FINALISTA WATTYS 2022 e 2023
Como seria acordar e não estar mais em seu próprio corpo e ainda por cima, tendo a certeza de que nunca poderá voltar?
Carina Acco sentiu a sua vida se esvair, no entanto, ela ainda estava viva, mesmo que o seu coração j...
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∞ Uma Narrativa de Fernanda ∞
Quando eu cheguei em Realejo, senti o meu coração bater forte, mas ao mesmo tempo, uma sensação de frialdade mórbida me cercou.
Eu sentia que perder o Lucas, seria me perder também de alguma forma, então decidi que não poderia deixar aquilo acontecer.
Nem que fosse a minha vida pela dele!
Ao descer do táxi que havia me levado até o centro da pequena cidade, eu pensei em ir logo para casa e resgatar o livro do meio dos meus tesouros. Eu achava que me demoraria no meu lar, pois sendo filha única, os meus pais não deixariam passar despercebido o brilho triste e cansado dos meus olhos.
No entanto, foi o Bruno quem me impediu de buscar a salvação de Lucas, sem me demorar. Ele parou na minha frente, assim que me viu. Parecia encarnado e obcecado. E foi olhando para aqueles olhos, que eu percebi que eu não me sentia em casa mais com nada e nem com mais ninguém, ali de Realejo.
A minha casa era o Lucas e a sua família.
Aquela era a minha verdadeira família.
Ao ver que eu não lhe falaria nada, o Bruno segurou em meu braço e eu o olhei e falei, com rispidez:
― O que você quer? ― eu perguntei, tentando me soltar e seguir adiante.
― O que aconteceu com você? ― o Bruno perguntou e eu vi que ele estava curioso e desesperado. Eu era a ovelhinha que ele não havia conseguido pastorear. ― Voltou para Realejo? Não deu certo com aquele sujeitinho?
O modo com que o Bruno falava, me deu vontade de esbofeteá-lo, mas eu me lembrei de que não tinha tempo para perder.
― Não ― eu disse, incisiva. Eu encarava o Bruno e pude ver que ele notava a minha mudança. Com o Lucas eu havia me tornado mais forte. ― Eu não voltei. E nem nunca vou voltar. E eu e o Lucas demos mais certo do que o sol e o mar.
― Então o que faz aqui? ― ele perguntou, tentando me puxar para perto.
Eu estava pronta para atacá-lo com as unhas, se fosse necessário.
― Eu vim ver os meus pais, oras ― eu menti.
O Bruno suspirou e resmungou, ao ver o meu desprezo por ele. O rapaz me encarou com intensidade, depois de algum momento de pensamentos.
― Você se entregou mesmo para ele, não é? ― o Bruno parecia me farejar e eu não gostava nada daquilo.
― Sim, Bruno ― eu disse, dando as costas, já que ele havia me soltado. ― E há muito mais do Lucas em mim do que você sequer imagina.
E assim eu parti rumo à minha casa. Eu sabia que a partir dali, o Bruno nunca mais me procuraria. Eu não era mais uma virgenzinha para ele poder desvirtuar. E era disso que ele gostava, na verdade. E era somente isso o que ele queria.
