que ele talvez não quisesse conversar comigo, mas eu ainda tinha algo para falar. Diego lançou os seus olhos claros sobre mim e o calor que emanava deles, quase me derreteu.

Eu ainda o amava, por igual.

― Eu preciso muito te falar uma coisa... ― eu falei, ao ver que ele me analisava, mas não tencionava conversar comigo.

Eu estava com medo, pois as rachaduras sobre a minha armadura falsa, começavam a aparecer.

― Diga logo, Coraline! ― ele me incitou, ainda me encarando.

― Eu nunca fiz um aborto ― eu jorrei aquelas palavras, tudo de uma vez. ― Eu nem nunca estive grávida, mas apenas falei aquilo, pois sabia que seria a única maneira de lhe fazer sangrar, assim como eu sangrei ao ver que não se recordava do que tinha acontecido entre nós, na nossa noite de amor.

O Diego continuou me encarando. Ele suspirou e pelos seus olhos, eu vi passar sentimentos como alívio, mágoa, tristeza e também incerteza.

― Isso não é verdade, Coraline! ― Diego disse e abaixou a cabeça. ― Eu sangrei a vida inteira, tendo que fingir e tentar incorporar algo que, na realidade, eu não queria para mim. Eu sangrei quando todo mundo achava que era muito fácil para mim ser um cafajeste, mas que no fundo, quando eu chegava na minha casa depois de ficar com uma garota qualquer, eu me sentia muito vazio; quase um caco. ― Ele me olhava agora e eu congelei. Os seus olhos estavam quentes, assim como o fogo. ― Eu sangrei tanto por te querer a vida toda e ter que me afastar. Eu sabia que no dia em que eu colocasse as minhas mãos em você, uma desgraça logo aconteceria, Coraline. Afinal, eu sou amaldiçoado e foi para evitar uma dor como a que sentimos agora, que eu tanto impliquei com você! ― Ele reprimiu os lábios, aparentando angústia. ― Eu tentei provar para mim que eu não podia gostar de você, mas eu não fui forte. E o desejo me venceu no final.

― Você não pode tentar mudar o que sente, assim ― eu disse, querendo muito chorar. ― Você não é amaldiçoado, Diego! E a dor da culpa não é por causa do seu sentimento por mim, mas sim, pelo seu medo de se entregar.

O Diego balançou a cabeça em negação. Os cabelos ruivos dele dançaram com a brisa que vinha do mar, lá na frente, vinda da abertura da gruta.

― Fico feliz que tenha me contado a verdade, Coraline ― Diego disse. ― É muito bom que não tenha tirado a vida de uma criança. Apesar de que eu estive tão atordoado este tempo todo, pelo simples fato de não querer acreditar nisso, mesmo depois de ouvir da sua boca, que você seria capaz de tal ato hediondo; e ainda mais sabendo o quanto isso me feriria.

― E eu não sou! ― eu disse, começando a chorar. Eu queria tanto tocar em Diego, mas eu estava acorrentada, então a angústia me tomava o peito completamente, pois eu não sabia se voltaríamos a nos tocar um dia. ― A única coisa que eu quero é que você abra a porta da sua vida para mim. Me deixa ser a sua família, por favor, Diego!

O Diego me encarou com intensidade. Eu sabia que ele queria, mas havia uma tristeza ali e ao vê-lo vagar os olhos pela caverna, eu então soube que não era por medo de que as coisas acabassem como acabaram para os seus pais, mas sim, porque ele acreditava que não sairíamos mais dali.

― Nós vamos sair! ― eu bradei.

Eu então comecei a forçar as amarras do meu braço, mas elas só fizeram me ferir.

― Não faça isso! ― Diego disse e então tentou me tocar, em um esforço inútil. E como eu queria que ele me tocasse! ― Eu te amo! ― ele gritou, como se estivesse esperando anos para se deixar libertar do sufoco de guardar aquelas palavras dentro da alma.

― Eu te amo também, Diego! ― eu disse e então estiquei a minha perna e toquei o joelho dele, com o meu pé.

Era bom sentir o crepitar das nossas peles juntas, mesmo que fosse algo tão restrito. Mas aquilo me lembrava de que ele era real e estava ali comigo.

O Diego se esticou e as nossas peles se tocaram um pouco mais. E ficamos ali amarrados, tentando buscar força na parte diminuta um do outro, que se encontrava em uma conexão simples de peles, mas que já era o bastante para não nos deixar desistir e morrer ali, tão próximos da praia.

 E ficamos ali amarrados, tentando buscar força na parte diminuta um do outro, que se encontrava em uma conexão simples de peles, mas que já era o bastante para não nos deixar desistir e morrer ali, tão próximos da praia

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Verdade Invisível - A Chance Para Uma Nova Vida - (Finalista Wattys 2023)Where stories live. Discover now